A torcida do Coquimbo entrou em campo nesta sexta-feira para repudiar a brutalidade do governo de Sebastián Piñera, que tem multiplicado o número de mortos, feridos e desaparecidos por todo o Chile na tentativa de fazer valer o assalto à Previdência e aos direitos.

Com os rostos cobertos e portando sinalizadores, os torcedores impediram que o jogo contra o Audax Italiano, pela segunda rodada do Campeonato Chileno, passasse dos 17 minutos.

“Ruas com sangue, campos sem futebol”, estampava a faixa estendida pelos manifestantes, paralisando completamente a partida. Protestando contra a manipulação midiática, que tem encoberto a massividade do rechaço ao governo, os torcedores ainda quebraram cinco câmeras da emissora “Canal do Futebol” e arremessaram o monitor do VAR no fosso do estádio Francisco Sánchez Rumoroso. Uma outra faixa denunciava: “ANFP (Federação Chilena), assassinos do futebol”.

O clima que já estava tenso dentro dos estádios ficou ainda mais após o atropelamento fatal do torcedor Mora Herrera, do Colo Colo, terça-feira, por um caminhão dos Carabineros – a Polícia Militar. A morte agravou a avalanche de manifestantes feridos, presos e assassinados, ecoando a exigência da saída do diretor da “força” e o fim da política neoliberal.

Em sintonia com 94% dos chilenos, que conforme as últimas pesquisas dizem “Não a Piñera”, a Mesa de Unidade Social reforçou a pressão por justiça. Composta por mais de 100 movimentos e entidades populares, e pela Frente Ampla, de oposição, a Mesa cobra ações imediatas diante do descalabro político, econômico e social.

Em visita ao país, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) vai tendo trabalho em analisar a catarata das milhares de denúncias de abusos e violações, que incluem barbaridades como torturas, desaparecimentos, estupros e assassinatos.

Entre as mortes, explicou o presidente da Comissão Chilena de Direitos Humanos, Carlos Margotta, está a do torcedor do Colo Colo, que salta aos olhos pela covardia.

A onda de manifestações mantém seu vigor e irradia, fortalecida pelo rechaço generalizado à repressão fascista, cada vez mais identificada com o estilo de Augusto Pinochet.

Os milhares que voltaram às ruas em memória de Mora Herrara viram a truculência dos tiros e das bombas de gás lacrimogêneo chocar-se contra faixas, bandeiras e palavras de ordem por uma sociedade mais justa e fraterna.

Pela repressão o resultado desta nova jornada foi de ao menos dois mortos, vários manifestantes hospitalizados com ferimentos múltiplos – dois deles em estado grave – e 124 presos, provocando como resposta saques, barricadas, ônibus incendiados e quartéis atacados. Outro jovem foi hospitalizado com um tiro na cabeça, segundo descrito, disparado desde uma delegacia de polícia. Após a agressão, dezenas de carabineiros foram feridos e pelo menos um teria sido queimado no rosto por um coquetel molotov.