Russia Today é censurada na Alemanha por criticar EUA
“Não há justificativa” para tirar do ar o canal em alemão da RT [Russia Today], afirmou o aclamado cineasta sérvio Emir Kusturica, após autoridades alemãs terem proibido a transmissão via satélite e ordenado a uma operadora de satélites europeia que levasse a cabo a censura.
A perseguição à RT atingiu o “nível do absurdo”, assinalou Kusturica. A posição de Berlin não reflete “os sentimentos do povo”, disse o cineasta, acrescentando que os telespectadores comuns parecem estar muito interessados no conteúdo que a RT oferece.
Para o cineasta, a RT “está pagando porque não doura a realidade “, não foge de apresentar os ângulos difíceis como faz outras mídias “que apresentam um estilo Hollywood”, a narrativa dos EUA.
“A liberdade de imprensa não existe mais”, disse o cineasta, acrescentando que hoje em dia tudo se resume a “ideologia”.
O cineasta elogiou a RT por mostrar a vida de pessoas em várias partes do mundo.
Para Kusturica, os governos ocidentais gostariam muito de censurar a RT, pois ela questiona sua própria narrativa cuidadosamente construída, que nem sempre reflete a realidade.
“No mundo após a década de 1990 que nos trouxe bombas na Sérvia … eles querem que a verdade seja uma mentira e uma mentira seja a verdade”, disse o cineasta, acrescentando que a RT está “abrindo as janelas através das quais as pessoas podem ver” o que a vida realmente é.
Outras emissoras estão apenas transmitindo a narrativa e as políticas das elites, acredita Kusturica. “O mercado esmagou a democracia” há muito tempo, disse o cineasta, acrescentando que, agora, as elites querem que as pessoas apenas “consumam as notícias como mercadorias”, permitindo-lhes moldar as opiniões das pessoas como acharem adequado.
Kusturica nasceu em Sarajevo, na Iugoslávia. Logo em sua estreia como diretor de cinema com Você Se Lembra de Dolly Bell? (1981), foi premiado com quatro troféus no Festival de Veneza. Em 1985, ganhou a Palma de Ouro do Festival de Cannes, com o filme Quando Papai Saiu em Viagem de Negócios. Em 1994, conseguiu uma nova Palma de Ouro para o seu filme Underground.
Imagine-se o alarido que a mídia ocidental estaria fazendo caso Moscou proibisse a transmissão da BBC, que é uma emissora pública inglesa.
Mas é sob essa alegação – de ser estatal – que as autoridades alemãs primeiro proibiram a transmissão da RT em alemão (RT DE), depois pressionaram Luxemburgo a não conceder uma licença e, depois, quando a Rússia conseguiu uma licença de transmissão na Sérvia para transmissão em mais de 30 países europeus, incluindo a Alemanha, voltou a aplicar a censura, o silenciamento.
Na sexta-feira passada, o regulador de mídia alemão MABB (Medienanstalt Berlin-Brandenburg) apresentou acusações contra a RT DE. A RT foi notificada sobre o processo poucas horas depois que o presidente do ERGA, Tobias Schmid – um cidadão alemão e ex-executivo da emissora RTL local – chamou a RT DE de um “incômodo” que precisa ser “cuidado”.
Conquanto parte do conteúdo da RT DE é criado em uma redação em Berlim, a verdadeira sede do canal é em Moscou, onde todas as decisões editoriais são tomadas. A redação de Berlim produz alguns dos programas, mas não os transmite – portanto, não pode ser processada como irradiadora.
Tanto Belgrado quanto Berlim são signatários da Convenção Europeia de Televisão Transfronteiriça (ECTT). A Alemanha ratificou o tratado em 1991, enquanto a Sérvia é parte dele desde 2010.
O Artigo 4 do ECTT diz que todas as partes “devem garantir a liberdade de recepção e não restringir a retransmissão em seus territórios de serviços de programa que cumpram os termos desta Convenção”.
A remoção do Eutelsat é apenas o mais recente de uma série de movimentos por parte das autoridades alemãs contra a RT em alemão. No início deste ano, o Commerzbank da Alemanha fechou repentinamente a conta da produtora afiliada à RT Alemanha sem explicação. Em setembro, o YouTube excluiu a conta da RT DE citando supostas violações das ‘diretrizes da comunidade’. Na semana passada, o Google excluiu o canal RT auf Sendung (RT On Air), rotulando-o de tentativa de contornar a proibição anterior.
Em Moscou, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavro, advertiu que o Kremlin pode em breve perder a paciência com o assédio à mídia russa no exterior, que se sucede há anos. Ele citou o exemplo do novo canal em alemão da RT, que foi banido do YouTube na semana passada, e que a Eutelsat, uma grande operadora de satélite, foi forçada a abandonar na quarta-feira por ordem das autoridades alemãs.
Lavrov disse que os reguladores estrangeiros estão tentando pintar a RT “da pior luz possível” e alegou que esta é apenas uma parte de uma campanha anti-Rússia coordenada.
Os reguladores “provavelmente vão apontar novamente o dedo para a mídia social, o YouTube, e afirmar que esses grupos agiram por conta própria com base em seus próprios critérios e que o governo alemão não tem nada a ver com isso”, ele continuou.
“Mas é. Um estado em cujo território tais abusos ocorrem tem a responsabilidade de detê-los.”
Lavrov revelou que o Kremlin estuda impor restrições espelhadas aos meios de comunicação alemães que operam na Rússia. “Até recentemente, prevalecia a determinação de não seguir o mesmo caminho de estrangular a imprensa, estrangular a mídia, que nossos parceiros ocidentais tomaram. Mas, assim como com a segurança nacional russa, há um limite para a paciência”, destacou o ministro.