Rússia exige que EUA parem de interferir nos seus assuntos internos
O Ministério das Relações Exteriores da Rússia exigiu que os EUA parem de interferir nos assuntos internos de Moscou, após comentários descabidos do recém-empossado secretário de Estado, açulando com mentiras aglomerações antigoverno durante o domingo (31).
“O apoio à violação da lei pelo secretário de Estado, Antony Blinken, é mais uma confirmação do papel de Washington nos bastidores” , disse a chancelaria russa em comunicado .“A grosseira interferência dos EUA nos assuntos internos da Rússia é um fato comprovado, assim como a promoção de falsificações e apelos a protestos não-autorizados, por plataformas online controladas por Washington”, ressaltou.
No domingo passado, a Rússia já havia repudiado a ingerência da embaixada norte-americana em Moscou, que até divulgou roteiros e horários dos atos antigovernamentais, inclusive uma “marcha ao Kremlin”. Uma “coordenação” de tais atos foi verificado na Rússia, cujos roteiros sequer haviam sido tornados públicos pelos organizadores.
Neste domingo, a embaixada dos EUA na capital russa voltou a tuitar freneticamente em endosso aos “protestos”, e ainda acusou as autoridades russas de “prender ativistas, jornalistas e bloquear o centro de Moscou”, além de, cinicamente, “apelar” ao Estado russo para “cumprir suas obrigações internacionais na área de direitos humanos”.
É de se acompanhar se a herança trumpista de busca de hegemonia ao custo de fomento à guerra fria vai ser contida pelo novo governo democrata.
Depois do que se viu nos Estados Unidos no último ano, quando o enésimo linchamento de um negro desarmado, por um policial branco racista, e seu grito desesperado de “não consigo respirar”, desencadearam as maiores manifestações nos EUA desde a luta contra o apartheid e o racismo levada a cabo por Martin Luther King, é preciso muita arrogância e falta de compostura para pretender dar aulas de “direitos humanos” a quem quer que seja.
O Ministério das Relações Exteriores russo acusou ainda Washington de seguir o roteiro de um cenário criado pela RAND Corporation em 2019 como parte da estratégia de “contenção da Rússia”, via incitação de “protestos”.
No sábado, na véspera de voltar a interferir, o embaixador norte-americano John Sullivan alegou que o roteiro foi publicado para garantir a segurança dos cidadãos norte-americanos no país e chamou as ações da embaixada de “prática diplomática comum”.
Declaração que deve se referir àquele ditado, quase revogado recentemente, de que não há golpe nos EUA porque lá não tem embaixada norte-americana…
Imagine-se se a embaixada russa em Washington publicasse um roteiro das manifestações contra o linchamento do negro George Floyd no ano passado, ou da “marcha ao Capitólio” do início de janeiro, se a histeria antirrussa não estaria na estratosfera, como lembrou na semana passada a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova.
Os atos antigoverno foram convocados por apoiadores do blogueiro Alexei Navalny, que está preso por 30 dias por violar os termos da liberdade condicional de uma condenação, de 2013, por fraude e lavagem de dinheiro. Nesta terça-feira (2), irá ocorrer uma nova audiência sobre o caso.
Como haverá eleições parlamentares em setembro e também para 11 governos regionais, esses atos são tidos, ainda, como parte de uma ação voltada a tentar fazer com que o acolhimento aos EUA ganhe peso no país, sob o pretexto de combate à ‘corrupção’ e ao ‘autoritarismo’.
Para setores do Estado Profundo norte-americano, o caminho para barrar a ascensão da China passa, primeiro, por quebrar a Rússia renascida e potência nuclear de primeira linha.
Navalny é visto pelos círculos belicistas norte-americanos como um Guaidó russo à espera de uma oportunidade, ou, melhor, ainda, um Yeltsin redivivo, e por isso é alardeado por essa gente como “o principal líder oposicionista a Putin”.
Uma agência de notícias, ao falar dos atos antigovernamentais da semana passada, se animou tanto que exagerou chamando a senhora Navalny de “primeira-dama”…
Apesar de tentarem apresentar Navalny como um suposto campeão da luta contra o “autoritarismo de Putin” e pela “liberdade”, ele próprio se confessa um “fundamentalista de mercado” e já chamou os imigrantes muçulmanos das repúblicas ex-soviéticas de “baratas”, que devem ser esmagadas a chineladas … ou “tiros” – pondo à mostra todo seu racismo e xenofobia.
Ex-aluno da Universidade de Yale, nos EUA, tornou-se notório – antes de adotar a fantasia de ‘combatente anticorrupção’ – por participar e ser orador de marchas convocadas por fascistas russos adeptos do “Poder Branco”.
Até o partido neoliberal e pró-americano Yabloko, onde Navalny debutou no cenário político, o desligou por ser extremista demais.
Mais recentemente, tem sido denunciado como um operativo de serviços secretos estrangeiros, que andam possessos com o renascimento russo a partir de Putin – o que não estava nos seus planos. Sua “Fundação Anticorrupção” é financiada do exterior.
Para derrubarem o regime soviético, os elementos antissociais denunciavam que os comunistas eram “corruptos” e tinham “privilégios e dachas” e, quando no governo, privatizaram tudo que puderam, se locupletaram e devastaram e retalharam o grande país. Agora, tentam repetir a receita, contra Putin, e até inventaram um “palácio de inverno”, que não é de Putin, mas de um bilionário da construção civil. O filme foi fabricado com a participação de Navalny em um estúdio alemão alugado e pago por uma produtora norte-americana.
Navalny teve sua vida salva por uma equipe médica russa após adoecer em um voo doméstico, que fez um pouso de emergência. Depois foi levado à Alemanha, a pedido de sua família e com autorização do governo russo.
Lá, depois de nada ser encontrado no laboratório do hospital a que foi levado, um laboratório do exército alemão supostamente teria identificado um agente nervoso letal de grau militar, contrariamente aos exames realizados pelos médicos russos que o salvaram em Moscou. O governo alemão também se recusou a mostrar as supostas provas que diz ter, numa repetição do roteiro da novela Skripal na Inglaterra.
NORD STREAM 2
Miraculoso sobrevivente de um “agente nervoso letal de grau militar”, Navalny acusa a Rússia de tentar envenená-lo, fato que caiu como uma luva nas tentativas de Washington de vetar o gasoduto Nord Stream 2, para obrigar a Europa a comprar seu gás de fracking muito mais caro.
O Parlamento Europeu até aprovou uma moção favorável a deixar a obra inacabada, já descartada porém pelo governo de Berlim, que vai terminar os 75 quilômetros que faltam do megaprojeto junto com a Rússia.
‘Ativistas’ de Navalny se somaram aos ataques contra a Rússia, pedindo aos governos ocidentais que apliquem novas sanções contra Moscou.
Nos atos antigovernamentais de domingo, cerca de 2 mil pessoas foram detidas. Registrou-se uma diminuição geral no número de participantes em relação à semana anterior. Sete estações de metrô ficaram fechadas por algumas horas em Moscou. Embora a maioria dos atos tenha sido pacífica, houve confrontos com a tropa de choque.
Para o chefe do Conselho Presidencial da Rússia para o Desenvolvimento da Sociedade Civil e dos Direitos Humanos, Valery Fadeev, o que foi visto no domingo “não tem nada a ver com proteção de direitos ou luta por uma vida melhor”. Ele acrescentou que “o chamado dos ativistas para ir a Lubyanka, à Praça Staraya [ambos em Moscou], onde estão os prédios do FSB [Serviço Federal de Segurança], onde estão os prédios da administração presidencial, não passa de provocação”.