Rússia e China anunciam patrulhas conjuntas por paz e segurança
O ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, e o seu homólogo chinês, Wei Fenghe, “manifestaram o interesse comum em intensificar exercícios militares estratégicos e patrulhas conjuntas da Rússia e da China”, anunciou o Ministério da Defesa russo.
“A China e a Rússia são parceiros estratégicos há muitos anos”, afirmou Shoigu e “hoje, perante crescentes perturbações geopolíticas e maior potencial de conflito em várias partes do mundo, o desenvolvimento desta interação é especialmente relevante.”
Como registrou o jornal Global Times, a reunião por videoconferência ocorreu na terça-feira (23), com Wei e Shoigu se comprometendo em aprofundar “a colaboração estratégica entre os dois exércitos em campos como exercícios estratégicos conjuntos e patrulhas para salvaguardar os interesses centrais de ambos os países e manter a paz e estabilidade regionais”.
“O camarada ministro [Shoigu] acabou de falar sobre ameaças militares e pressão dos EUA contra a Rússia. Os EUA também tomam tais ações contra a China. Concordo totalmente com suas avaliações”, disse Wei. Ele observou que a Rússia e a China celebraram este ano o 20º aniversário do Tratado de Boa Vizinhança e Cooperação Amigável.
“E estamos celebrando uma cooperação tremendamente frutífera em todas as áreas. Especialmente diante da frenética contenção e pressão dos EUA, China e Rússia estão unidas como uma grande montanha. Nossa amizade é inquebrantável”, sublinhou o ministro da defesa chinês.
“Juntos, combatemos o hegemonismo dos EUA e nos opomos ao falso multilateralismo e às novas formas de manifestação da Guerra Fria. Portanto, consideramos nossas relações como sendo melhores do que aliadas”, acrescentou Wei, segundo a agência TASS.
Na troca de pontos de vista, as duas partes concordaram em que a parceria estratégica abrangente da China e da Rússia de coordenação para uma nova era manteve o desenvolvimento em alto nível, com os dois exércitos desenvolvendo novos avanços em vários campos.
As forças aéreas dos dois países conduziram uma patrulha aérea estratégica conjunta na região da Ásia-Pacífico em 19 de novembro e sua primeira patrulha marítima conjunta em águas no Pacífico Ocidental foi realizada entre 17 e 23 de outubro. Um exercício estratégico conjunto também foi conduzido em agosto no noroeste da China.
EUA ensaia ataque nuclear
Na videoconferência, Shoigu advertiu que “estamos testemunhando um aumento considerável na atividade de bombardeiros estratégicos dos EUA perto das fronteiras russas. No mês passado, eles realizaram cerca de 30 voos para as fronteiras da Federação Russa, ou 2,5 vezes mais em comparação com o mesmo período do ano passado”.
As provocações foram mais longe. “Este mês, no decorrer do exercício Global Thunder do Comando Estratégico dos EUA, 10 bombardeiros estratégicos praticaram o emprego de armas nucleares contra a Rússia, na verdade simultaneamente, das direções oeste e leste. A distância mínima de nossa fronteira era de 20 km”, destacou Shoigu.
O desenvolvimento da interação entre a Rússia e a China é especialmente importante em meio à “intensificação da turbulência geopolítica e ao crescente potencial de conflito em várias regiões do mundo”, disse ele.
Uma condição vivida quase diariamente pela China, com as provocações de navios de guerra norte-americanos no Mar do Sul da China e no Estreito de Taiwan, sob o cínico pretexto de ‘direito de navegação’. Ao mesmo tempo em que a guerra midiática sobre Xinjiang, Hong Kong e a origem do coronavírus não para.
“A China e a Rússia são parceiros estratégicos há muitos anos. Hoje é especialmente vital desenvolver nossa interação nas condições de intensificação da turbulência geopolítica e do potencial de conflito crescente em várias regiões do mundo”, enfatizou Shoigu.
“Neste ambiente, a coordenação entre Rússia e China torna-se um fator de estabilização nos assuntos globais”, sustentou o ministro.
Diante dessa situação, a Rússia – e também a China – vêm avançando com os testes de mísseis hipersônicos e outros modernos sistemas de dissuasão.
Após a reunião Shoigu-Wei, o chefe do Estado Maior russo, general Valery Gerasimov, falou pelo telefone com o seu homólogo norte-americano, general Mark Milley.
Segundo o comunicado do Pentágono, “os líderes militares discutiram várias questões preocupantes relacionadas à segurança. O telefonema é uma continuação da comunicação entre os dois líderes para garantir a redução do risco e o desacordo operacional”.
Escalada
Nas últimas semanas, a Otan intensificou significativamente suas atividades militares no Mar Negro. Os EUA enviaram três navios de guerra para o Mar Negro e o Reino Unido anunciou que enviaria 600 soldados no caso de uma guerra estourar entre a Rússia e a Ucrânia. Washington enviou dois barcos da Guarda Costeira dos EUA para a marinha ucraniana na terça-feira.
Em paralelo, o secretário de Estado Antony Blinken tem incansavelmente alimentado a CNN, Bloomberg e outros grandes meios com boatos sobre a “ameaça russa” na Ucrânia. O chefe da inteligência do regime de Kiev, Kiril Budanov, asseverou que Moscou reunira “92 mil soldados” na fronteira, preparando um “ataque no final de janeiro”.
A declaração de Budanov foi classificada pelo chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, como “retórica belicista” e um sinal de que a Ucrânia, com o incentivo de Washington, está preparando uma “provocação” para levar o conflito a “uma fase quente”.
A CNN asseverou que o governo Biden debate o envio de conselheiros militares e mais armas. No início da semana, a agência de inteligência da Rússia comparou as tensões atuais no Mar Negro com as provocações da Georgia contra a Rússia em 2008.
Em fevereiro, o governo de Kiev aprovou um novo documento de estratégia, declarando sua determinação em “recuperar a Crimeia” – cuja população votou em massa em referendo pela reunificação com a Rússia e rechaço aos neonazis de Maidan -, assim como o Donbass, o leste da Ucrânia de ascendência russa, e explicitando sua negação a cumprir com os acordos de Minsk que assinou para uma solução pacífica e que não persiga os que falam em russo.
Em junho, o Reino Unido lançou uma grande provocação no Mar Negro , enviando um navio de guerra às águas territoriais russas na Crimeia, e teve de recuar após tiros de alerta russos.
Em meados de outubro, a Rússia encerrou sua missão de décadas junto a Otan em Bruxelas e fechou o escritório da aliança em Moscou.
Uma pequena rota de imigração, via a Bielorrússia, pela qual passaram 8 mil dos 160 mil imigrantes ilegais que tentam chegar à Alemanha, Inglaterra e França, foi inflamado pela mídia como uma “ameaça existencial” à União Europeia (de quase meio bilhão de habitantes) e ato de “guerra híbrida russa”.
Moscou negou que esteja planejando uma ofensiva contra Kiev, insistindo que “a movimentação de alguns de nossos equipamentos militares ou unidades do exército em todo o território da Federação Russa é assunto exclusivamente nosso”.
Para demonstrar que são os europeus que estão sendo coniventes com o desrespeito por Kiev dos protocolos que resolveriam a crise no Donbass, os russos publicaram as cartas trocadas com a Alemanha e a França a respeito.
Desinformação orquestrada
Na segunda-feira, a principal agência de inteligência estrangeira russa, a SVR, emitiu um comunicado acusando os EUA de orquestrar uma “campanha de desinformação” aumentando o risco de conflito.
Campanha que pinta “um quadro terrível de como hordas de tanques russos começarão a esmagar cidades ucranianas”, enquanto Washington usa canais diplomáticos para “compartilhar com seus aliados e parceiros informações absolutamente falsas sobre a concentração de forças em nosso território antes de uma invasão militar da Ucrânia.”
O Representante Adjunto da Rússia na ONU, Gennady Kuzmin, citando dados da missão especial da OSCE, disse que em apenas duas semanas o número de violações do regime de cessar-fogo no Donbass aumentou uma vez e meia: durante este tempo, o fogo foi aberto cerca de 6700 vezes. “Durante o período de 11 a 24 de outubro, os representantes da OSCE registraram que todas as destruições de casas, escolas e outras infra-estruturas civis ocorreram apenas no território das repúblicas do Donbass”.
Para Vladimir Shapovalov, vice-diretor do Instituto de História e Política da Universidade Estadual Pedagógica de Moscou, o fornecimento de armas modernas pelos países da OTAN às Forças Armadas da Ucrânia está levando o conflito em Donbass a um novo nível de tensão.
“Exercícios constantes da frota e da aviação da OTAN perto das fronteiras russas, por um lado, e por outro, a intensificação dos ataques ucranianos no Donbass. Tudo isso sugere que o Ocidente está açulando a Ucrânia para tomar medidas mais sérias e agressivas do que as que foram tomadas por Kiev até agora”, disse o especialista.
Em recente discurso, Putin disse “é imperativo pressionar por garantias sérias de longo prazo que garantam a segurança da Rússia nesta área, porque a Rússia não pode estar constantemente pensando sobre o que pode acontecer amanhã”. Nos últimos dias, tornou-se público que estão em curso preparativos para outra cúpula Biden-Putin, desta vez virtual. A anterior, presencial, ocorreu em junho.