Sanders pede apoio na quebra de patentes para a produção de vacinas
“Hoje estou enviando uma carta ao governo de Joe Biden pedindo apoio a uma proposta de renúncia aos direitos de propriedade intelectual relacionados à vacina contra a Covid-19 na Organização Mundial do Comércio, para que possamos expandir rapidamente o fornecimento de vacinas”, informou o senador democrata Bernie Sanders.
Há um movimento crescente para que, diante da gravidade da pandemia, as patentes sejam suspensas para permitir a difusão mais rápida possível do fabrico de vacinas, única forma de deter o morticínio causado pela pandemia.
Esse plano também conta com o apoio de dezenas de outras nações e do diretor da Organização Mundial da Saúde, Dr. Tedros Adhanom Ghebreyesus. Trump é o único ex-presidente vivo que não aparece apoiando a proposta, que também não encontra receptividade pelo governo Bolsonaro.
A Índia e a África do Sul têm trabalhado há tempos por essa renúncia na Organização Mundial do Comércio, mas vários países ocidentais, incluindo os Estados Unidos, a bloquearam repetidamente.
“Precisamos do mesmo acesso a ferramentas que salvam vidas em todos os lugares se quisermos acabar com a pandemia”, tuitou Tedros. “Se você não pode emitir uma isenção temporária às patentes agora, durante estes tempos sem precedentes, quando chegará o momento certo?”, inquiriu.
Para o senador, as empresas norte-americanas que fabricam vacinas contra a Covid-19 valorizam as patentes mais que as pessoas. “É inconcebível que, em meio a uma crise global de saúde, as multimilionárias empresas farmacêuticas continuem priorizando os lucros, protegendo seus monopólios e aumentando os preços em vez de priorizar a vida das pessoas em todos os lugares”, afirmou o senador pelo Partido Democrata em um vídeo no YouTube.
Ele acrescenta que, em vez de proteger as patentes de suas vacinas, as multinacionais Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson deveriam compartilhar seus conhecimentos com países e empresas mais pobres, mostrando que isso aceleraria a produção de vacinas em todo o mundo, e ajudaria a acabar com a pandemia mais rapidamente.
No entanto, apesar da gravidade da pandemia a disputa em torno das patentes segue acirrada. Para a Câmara de Comércio dos Estados Unidos “as propostas de renúncia aos direitos de propriedade intelectual são erradas e uma distração do trabalho real de fortalecer as cadeias de abastecimento e ajudar os países a adquirir, distribuir e administrar vacinas a bilhões de cidadãos do mundo”. A entidade ainda usou o argumento de que “a diminuição dos direitos de propriedade intelectual tornaria difícil desenvolver e distribuir rapidamente vacinas ou tratamentos em futuras pandemias que o mundo enfrentará”.
Para deixar mais clara a oposição à proposta de priorizar a vida e não o lucro, a Pharmaceutical Research and Manufacturers of America, que faz lobby para as empresas farmacêuticas, escreveu sua própria carta ao presidente Biden sublinhando que: “A proposta marca uma escalada significativa no ativismo global contra a propriedade intelectual e polarizará ainda mais as conversas legítimas sobre o compromisso dos países em combater a pandemia”.
O senador Sanders qualificou esses argumentos como gananciosos e míopes, observando que os contribuintes americanos pagaram em grande medida pela pesquisa que permitiu que essas empresas criassem suas vacinas.
“Todas as pessoas deveriam se beneficiar, não apenas alguns CEOs e acionistas que já são obscenamente ricos no país mais rico do mundo”, declarou, insistindo que “precisamos de uma vacina para as pessoas, não uma vacina para o lucro.”
Os comentários de Sanders acontecem quando o Conselho da OMC está se reunindo para discutir a proposta esta semana.