Russos e ucranianos são povos que deram enorme contribuição à humanidade, inclusive colaboraram enormemente na derrota do nazismo e de Hitler. É lamentável que hoje estes países estejam em guerra como resultado de uma política dos EUA e da Otan de tirar a batata quente do fogo com as mãos dos outros, no caso, dos ucranianos. São povos vizinhos que compartilham história, cultura e fronteiras, que formavam juntos a URSS. Inclusive, o ucraniano Leonid Brejnev já comandou toda União Soviética, da mesma forma que vários russos já exerceram esse papel.

Por Renildo Calheiros*

Durante a guerra fria em 1958 e 59, o presidente americano Eisenhower colocou mísseis balísticos com ogivas nucleares na Turquia usando a Otan como instrumento. Moscou e São Petersburgo ficaram ao alcance destes mísseis.

Em 62, Khrushchev e Fidel Castro responderam fazendo um acordo para alocação de mísseis nucleares em Cuba para evitar uma invasão de Havana. Os EUA fotografaram as instalações e não aceitaram — nem parecia ser o mesmo país que instalou mísseis na Turquia. O mundo esteve à beira de viver a primeira guerra nuclear de sua história. Militares americanos aconselharam que os EUA destruíssem os mísseis e invadissem Cuba.

Mas surgiram as negociações feitas por Washington e Moscou, diretamente por Kennedy e Khrushchev. Ao final, o caminho diplomático conseguiu que a União Soviética removesse os mísseis sob supervisão da ONU e os EUA assumiram o compromisso de não invadir Cuba e ainda retirar os mísseis americanos da Turquia.

A Guerra Fria acabou há mais de 30 anos. Estes dias foi revisitada no discurso de Joe Biden. O que ocorre atualmente é que a Rússia capitalista está em guerra contra a Ucrânia capitalista.

O que gerou esta guerra?

Nas últimas décadas, os EUA e a Otan realizam uma política expansionista agressiva na direção do Leste Europeu. Estimulam desavenças, intrigas, contradições, conflitos. Buscam cercar a Rússia e levar confusão para suas fronteiras. Ao longo desses anos, Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia, República Tcheca, Eslováquia, Hungria, Romênia, Eslovênia, Croácia, Montenegro, Albânia, Macedônia do Norte e Bulgária entraram para a Otan e formaram um cinturão armado em torno da Rússia. Os russos reclamam tem vários anos, EUA e Otan fazem ouvidos de mercador e avançam, é o tal do “se colar colou”, desta vez não colou. A Rússia reagiu fortemente contra a entrada da Ucrânia na Otan. Basta olhar o mapa para se compreender o significado geopolítico deste movimento.

A decadência dos EUA não pode ser recuperada por este caminho. Vejamos o que disse Henry Kissinger, secretário de Estado dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, um dos mais influentes diplomatas Norte-americanos da história: “Para que a Ucrânia sobreviva e prospere, não deve ser o posto avançado de nenhum dos lados contra o outro – deve funcionar como uma ponte entre eles.”

A busca por uma saída pacífica passa pelo fim do cerco da Otan às fronteiras russas.

Em 2014 Kissinger já defendia que: “A Ucrânia deve seguir uma postura comparável à da Finlândia. Essa nação não deixa dúvidas sobre sua feroz independência e coopera com o Ocidente na maioria dos campos, mas evita cuidadosamente a hostilidade institucional em relação à Rússia.”

Este artigo do Kissinger é de 2014.

Hoje se faz necessário encerrar o cerco militar da Otan e dos EUA a Rússia, se faz necessário acabar a guerra, se faz necessário a “paz verdadeira” e não o discurso de paz que impulsiona e gera guerra. Não cabe à Otan e EUA, que conhecemos bem, fazerem cara de bons moços. Era evidente que cercado e fustigado em suas próprias fronteiras, em algum momento a Rússia, com todo poderio que possui iria reagir. O próprio Joe Biden, várias vezes afirmou isso, mas não se dispôs a retirar o motivo do conflito.

Nunca é demais lembrar que em 2014 EUA e Otan ajudaram a derrubar um presidente legitimamente eleito na Ucrânia pelo fato dele ter decidido não ingressar na Otan.

EUA e Otan não têm o direito de usar o povo ucraniano como boi de piranha. Com a guerra perdem as famílias, os civis, as crianças, o patrimônio histórico e a humanidade.

Pelo fim da guerra e pelo fim da expansão da Otan.

 

*Renildo Calheiros é deputado federal do PCdoB-PE e líder do partido na Câmara

 

Artigo originalmente publicado no site Fórum

 

(PL)