Repatriados de Wuhan admitem hoje que teriam ficado mais seguros lá
Todos falam que, se soubéssemos como estaria hoje, não teríamos voltado para cá”, relatou a modelo catarinense Adrielly Eger, que se viu inicialmente trancada em um hotel próximo ao aeroporto para depois ver sua carreira paralisada em nível internacional.
“Quando falaram que iam repatriar a gente, não tinha como não vir, precisava estar com minha família de novo depois de tudo que passamos”, explicou Adrielly. Na avaliação da modelo, o rigor das medidas de controle adotadas pelos chineses foi o que possibilitou que o país derrotasse a pandemia.
Adriely é uma dos 34 brasileiros “resgatados” em fevereiro de 2020 de Wuhan, na China e, assim como os demais que saíram de lá naquele momento tenso, hoje acreditam que a realidade imposta com a eloquência dos números da Covid-19 demonstra que teria sido muito mais segura a sua permanência no país asiático.
Naquele instante em que os 34 mil casos e 718 mortes orientais confirmadas pela universidade estadunidense Johns Hopkins – enquanto nós não tínhamos um único sequer -, nenhum deles acreditava que se estava diante de um quadro a ser rapidamente revertido. Enquanto que a adversidade da pandemia se voltaria contra nós, hoje no topo da epidemia fúnebre, atrás somente dos Estados Unidos, que beira os seus 28 milhões de contágios e meio milhão de mortos.
Felizmente, de acordo com a Johns Hopkins, não há mais registros de casos ativos de coronavírus na província de Hubei, cuja capital é Wuhan. Com mais de 1,4 bilhão de pessoas, a China acumula pouco mais de 100 mil casos com 4.828 mortes, enquanto com 212 milhões o Brasil tem cerca de 9,9 milhões de contágios com mais de 240 mil óbitos.
Para o professor mineiro Vitor Campos, “os chineses tiveram coerência. Quando precisou, fecharam tudo, foram radicais”. “No Brasil não havia conversa entre estados, municípios, governo. O presidente queria abrir, o resto queria fechar. Por isso a crise está se estendendo tanto”, condenou.
Essas diferenças de organização no combate à pandemia, ressaltou o treinador de futebol Marcelo Vasconcelos, de Santo André, faz com que tenha certeza de ter tomado a decisão acertada ao não embarcar há um ano naquele avião da FAB. Vivendo na China há quatro anos, Vasconcelos entende que a seriedade e o rigor do governo chinês na aplicação de testes, medidas restritivas e multas a quem desrespeitasse o isolamento, somado à mobilização e ao envolvimento da população, fez do país um modelo no enfrentamento ao vírus.
“Os chineses se uniram, respeitaram as regras, esse foi o grande diferencial. Desde maio aqui está tudo normal. Tem áreas que pode até ficar sem máscara, mas em ambientes de aglomeração é obrigatório. Há um controle alto, mas de forma educada, e todo mundo respeita. No Brasil, quando as mortes ficam abaixo de 1.000 se comemora”, protestou o treinador.
Também morador de Wuhan, o brasileiro José Renato Peneluppi Junior havia saído da China horas antes do lockdown, em 23 de janeiro, para passar férias no Camboja. Renato disse estar feliz por ter conseguido retornar ao país oriental, onde mora desde 2010. “Não tinha como saber que, logo depois, a OMS declararia pandemia e que a China, depois de alguns meses, seria o melhor do mundo para estar”, comemorou.