Brigadas médicas solidárias enviadas por Cuba a 39 países

Cuba celebra o 62º ano de sua Revolução, vitoriosa em 1º de janeiro de 1959, apresentando mais um feito: é um dos países do mundo em que a população está mais protegida. Com 11,2 milhões de habitantes, foram detectados 11.434 casos até 30 de dezembro, dos quais 143 morreram.

Como informam as autoridades cubanas, entre os óbitos não há nenhum profissional de saúde, nenhuma mulher grávida e nenhuma criança.

Para se ter uma ideia da dimensão dos cuidados governamentais com sua população, a situação dos brasileiros provocada pelo atual desgoverno, em número de óbitos e proporcionalmente à população do Brasil, é cerca de 77 vezes a de Cuba.

Já o número de falecimentos no vizinho Estados Unidos, cujo governo também minimizou os riscos trazidos pela pandemia – ao tempo em que acirrou as medidas de bloqueio econômico na tentativa de sufocar a ilha, chega a mais de 100 vezes.

Quanto à vacinação, Cuba é o único país latino-americano a desenvolver imunizantes próprios com os quais estima vacinar toda a população do país no primeiro semestre deste ano e ainda disponibilizar a vacina a outros países e à OMS.

Além destes feitos, em termos de combate a pandemia, Cuba reuniu condições para o envio, durante o ano passado, 53 missões de solidariedade médica a 39 países afligidos pela propagação do Covid-19.

BLOQUEIO NORTE-AMERICANO

O mais significativo da disposição de combate do povo cubano, emulado pela sua história e pela trajetória de sua Revolução, é que este resultado foi obtido em meio ao aumento da agressividade do bloqueio a Cuba durante o governo Trump, com a interferência não apenas de empresas norte-americanas, mas bancos, indústrias, fornecedoras de combustível, navios transportadores de produtos e insumos, chegando a requintes de crueldade como a ingerência em uma empresa suíça para impedir que ventiladores pulmonares chegassem a Cuba em plena crise do Covid.

O informe preparado em outubro pelo ministro do Exterior de Cuba, Bruno Rodríguez Parrilla, sobre os efeitos danosos do bloqueio – que agride os direitos humanos dos cubanos, viola o Direito Internacional e, por sua extraterritorialidade, ataca a soberania das nações, lido no dia 25 de dezembro na Assembleia Geral da ONU, destaca:

“O uso do Título III da lei Helms-Burton para castigar ou ameaçar a quem, legitimamente, comercia com Cuba ou investe aí, o ataque às remessas, a elaboração de listas caprichosas para aplicar restrições adicionais ao sistema empresarial cubano, as limitações acrescidas às estreitas possibilidades de viagens, a perseguição criminosa ao fornecimento de combustíveis, o cerco às transações financeiras em qualquer rincão do mundo e a campanha de pressões contra terceiros países para que recusem até nossa cooperação médica, mesmo quando a necessitem, são ações que levam a marca Trump e o selo de seu bando de extremistas que inescrupulosamente hoje governa esse país”.

Segundo o ministro cubano, em termos atualizados, o prejuízo causado pelo bloqueio norte-americano a Cuba, durante seis décadas, ultrapassa 1 trilhão de dólares.

Como informa Raul Carrion*, com a vitória da Revolução em 1º de janeiro de 1959, “foi eliminado o aparato repressivo e os torturadores e assassinos foram levados a julgamento. Diversos quartéis foram transformados em escolas. A Constituição de 1940 – revogada por Batista – voltou a vigorar. A Reforma Agrária e a Reforma Urbana tornaram-se realidade. A ‘Emenda Platt’, que fazia de Cuba um “protetorado estadunidense”, foi anulada. Cuba deixou de ser o ‘bordel’ dos milionários norte-americanos”.

“Todas essas medidas”, acrescenta, “incomodaram os donos do poder em Washington. Já em fevereiro de 1959, foi detido o norte-americano Allen Robert Mayer, vindo dos EUA. Em seu poder foram encontrados planos para assassinar Fidel Castro. Em resposta a inúmeros atos terroristas dos Estados Unidos, o Poder Revolucionário nacionalizou diversas empresas norte-americanas. A partir de então, os Estados Unidos estabeleceram o mais feroz bloqueio econômico, financeiro, tecnológico, midiático e diplomático contra Cuba e passaram a dar cobertura a inúmeras agressões, como a fracassada invasão da “Bahia dos Porcos”, em 1961”.

No pronunciamento denominado “Somos Cuba Viva, o país que se emprenhou em resistir e vencer”, realizado no último dia de sessões da Assembleia Nacional do Poder Popular, em 17 de dezembro, o presidente Miguel Díaz-Canel informou que, para enfrentar o dano causado pelo bloqueio norte-americano associado à pandemia, que provocou uma queda de 11% no PIB no ano de 2020, foi concluído o Plano de Desenvolvimento Econômico e Social para a próxima década, que prevê aumento nos investimentos em 22% e um início de recuperação em 2021 com crescimento de 6% a 7%.

SANTA CLARA

Em homenagem ao aniversário da Revolução Cubana, a rede TeleSur publicou um resumo da Batalha de Santa Clara, decisiva para a vitória, sob o comando de Che Guevara e Camilo Cienfuegos, que traduzimos e aqui reproduzimos:

A Batalha de Santa Clara começou em 28 de dezembro de 1958. O Che combateu com 300 homens contra um inimigo várias vezes superior em número e armamentos.
O triunfo definitivo da Revolução Cubana teria sido impossível sem a vitória nesta batalha, liderada por Ernesto Che Guevara, junto com a sua Coluna 8 também denominada Ciro Redondo. 

A capital da província de Villa Clara, na região central de Cuba, por sua localização estratégica, era uma das cidades mais defendidas pela ditadura de Fulgencio Batista, com a finalidade de conter a passagem do Exército Rebelde até o Ocidente do país.

O Comandante em Chefe, Fidel Castro, encomendou a dois de seus principais comandantes na Zona Oriental de Cuba, Che e Camilo Cienfuegos, a tomada do centro da Ilha e que continuassem o caminho em direção à capital Havana, onde estavam os principais mandos civis e militares.

Após chegarem, em outubro de 1958 ao território central, em pouco mais de um mês ambos os comandantes, com suas respectivas colunas, lograram liberar territórios montanhosos, cortaram as vias de comunicação que conectavam o Oriente ao Ocidente de Cuba e cumpriram o objetivo estratégico de paralisar o traslado de tropas inimigas por terra em direção ao Oriente.

A Batalha de Santa Clara, que começou no dia 28 de dezembro teve a duração de cinco dias e Che contou com o apoio do povo de Santa Clara.

“E quando já em final de dezembro nossas forças tinham virtualmente dominada a província do Oriente, com a ilha cortada em duas partes pela província de Santa Clara, o Che levou a cabo uma de suas últimas proezas em nosso país”, expressou Fidel em um discurso no dia 28 de novembro de 1971.

Dias antes, o ditador, Batista, havia enviado um trem blindado em direção ao Oriente com soldados e munições de reforço. O trem ficou localizado em Loma del Capiro, uma posição privilegiada desde onde buscavam controlar os movimentos das forças rebeldes.

Che percorreu com um grupo a via férrea para encontrar o ponto vulnerável e obstruir a passagem do trem. “Cercados por homens que, desde pontos próximos lançavam garrafas de gasolina acesa, o trem foi se convertendo – graças às chapas de blindagem – em um verdadeiro forno para os soldados”, escreveu o combatente argentino.

Desde a manhã de 29 de dezembro iniciou-se a tomada de Santa Clara partindo da Universidade Marta Abreu transformada em base de operações. As ruas amanheceram cheias de barricadas, os cerca de 350 soldados de Batista a bordo do trem foram derrotados e os rebeldes conseguiram a posse de armamento destinado a 500 homens.

Também nesse dia foi ocupado o quartel do serviço de vigilância rodoviária. A missão incluía tomar a cidade por posições e seus principais edifícios, entre eles o Quartel 31, a estação de polícia, o cárcere, o Gran Hotel e a sede do Governo Provincial, ações que foram se sucedendo progressivamente.

No dia 31 de dezembro, só restava a rendição dos oficiais e soldados dentro da maior fortaleza militar da parte oriental de Cuba, “Leoncio Vidal”, mas a instalação não chegou a ser atacada devido à fuga do ditador Fulgencio Batista, no dia 1º de janeiro de 1959.

Esta batalha foi decisiva para encurralar o exército da ditadura e levar à fuga de Cuba de seu chefe, o que permitiu o triunfo do Exército Rebelde e a entrada em Havana dos principais líderes há 62 anos.

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Raul Carrion* é historiador e membro da Comissão Política do PCdoB/RS, vereador de Porto Alegre em três legislaturas e deputado estadual do Rio Grande do Sul por duas legislaturas e atualmente preside a Fundação Maurício Grabois-RS