Estatais de energia na Bolsa de Valores tem ações valorizadas pela alta lucratividade

O presidente da Abradin, Aurélio Valporto, avalia que monopólios precisam ser geridos de forma a beneficiar toda a cadeia produtiva. Para ele, os preços da Petrobras podem beneficiar acionistas um primeiro momento, mas desarranjam toda a economia.

O economista Aurélio Valporto é presidente da Abradin – Associação Nacional dos Investidores e Acionistas Minoritários em Empresas de Capital Aberto, com MBA em Finanças pela FGV. Ele explicou seu papel no Seminário “O Desmonte do Setor de Energia – Petrobras e Eletrobras – e os Caminhos para a sua Reconstrução” como representante dos acionistas.

Valporto afirmou que, embora fale em nome dos acionistas que se beneficiam da alta lucratividade do setor de energia, é preciso pensar o tema como economista, tratando as questões em benefício de todos, tanto do mercado como do Brasil. Ele exemplifica o que acontece hoje com a lucratividade da Petrobras, que considera prejudicial para todo o resto da cadeia produtiva do país.

As declarações foram feitas durante o debate sobre a crise do setor energético no Brasil e os desafios para a sua recuperação, que continuou, na segunda (30), tratando mais especificamente do caso da Eletrobras, em vias de privatização, no próximo dia 13 de junho. O seminário foi realizado pela Fundação Maurício Grabois, através da Cátedra Claudio Campos.

A fala de Valporto começa a 1h28m e dura 23 minutos:

“Quanto mais abundante e barata a energia, mais o organismo econômico vai prosperar e beneficiar o seu povo, assim como os investidores de todas as empresas”, disse ele, que defende que o mercado de capitais é fundamental para a socialização da economia, ao permitir que a população seja sócia do capital. Nos EUA, 80% da população detém ações de empresas, tornando sua economia mais socializada que a da China, na opinião dele.

Valporto diz ser contra a privatização de monopólios por gerar falta de concorrência na geração de energia. Ele também considera que este processo de privatização tem vários vícios, como a precificação que não considera ativos ocultos, como endividamentos com amortização erroneamente corrigidas pela justiça, que remuneraram inadequadamente. Se o bloco de controle que adquirir a empresa questionar e pleitear isso, pode ser um motivo para aumento de tarifas.

Itaipu também está sendo precificada a R$ 1,2 bi, um valor irrisório. Por outro lado, Furnas perdeu uma arbitragem que implicaria em bilhões de ressarcimento para a construtora da usina Santo Antônio, o que inviabilizaria a privatização.

O governo, segundo Valporto, não pode abrir mão das reservas de energia, como o armazenamento das eólicas, que ele chama de baterias de energia.

Ele critica o modo como o governo Bolsonaro não garante o papel da Petrobras no abastecimento de combustíveis, assim como a manutenção da Paridade de Preços Internacionais (PPI), que considera uma política deletéria.

Em sua opinião, não adianta trocar a direção da empresa a todo momento, se o governo não tiver uma política exógena que a oriente. A Petrobras não vai mudar a PPI se isso não vier como uma imposição exógena do governo.

Valporto também critica a desindustrialização no Brasil pelo efeito nocivo sobre a economia, toda baseada em produção e exportação de produtos primários. Na opinião dele, o Brasil não tem política industrial há 30 anos. Sua entidade lutou contra a venda da Embraer, mais uma medida do atual governo que contribuiu para desindustrializar o país.

(por Cezar Xavier)