Foto: Vincent Kalut/Getty Images

Estudo publicado pela Revista Nature revelou que 85,3% dos brasileiros estão dispostos a se vacinar contra a Covid-19 se “um imunizante comprovadamente seguro e eficaz estiver disponível”.

De acordo com a pesquisa, o percentual brasileiro de aceitação é o segundo mais alto do mundo. Fica atrás apenas da China, primeiro país a controlar a pandemia, onde a aceitação chega em 88,6% da população.

O levantamento divulgado pela Nature envolveu especialistas dos Estados Unidos e da Europa que analisaram as respostas de 13,4 mil pessoas, nos 19 países mais atingidos pela Covid-19.

Para a Sociedade Brasileira de Imunizações, o apoio da população brasileira é fruto de um intenso trabalho de vacinação realizado ao longo dos anos. O país é referência mundial em cobertura vacinal.

“Esse porcentual do Brasil não é uma surpresa. Vários outros estudos já mostraram a mesma coisa”, afirmou Isabella Ballalai, vice-presidente da entidade. “O brasileiro confia em vacina, entende que a vacinação é importante”.

Segundo os pesquisadores, o objetivo era descobrir qual seria a potencial hesitação global diante de uma vacina. Os números gerais mostram que 72% do total de entrevistados aceitariam o imunizante. Os demais 28% daqueles envolvidos na pesquisa ou recusariam, ou teriam dúvidas em tomar a vacina.

O porcentual mais baixo de resposta positiva para a vacina foi detectado na Rússia: 55%. Nos EUA, 76% dos entrevistados afirmaram que tomariam o imunizante, índice muito inferior ao brasileiro.

Para os especialistas, esse percentual global de hesitação é alto diante de uma emergência global de saúde do porte da covid-19. Sobretudo, se o percentual de proteção oferecido pela vacina for baixo.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existem hoje mais de 100 potenciais vacinas contra a Covid-19 em desenvolvimento em todo o mundo. Dentre elas está a CoronaVac, desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan.

“Será uma tragédia se conseguirmos desenvolver uma vacina segura e eficiente e as pessoas se recusarem a tomá-la. Precisamos desenvolver um esforço robusto e sustentado para lidar com essa hesitação em relação à vacina e restaurar a confiança do público no benefício das imunizações para as famílias e as comunidades”, alertou Scott C. Ratzan, co-autor do estudo, da Escola de Saúde Pública e Políticas Públicas da Universidade de Nova York.

“Nossas descobertas são consistentes com pesquisas recentes nos Estados Unidos, que mostram uma redução da confiança do público em uma vacina contra a Covid-19”, acrescentou.

Um dos coordenadores do estudo, Ayman El-Mohandes, da Escola de Saúde Pública e Políticas de Saúde da Universidade de Nova York, defendeu a necessidade de “aumentar a confiança na vacina”. Ele também afirmou ser necessário expandir a “compreensão das pessoas sobre o quanto um imunizante pode controlar a disseminação da covid-19 em suas famílias e suas comunidades”.

No Brasil, dados recentes de baixa cobertura vacinal no País teriam outras explicações. “Só a confiança no imunizante não faz a pessoa se vacinar. Ela precisa ser informada, ter acesso, ser lembrada. Esses são os fatores principais quando falamos em baixa cobertura na América Latina”, explicou Isabella.

“Agora, se continuarmos com essa guerra política, essa desinformação, a vacina de um país contra a vacina de outro país, isso tudo que está acontecendo, leva à desconfiança sobre a vacina. É fundamental que a população tenha confiança nas autoridades públicas, elas não podem estar brigando.

O resultado da pesquisa foi divulgado um dia após Bolsonaro afirmar que um futuro imunizante contra a doença não será obrigatório no País e entrar numa briga descabida com o governador João Doria (PSDB) e a vacina produzida em São Paulo pelo Instituto Butantan, em parceria com o laboratório chinês, Sinovac, a Coronavac.

Essa vacina é a mais avançada no país, os resultados dos testes clínicos já foram entregues e, segundo o governo paulista, a previsão é de que em dezembro, os resultados quanto à resposta do imunizante sejam entregues à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Colocando a vida dos brasileiros em risco por uma disputa política desumana, em meio a pandemia da Covid-19, Bolsonaro descartou comprar a Coronavac desautorizando assim, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello que horas antes havia confirmado a compra da vacina pelo Ministério.

Além disso, Bolsonaro age contra a imunização em massa quando diz que a vacinação não será obrigatória.

Como demonstra o estudo publicado pela Nature, a ampla maioria dos brasileiros quer tomar a vacina que for aprovada pelos órgãos competentes no Brasil, como a Anvisa que já aprovou a compra de 6 milhões de doses da Coronavac.

Portanto, não existe no país uma polêmica quanto à necessidade e os benefícios de uma vacina contra a doença. Bolsonaro age colocando em dúvida a eficácia da vacina, polarizando contra a possibilidade real de salvar milhões de vidas.