Rússia e EUA apontam prorrogação de tratado que limita arsenal nuclear
A Rússia saudou manifestação do governo Biden favoravelmente à prorrogação do tratado de limitação de armas nucleares START III, cuja extensão – considerada por Moscou como “prioridade máxima” – tinha sido sabotada por Trump. Faltam só duas semanas até que expire em 5 de fevereiro.
Na sexta-feira (22), a porta-voz da Casa Branca, Jennifer Psaki, chamou o tratado de “âncora de estabilidade estratégica” entre EUA e Rússia e confirmou que Washington pretende “buscar a prorrogação”.
“Posso confirmar que os Estados Unidos pretendem buscar a prorrogação do START III por cinco anos, conforme prevê o tratado. O presidente deixou claro há muito tempo que o tratado START III atende aos interesses da segurança nacional dos Estados Unidos”, disse Psaki.
Dois dias antes da posse de Biden, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, reiterou a convocação aos EUA pela “rápida e incondicional prorrogação” do Tratado START III.
“A prioridade mais importante é a situação absolutamente anormal na esfera do controle de armas”, disse Lavrov. “Ouvimos falar da intenção do governo Biden de retomar o diálogo sobre esta questão e tentar chegar a um acordo sobre a prorrogação do Tratado START antes que ele expire em 5 de fevereiro. Estamos esperando por propostas específicas, nossa posição é bem conhecida”.
O tratado foi negociado e assinado em 2010, pelos então presidentes Vladimir Medvedev e Barack Obama, de quem Biden era vice-presidente.
Pelo START III, cada parte só pode manter 1550 armas nucleares e 800 vetores de entrega (mísseis intercontinentais, mísseis disparados de submarino e bombardeiros estratégicos).
É o único tratado ainda em vigor da arquitetura de segurança contra a hecatombe nuclear, depois de sucessivos governos norte-americanos a terem desmontado peça por peça: Tratado antimíssil (W. Bush/2002) e Tratado de banimento de Armas Nucleares de Alcance Intermediário INF (Trump/2019). Trump também chegou a fazer ameaças sobre a retirada do tratado que proíbe a realização de testes de armas nucleares.
Agora, o lado russo aguarda mais detalhes sobre a proposta do governo Biden. Trump torpedeara a prorrogação por cinco anos, já prevista no tratado, exigindo cláusulas inaceitáveis. Num esforço pela renovação do START-3, Moscou chegou a propor a prorrogação por um ano sem pré-condições.
“Pela nossa parte, defendemos e continuamos a falar a favor da extensão do Tratado START, e desde as posições mais realistas. Consideramos possível prolongá-lo apenas na forma em que o acordo foi assinado e sem quaisquer condições prévias. Parece preferível uma prorrogação do prazo máximo de cinco anos estipulado no acordo”, disse o Ministério das Relações Exteriores da Rússia.
A porta-voz da Casa Branca disse, ainda, que a prorrogação do tratado parece ser um passo ainda mais lógico no contexto do “confronto nas relações com a Rússia” existente, por limitar o tamanho das forças nucleares.
A prorrogação também foi apoiada pelo porta-voz do Pentágono, John Kirby, que ressaltou que ela é benéfica aos interesses nacionais e à segurança dos Estados Unidos .
“Não podemos perder as ferramentas de inspeção profunda e notificação incluídas no tratado. Se o START III não for estendido rapidamente, isso enfraquecerá a compreensão dos Estados Unidos sobre as forças nucleares de longo alcance russas”, disse ele.
Kirby acrescentou que a extensão do START até 2026 dá aos dois países tempo e espaço para formar “novos mecanismos verificáveis de controle de armas”. E – conforme já saliento o lado russo -, para discutir a inclusão das novas armas, como os mísseis hipersônicos.
Além de ter acabado com o Tratado INF, o governo Trump também retirou o país do Tratado dos Céus Abertos, que permitia voos de monitoramento mútuos entre a Rússia, Estados Unidos e países da Otan. A Rússia foi forçada a deixar o tratado também, após fracasso em obter, dos restantes signatários, garantias efetivas de cumprimento da clausula de sigilo. Trump pressionou os países da Otan a entregarem ao Pentágono as fotos aéreas tiradas na Rússia.
Com a retirada dos EUA do Tratado INF – que proibia mísseis de alcance intermediário (entre 500 e 5000 km – e do Tratado de Céus Abertos, a Europa foi levada de volta à situação crítica de 30 anos atrás, com as capitais dos principais países a minutos do impacto de um míssil nuclear. Tudo isso só reforça, para as entidades pela paz do mundo inteiro, a urgência da prorrogação do Tratado START III.
Leonid Slutsky, o chefe do comitê de assuntos internacionais da Duma russa, disse que se as partes decidirem prolongar o acordo, os deputados russos estão prontos para “se juntar rapidamente à preparação do processo de ratificação no parlamento russo”.
Em paralelo, o governo Biden adotou medidas pautadas pela atmosfera anti-russa que permeia o establishment norte-americano, como ordenar novamente a ‘investigação’ sobre o suposto pagamento, por Moscou, ao Talibã, de uma recompensa por soldado norte-americano da ocupação morto.
Também foi reconduzida a uma posição de destaque no Departamento de Estado Victoria Nuland ‘Fuck The European Union’, que participou até presencialmente do golpe da CIA em Kiev em 2014, no famoso episódio da distribuição de rosquinhas aos nazistas e do telefonema de nomeação do primeiro-ministro dos golpistas.
A histeria prossegue com Hillary Clinton espalhando a fake news de que Trump teria “telefonado a Putin” durante o assalto ao Capitólio. Também foi anunciada uma investigação do Pentágono sobre suposto ataque cibernético aos EUA, de novo, “culpa dos russos”.