A Confederação Nacional da Indústria (CNI) classificou de “negativa e ilegal” a decisão unilateral dos Estados Unidos de retirar o Brasil da lista de países considerados em desenvolvimento. Aplicada ao âmbito do comércio exterior, a lista dos que se declaram em desenvolvimento dá a essas economias benefícios que favorecem os acordos comerciais e a exportação de bens.
Em março do ano passado, Jair Bolsonaro já se antecipou e se ofereceu para prejudicar as empresas brasileiras em benefício dos interesses do governo americano. Em visita a Washington, em março do ano passado, Bolsonaro garantiu a Trump que abria mão da lista especial da OMC em troca do apoio dos Estados Unidos ao ingresso do Brasil na Organização de Cooperação para o Desenvolvimento Econômico (OCDE), decisão criticada por setores do empresariado brasileiro.
“Na avaliação da Confederação, esse é mais um ato que reduz a importância do sistema multilateral de comércio”, manifestou a CNI sobre a decisão do EUA.
A decisão de Donald Trump diz respeito ao sistema da Organização Mundial de Comércio (OMC), fórum onde os países que se auto-declaram em desenvolvimento têm tratamento especial nas relações comerciais com os países desenvolvidos. Os Estados Unidos ignoraram esse status, estabelecido pelo órgão mundial, ao retirar o Brasil da sua lista.
“É sempre um risco quando disputas comerciais são resolvidas isoladamente por um único país. Para a indústria brasileira é essencial que a OMC se mantenha forte e atuante”, disse Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial da CNI.
A medida anunciada na segunda-feira (10) pelo Departamento de Comércio americano prejudica os países em desenvolvimento no comércio internacional reduzindo o tempo de negociação, restringindo o acesso a mercados e permitindo ao presidente dos Estados Unidos a investigação, por exemplo, no caso de exportação subsidiada, anulando a atuação da OMC.
“Isso significa que, além da ilegalidade cometida pelos Estados Unidos, vamos ficar atentos à sequência de ações que podem prejudicar as exportações brasileiras”, alertou Carlos Abijaodi.
“Atualmente, os setores de aço e de papel e celulose já são setores afetados por medidas compensatórias dos Estados Unidos. Com as novas regras, o governo americano pode ampliar a sobretarifa aplicada na importação desses produtos”, afirmou o empresário.
O objetivo de Trump é reduzir o déficit da balança comercial americana, que até novembro de 2019 estava negativa em US$ 786 bilhões, dificultando a entrada de produtos de outros países nos EUA e despejando seus produtos nos países em desenvolvimento.
Além do Brasil, o governo Trump removeu da lista outros 20 países – incluindo China, Argentina, África do Sul, Índia e Colômbia.
Apoio a Trump
Questionado sobre a medida, Jair Bolsonaro acenou que concorda com Donald Trump. Antes de responder a jornalistas sobre como isso poderia ser benéfico para o país, ele entrou no veículo oficial e não disse nada.