"Teremos que criar algo semelhante contra os que nos ameaçam" afirmou Putin, com o ministro da Defesa, Shoigu à esquerda

O presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que seu país responderá “simetricamente” ao possível posicionamento de armas de ataque na Ucrânia que ameacem Moscou.

“Se armas de ataque surgirem no território da Ucrânia que chegariam a Moscou em 7 a 10 minutos, e em 5 minutos no caso de armas hipersônicas (…), teremos que criar algo semelhante contra aqueles que nos ameaçam”, disse Putin na terça-feira (30) em um fórum econômico organizado por Moscou.

O presidente russo acrescentou que seu país já tem capacidade para neutralizar tais ameaças, que descreveu como uma “linha vermelha”.

Ele observou que a Rússia testou com sucesso uma versão naval de mísseis hipersônicos que ultrapassa nove vezes a velocidade do som, operacional a partir de 2022. “Esperamos que este extremo não seja alcançado. Esperamos que prevaleçam o bom senso e a responsabilidade”.

Anteriormente, Moscou advertiu contra os embarques de armas de ataque para a Ucrânia de parte dos EUA e Otan. O próprio ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitri Kuleba, se gabou dos mísseis guiados antitanque javelin entregues por Washington.

A Rússia tem advertido que esse envio de armas, parte das quais posicionadas na linha de separação no Donbass e ferindo os protocolos de Minsk, serve para açular o regime de Kiev a repetir a tentativa de uma solução militar para um problema que é iminentemente político: um país dividido ao meio, a existência de um enorme setor da população que rechaça o governo colaboracionista saído do golpe de 2014 e a anexação à Otan. E que não admite o fascismo nem a perseguição aos falantes de russo.

Na semana passada, Moscou reagiu como “inadmissível” à declaração do secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, ameaçando deslocar armas nucleares “mais a leste” – isto é, mais perto da fronteira com a Rússia, caso a Alemanha aplique a resolução de 2010 de seu parlamento pela retirada das bombas nucleares norte-americanas do território alemão.

Na segunda-feira, o presidente ucraniano Volodimyr Zelensky apresentou ao parlamento projeto de lei que autoriza a entrada de unidades armadas estrangeiras na Ucrânia em 2022 para participar de manobras militares.

Putin também repudiou as provocações de parte dos EUA/Otan nas fronteiras russas. “A Rússia está preocupada que exercícios militares em grande escala estejam ocorrendo perto de suas fronteiras, alguns dos quais não foram planejados, como aconteceu recentemente no Mar Negro”, disse Putin.

O presidente relembrou as manobras no Mar Negro e especificou que nelas os bombardeiros voaram a apenas 20 quilômetros da fronteira russa. Segundo Putin, há armas de alta precisão a bordo desses aviões e a presença de armas nucleares não pode ser descartada.

Segundo o ministro da defesa russo, Sergei Shoigu, em uma semana foram 10 incursões, vindas de leste e de oeste, em que os bombardeiros estratégicos dos EUA ensaiaram um ataque nuclear à Rússia.

“Por que foi necessário estender a OTAN às nossas fronteiras? Para que fins? Alguém pode responder a essa pergunta? Não existe uma resposta sensata, simplesmente não existe”, sublinhou o chefe de Estado russo.

Enquanto realizava sua marcha para leste – nach Osten, se dizia nos ‘bons tempos’ – a Otan sempre culpou a Rússia por protestar. O que se agravou quando – na véspera da terceira onda de expansão da Otan – o governo colorido da Geórgia,

Cáucaso, ex-república soviética, tentou passar com tropas treinadas e orientadas pelos norte-americanos e israelenses por cima das forças de paz russas estacionadas em duas regiões autônomas, (Ossétia do Sul e Abkházia) e foram corridas. Ao fiasco, Washington passou a chamar de “ocupação russa” de “parte da Geórgia”.

A máquina de desinformação norte-americana voltou a bater com toda força na tecla da “ameaça russa” em 2014, no governo Obama, depois que a Crimeia por plebiscito – e de lavada – se reunificou à Rússia e o conflito armado estourou em Donbass, no mesmo processo de resistência ao golpe de fevereiro da CIA-neonazis da Praça Maidan.

O plebiscito acabou com o sonho da Otan de controlar o porto heróico de Sebastopol. O que na prática fecharia o Mediterrâneo aos russos, no processo em que o plano antimíssil de ataque nuclear de ‘decapitação’, tendo Moscou como alvo, na insana pretensão de vencer a guerra nuclear, passava centralmente pela frota de guerra norte-americana no Mediterrâneo.

Diante da pressão que Washington vem fazendo para incluir a China nas discussões estratégicas sobre paridade de armas nucleares, Putin observou que os EUA não estão preocupados com a modernização dos arsenais nucleares da França e do Reino Unido e questionou por que a Rússia precisaria se preocupar com o “crescente poder militar da China”.

O presidente russo lembrou que o Reino Unido e a França anunciaram a modernização de seus arsenais nucleares. “E daí, os Estados Unidos estão preocupados? Bem, não. Então, por que a Rússia deveria se preocupar com o crescente poder militar de seu vizinho, com o qual mantém um alto nível de relações interestatais?”, questionou.

Putin disse ainda que as sanções impostas à China são injustificadas e contraditórias. “Essas sanções e restrições são absolutamente injustificadas e até contraditórias no caso do direito internacional … A rivalidade cresce e está adquirindo um caráter ‘intragável’, e me refiro à criação da aliança entre a Austrália, o Reino Unido e os Estados Unidos [Aukus]”, acrescentou.

No fórum, Putin disse ainda que considerava importante “manter um diálogo sobre estabilidade estratégica com os Estados Unidos”. “Também mantemos esse diálogo com a República Popular da China, organizamos exercícios militares conjuntos regulares, trocamos delegações”. Ele sublinhou que as relações Rússia-China “são um importante fator de estabilidade no mundo”.

Lavrov

A desfaçatez com que Washington lança acusações contra a Rússia, ao mesmo tempo em que acelera as provocações, também foi salientado pelo ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov.

“Enfrentamos acusações sobre os exercícios das forças armadas russas, que a Rússia mantém em seu próprio território soberano, por países que estão transportando um grande número de tropas e equipamentos militares do outro lado do oceano em direção às nossas fronteiras”, disse o chefe da diplomacia russa.

As acusações e o fato de os Estados Unidos terem colocado bases militares ao redor da Rússia se tornaram algo “que qualquer estudante sabe”, acrescentou. “E, no entanto, essa histeria está constantemente sendo estimulada” sobre exercícios militares russos legítimos.

Para Lavrov, o esforço do Ocidente para preservar a qualquer custo sua hegemonia vai contra o curso objetivo da história. “Uma ordem mundial multipolar está sendo formulada”, ressaltou. A Rússia está pronta para buscar compromissos e provou repetidamente sua disposição para negociar, concluiu.