Rússia e China vão criar estruturas financeiras compartilhadas para que EUA não possa interferir

A Rússia e a China desenvolverão estruturas financeiras compartilhadas que lhes permitam aprofundar os laços econômicos de uma forma que países estrangeiros – leia-se os EUA – não possam interferir, anunciou o Kremlin na quarta-feira, após a cúpula por videoconferência entre os dois presidentes, Vladimir Putin e Xi Jinping.

A medida, segundo a RT, parece ser uma resposta às ameaças de sanções, emanadas de Washington, em meio a provocações nas fronteiras russas e suporte à sabotagem, por Kiev, dos protocolos de paz no Donbass. Uma das mais radicais delas, a de desconexão do sistema internacional de pagamentos com sede em Bruxelas, o SWIFT.

No dia anterior, agência de notícias Bloomberg havia sugerido que Washington poderia ter como alvo os principais bancos do país e até mesmo desconectar Moscou da rede SWIFT.

Por sua vez a subsecretária de Estado dos EUA, Victoria NulanEUAd, a musa da Praça Maidan, havia dito na semana passada que a Casa Branca, junto com várias nações da Europa Ocidental, estava pensando em isolar completamente Moscou do sistema financeiro global, caso as tropas russas ousassem invadir a Ucrânia.

Tanto a Rússia quanto a China já desenvolveram sistemas próprios de pagamento digitais e acredita-se que estejam trabalhando nos acordos e protocolos técnicos para operacionalizar essa operação conjunta.

Não é a primeira vez que Washington ameaça a Rússia de desconexão do sistema SWIFT, o que já fizeram, por exemplo, com o Irã.

Durante a cúpula virtual, Putin e Xi Jinping saudaram o aumento da participação das moedas nacionais em acordos mútuos e a expansão da cooperação para fornecer aos investidores russos e chineses acesso aos mercados de ações, segundo Yuri Ushakov, assessor de política externa de Putin .

Ushakov disse que “foi dada atenção especial à necessidade de intensificar os esforços para formar uma infraestrutura financeira independente para atender às operações comerciais entre a Rússia e a China”.

“Queremos dizer criar uma infraestrutura que não possa ser influenciada por terceiros países”, acrescentou o assessor do Kremlin.

No início deste ano, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, afirmara que Pequim e Washington “precisam abandonar o uso de sistemas de pagamentos internacionais controlados pelo Ocidente”.

Ele também denunciou os EUA por buscar “limitar as oportunidades de desenvolvimento tecnológico tanto da Federação Russa quanto da República Popular da China”.

No mesmo sentido, em novembro o chefe da gigante petrolífera estatal russa Rosneft, Igor Sechin, acusou Washington de manipular o dólar para promover seus próprios interesses e disse que a moeda estava perdendo seu apelo devido à política de flexibilização quantitativa do Federal Reserve dos EUA – essencialmente inundando a economia global com um excesso de oferta de dinheiro.

Também a mídia especializada tem registrado que a Rússia e a China cada vez mais procuram deixar de lado o dólar, e têm apostado no uso das suas próprias moedas para sustentar o crescente volume do comércio Moscou-Pequim, que alcançou em 10 meses US$ 123 bilhões.