Míssil de defesa anti-satélite lançado pela Rússia

O Ministério da Defesa da Rússia confirmou que conduziu um teste de míssil que atingiu e destruiu um satélite antigo e fora de operação um dia depois que o Departamento de Estado dos EUA acusou Moscou de ser “irresponsável” e “imprudente” e de pôr em risco “atividades pacíficas no espaço”.

De acordo com o ministério russo, o teste ocorreu na segunda-feira (15) e atingiu um satélite de reconhecimento do tipo Tselina-D da era soviética, em órbita desde 1982. Na mídia ocidental, o alvo teria sido o Kosmos-1408, um satélite de inteligência eletrônica e sinais.

“Anteriormente, testes semelhantes no espaço sideral já foram realizados pelos Estados Unidos, China e Índia”, lembrou o Ministério da Defesa.

Em seu comunicado, a Rússia descreveu a decisão de conduzir o teste como uma atividade planejada para fortalecer suas capacidades de defesa e uma forma de prevenir “a possibilidade de danos repentinos à segurança do país na esfera espacial e no solo”.

“Os EUA certamente sabem que os fragmentos resultantes, em termos de horário do teste e parâmetros orbitais, não geraram ou iriam gerar qualquer ameaça a estações orbitais, veículos espaciais e atividades espaciais”, enfatiza o comunicado.

O ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse que o ataque foi realizado “com precisão cirúrgica” e não representou qualquer ameaça à ISS, e acusou Washington de “hipocrisia” ao afirmar que a Rússia teria gerado riscos a atividades pacíficas no espaço.

Já a agência espacial Roscosmos, que lidera com a Nasa a operação da ISS, reiterou que “a segurança incondicional da tripulação tem sido e continua sendo nossa maior prioridade”. Na ISS, os sete astronautas – dois russos, quatro americanos e um alemão – se abrigaram em cápsulas acopladas à estação por duas horas – a Dragon X e a Soyuz – e depois retornaram à estação.

Esse é um procedimento padrão, que tem como objetivo permitir que os tripulantes da ISS sejam capazes de regressar à Terra em caso de emergência. Também o cosmonauta russo Anton Shkaplerov destacou através do Twitter que os tripulantes estavam a salvo e que o trabalho já havia sido retomado.

Tratado de 1967

O Ministério das Relações Exteriores da Rússia destacou que o evento foi realizado em estrita conformidade com o direito internacional, inclusive o tratado espacial de 1967, e não foi dirigido contra ninguém, e os fragmentos formados a partir do teste não representam uma ameaça e não interferem na o funcionamento de estações orbitais, espaçonaves e atividades espaciais.

“Esses fragmentos foram incluídos no Catálogo Principal do Sistema de Controle do Espaço Exterior e foram imediatamente levados para o apoio adequado até que deixassem de existir”, disse a porta-voz Maria Zakharova.

Segundo o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, o ataque ao satélite desativado gerou “mais de 1.500 peças de detritos orbitais rastreáveis”.

“Os destroços de longa duração criados por este teste perigoso e irresponsável agora ameaçarão satélites e outros objetos espaciais que são vitais para a segurança de todas as nações, interesses econômicos e científicos nas próximas décadas”, apontou.

O Ministério da Defesa russo também lembrou que há vários anos Moscou vem exortando os EUA e outras potências espaciais a assinarem um acordo para impedir a colocação de armas no espaço. “O rascunho desse acordo foi submetido à ONU. No entanto, os Estados Unidos e seus aliados estão bloqueando sua adoção. Washington declara abertamente que não quer ser vinculado a quaisquer obrigações no espaço”, lembrou o comunicado.

Como enfatizou o ministério russo, o Pentágono “está desenvolvendo ativamente em órbita e sem qualquer notificação as mais recentes armas de ataque/combate de vários tipos, incluindo as últimas modificações da espaçonave não tripulada X-37”.

“As ações do lado americano são avaliadas como ameaçadoras e incompatíveis com os objetivos declarados de uso pacífico do espaço sideral”, acrescenta o comunicado.

À RT, Konstantin Blokhin, pesquisador do Centro de Estudos de Segurança da Academia Russa de Ciências, disse que o lado norte-americano está incomodado com os sucessos da Rússia na área espacial, em que se consideram a “força dominante”.

“Blinken está tentando traduzir essa irritação para outra esfera de que a Rússia é uma ‘ameaça’, e não porque está obtendo sucesso no campo da tecnologia, mas porque ‘suja’ o espaço sideral’”, acrescentou.

Por sua vez o especialista militar, coronel aposentado Viktor Litovkin, explicou ao portal russo que a reação dos Estados Unidos está ligada ao fato de serem os norte-americanos que estão “correndo para o espaço com armas”. “A Rússia e a China são categoricamente contra isso, levantamos repetidamente na ONU a questão de proibir a colocação de armas no espaço, os americanos são categoricamente contra. Além disso, eles estão criando vários sistemas espaciais projetados para realizar um ataque global na Terra”.

Assim, para Litovkin, as declarações do secretário de Estado dos EUA são rematada hipocrisia. “A Rússia não coloca armas no espaço, lançamos um foguete do solo em um objeto no espaço e o acertamos com o sistema antimíssil ‘joias’. Aliás, os mesmos testes foram feitos pelos norte-americanos mais de uma vez, pelos chineses e indianos. Acontece que não há lugar para a vantagem americana no solo e no espaço, e isso é um golpe no estômago para eles”, concluiu.