O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), candidato a presidente da Câmara, denunciou que o governo Bolsonaro está “coagindo”, oferecendo cargos, emendas e chantageando parlamentares para forçar o voto no candidato do Planalto, Arthur Lira (PP-AL).

“O governo infelizmente está tentando interferir no processo de eleição da Câmara dos Deputados. Está coagindo e perseguindo deputados de forma ostensiva, não só com cargos, mas com emendas extra orçamentárias, o que não é bom para o Parlamento”, afirmou Rossi em entrevista ao jornal O Globo.

Para Baleia, o Planalto age “de forma ostensiva” contra sua candidatura, promovendo retaliações contra seus apoiadores.

“Tem vários cargos”, prosseguiu o deputado, “que foram oferecidos e vários cargos que foram retirados de deputados que são de partidos que nos apoiaram. O deputado Áureo Ribeiro (Solidariedade-RJ), ao declarar seu apoio à nossa candidatura, sofreu uma retaliação sem nenhum sentido. Nós precisamos fazer um compromisso com o país por agenda, não por fisiologismo”.

O deputado frisou que, apesar dessa ação do governo federal, tem confiança na sua vitória.

“O Parlamento se apequena quando tem esse tipo de discussão. Portanto, eu tenho plena convicção da nossa vitória”.

“Enquanto meu adversário aposta na traição, eu tenho confiança que todos os parlamentares vão saber que independência da Câmara é uma garantia de que todos terão participação no diálogo, em uma agenda de Brasil. Que cada uma das propostas vão ser amplamente debatidas”, destacou.

“A Câmara de joelhos, a Câmara submissa, perde muito do seu valor, e o parlamentar perde também a importância de poder contribuir com essa agenda de país”, enfatizou o candidato à presidência da Câmara.

Na entrevista, Baleia Rossi disse que sua candidatura não é de oposição, mas lembrou que ao ser eleito presidente nacional do MDB na convenção da legenda os emedebistas decidiram pela independência em relação ao governo federal.

“Nós mostramos nossa posição de independência em vários momentos. Quando cometeram exageros, quando grupos radicais pediram o fechamento do Congresso Nacional, nós tivemos uma posição muito clara de defesa da democracia”, declarou.

Baleia Rossi definiu sua candidatura como um movimento “que representa uma frente ampla de partidos, de esquerda, centro e direita, que têm como princípio a defesa da democracia e da independência da Câmara”.

“Independência com harmonia e diálogo entre Poderes, mas em cima de um projeto de país, que é o que está faltando nesse momento. Um projeto para superar a pandemia, para que a economia possa reagir, para gerar emprego e renda”, completou.

Baleia ainda disse que “o impedimento de um presidente da República não pode ser uma bandeira de nenhuma candidatura à presidência da Câmara dos Deputados”.

“Mas nós fizemos o compromisso constitucional de analisar cada um dos casos. Não vou fazer nenhum juízo de valor sobre nenhum caso porque a eleição é dia 1º de fevereiro. Mas nós vamos analisar todos os pedidos [de impeachment] de acordo com o que está na nossa Constituição”, afirmou.

Sobre a volta da CPMF, imposto do cheque, o parlamentar assinalou: “Sou contra”. “Acho que não dá para passar para a sociedade mais esse custo. Nós já temos uma carga tributária muito grande para o país e a CPMF é simplesmente um aumento da carga tributária. Não é justo passar essa conta para a sociedade”.

Em relação à chamada “pauta de costumes” de Bolsonaro, como o PL ampliando o porte de armas e outras questões, como escola sem partido, Baleia Rossi respondeu que “essas pautas dividem a sociedade”. “Dividem o Parlamento e não são prioridades nesse momento de enfrentamento da pandemia, de retomada do desenvolvimento”.

Abordando o assunto do PSL, maior bancada da Câmara, o emedebista comentou que há deputados do PSL “que estão absolutamente vinculados ao Palácio do Planalto, que estão com o candidato do Bolsonaro, que é o Arthur Lira. Isso já era absolutamente esperado”.

Porém, Rossi afirmou que vai continuar “conversando com cada um dos deputados do PSL para convencê-los de que o melhor caminho é a frente ampla”.

“É o caminho que vai significar a independência da Câmara e o fortalecimento do mandato de cada parlamentar. Esse é nosso foco”, sentenciou.