O representante da Rússia na ONU, Vassily Nebenzya, denunciou a intromissão dos EUA na Ucrânia

A sessão do Conselho de Segurança da ONU sobre a Ucrânia, que aconteceu a pedido dos EUA, é um exemplo de “diplomacia de megafone e promoção da histeria”, afirmou Vassily Nebenzya, representante permanente da Rússia nas Nações Unidas, durante a sessão, ocorrida na segunda-feira (31).

“Isso é não só uma intromissão inaceitável nos assuntos internos do nosso país, mas também uma tentativa de enganar a comunidade internacional sobre a situação na região e a causa das atuais tensões”, apontou, ressaltando que a Rússia tem negado repetidamente essas acusações, e que se trata de um “exemplo clássico da diplomacia de megafone, para consumo público”.

“Não pensamos que isso ajude a unir o Conselho. Pelo contrário, entendemos perfeitamente que o desejo de nossos colegas americanos de promover a histeria em torno de suas próprias declarações de uma suposta agressão russa em preparação, inclusive usando a tribuna do Conselho de Segurança, coloca nossos colegas no Conselho em uma situação extremamente desconfortável”, constatou.

Moscou nega as acusações por parte de países ocidentais, que afirmam desde 2021 que a Rússia pretende invadir a Ucrânia, afirmando que pretendem encobrir a militarização junto das fronteiras russas por parte dos próprios países da OTAN. Desde dezembro o Kremlin sugere reduzir as tensões com a retirada mútua de potencial de guerra nas proximidades entre a Rússia e a OTAN, o que implicaria um fim da expansão da Aliança Atlântica para o leste.

“Peço a todos os colegas que não deixem que a tribuna do Conselho de Segurança da ONU seja utilizada para a realização de manobras propagandísticas por nossos colegas ocidentais”, disse Nebenzya.

Durante a sessão, os Estados Unidos insistiram na acusação de que a Rússia concentra dezenas de milhares de tropas ao longo da fronteira entre a Bielorrússia e a Ucrânia para iniciar um ataque a Kiev. E, nesse sentido, após a reunião, a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, disse a repórteres que os Estados Unidos “convocaram esta reunião para permitir que os russos nos dessem uma explicação de quais são suas ações”. E completou que “não ouvimos muito disso”, mesmo com todas as informações expostas.

“À minha frente estão afirmações de altos responsáveis ucranianos sobre a ausência de uma ameaça por parte da Rússia, em particular o secretário do SBU [Serviço de Segurança da Ucrânia, na sigla em ucraniano], o ministro da Defesa, o próprio presidente [ucraniano Vladimir] Zelensky, que dizem claramente que não vêem a atividade [militar] que nos estão tentando impingir hoje. Estamos prontos para distribuir entre vocês [esses documentos]”, explicou o representante russo.

Por outro lado, o diplomata afirmou que Moscou e Kiev teriam continuado a conviver num “espírito de boa vizinhança e cooperação” não fosse o Ocidente, que “provocou e apoiou um golpe inconstitucional e sangrento em 2014” na Ucrânia. Nesse sentido, o representante russo ainda salientou que a situação atual representa mais uma tentativa de “abrir um fosso” entre os dois países.

“Só é possível resolver a situação se Kiev cumprir os acordos de Minsk, que preveem um diálogo direto com Donetsk e Lugansk. Se os colegas ocidentais pressionarem Kiev a sabotar os Acordos de Minsk, isso pode acabar da maneira mais desastrosa para a Ucrânia, porque ela se autodestruirá. A Rússia não tem nenhum papel nessa destruição”, notou Nebenzya.

“Este desdobramento de tropas russas em nosso próprio território está fazendo com que nossos colegas ocidentais e americanos digam que haverá uma ação militar planejada e até mesmo um ato de agressão… ocorreria em algumas semanas, se não em alguns dias. No entanto, não há evidências para confirmar que uma acusação tão séria acontecerá”, disse ele em comentários traduzidos na reunião.

“Estão quase pedindo isso, querem que aconteça. Eles estão esperando que isso aconteça, como se quisessem que suas palavras se tornem realidade. Isso apesar do fato de termos rejeitado consistentemente essas acusações. Apesar que nenhuma ameaça houve de uma invasão planejada da Ucrânia dos lábios de qualquer político russo ou figura pública durante todo esse período”, sublinhou Nebenzya.

Diálogo e negociações

Enquanto isso, a subsecretária da ONU, Rosemary DiCarlo, pediu às partes que evitem “retórica e ações provocativas” em relação à Ucrânia. “Não há alternativa ao diálogo quando se trata de resolver a situação em torno da Ucrânia”, acrescentou.

Durante a reunião, o representante da Ucrânia na ONU, Sergei Kislitsa, afirmou que seu país está pronto para retomar as negociações no formato da Normandia em todos os níveis. Ao mesmo tempo, ele enfatizou que a Ucrânia não abriga “intenções hostis” e não planeja realizar ações militares no Donbass ou na Crimeia.

Por seu lado, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, disse que as alegações sobre uma suposta “ameaça russa” são infundadas, sobretudo tendo em conta as palavras das autoridades ucranianas que indicam não haver sinais de tal uma ameaça. “Não queremos uma guerra. E não precisamos dela. E aqueles que a impõem, especialmente do Ocidente, estão perseguindo suas próprias falsidades egoístas”, assinalou.

O presidente da Ucrânia afirmou que no Ocidente se cria a impressão de que “amanhã” vai eclodir uma guerra no país e descartou que isso aconteça, lamentando que o pânico gerado esteja prejudicando a economia de seu país.