Ricardo Gurgel chegou a ser nomeado para a chefia do PNI mas não assumiu

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) completa no próximo sábado (30) quatro meses sem coordenador titular. Desde a saída da enfermeira Francieli Fantinato, em junho, a função é desempenhada por substitutos. Indicado pelo governo ao posto no dia 6 de outubro, o médico Ricardo Gurgel, que foi até Brasília (DF) tomar posse, não pode assumir o posto.

Professor de Pediatria da Universidade Federal de Sergipe (UFS), Gurgel informou que a decisão de vir à capital federal foi tomada por conta própria, uma vez que, desde a nomeação, não houve contato para comparecer à cidade para assumir o cargo.

“Eu fiquei surpreso porque eu vim para assumir. Foi o Gerson (Pereira), que está como secretário-adjunto da Secretaria de Vigilância em Saúde, que me informou que eu não ia assumir. Volto para Aracaju amanhã”.

Segundo o médico, não foram dadas explicações. A nomeação de Ricardo Gurgel foi publicada no Diário Oficial da União no último dia 6. Ele assumiria a vaga deixada por Francieli Fantinato, que pediu para deixar o governo no dia 7 de julho, um dia antes de depor à CPI da Pandemia. A definição do substituto demorou 3 meses.

O médico Ricardo Gurgel passou por entrevista com o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que confirmou o nome dele para chefiar o PNI. Segundo Gurgel, esta foi a única vez que esteve com o ministro, que também não deu explicações sobre o futuro dele na coordenação do PNI.

“Só encontrei com o ministro uma vez quando ele me entrevistou e referendou o meu convite”, disse Gurgel. O médico se diz surpreso com o episódio e pedirá o que chamou de “desnomeação”. “Eu pedi que fosse publicada a minha desnomeação”, conta.

Desde que a nomeação se tornou pública, o pediatra concedeu declarações que vão à contramão do governo. Na data, Gurgel se posicionou a favor da vacinação de adolescentes contra a Covid-19, que chegou a ser suspensa pelo ministério.

Além disso, também disse que era contra o uso do “kit Covid”, comprovadamente ineficaz para combater a doença. Medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina são defendidos pelo presidente Jair Bolsonaro e os apoiadores dele, à revelia das evidências científicas.

Com 48 anos de existência, o PNI é responsável por gerenciar campanhas de vacinação, como a da Covid-19. O programa, conhecido pela tradição na saúde, oferece um dos calendários de imunização mais completos do mundo, com cerca de 20 vacinas diferentes.

No entanto, a avaliação é de que essa tradição tem sido ameaçada. As falhas na gestão do PNI têm levado à queda na cobertura vacinal e ao risco de surtos de doenças como sarampo e tuberculose.