A renda média per capita dos brasileiros caiu para abaixo de R$ 1.000 pela primeira vez em dez anos, como resultado do desemprego e de um ano de pandemia mal administrada.

A informação é da pesquisa “Bem-Estar Trabalhista, Felicidade e Pandemia”, divulgada na segunda-feira (14) pelo Centro de Estudos de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social). De acordo com o levantamento que computa dados do primeiro trimestre de 2021, este período pode ser considerado “o pior ponto da crise social” desde o início da pandemia.

A queda da renda proveniente do trabalho alcançou o seu patamar recorde nos três primeiros meses do ano, afirma o estudo, que trabalha com estatísticas desde 2012. A renda média per capita dos brasileiros advinda do trabalho despencou 11,3% na comparação com o mesmo primeiro trimestre do ano passado, alcançando R$ 955, o patamar mais baixo da série histórica e pela primeira vez em 10 anos inferior a R$ 1.000 – ou seja, inferior também ao valor atual de salário mínimo. Um ano antes, a renda média era de R$ 1.122,00.

“Trabalhamos aqui com o conceito de renda efetiva do trabalho aqui que capta o dinheiro de fato recebido pela população o que mostra mais adequado na pandemia onde isolamento social e suspensão temporária de contrato de trabalho afetam os recursos recebidos. Trabalhamos com o conceito familiar per capita que sintetiza o processo de mudança trabalhista para todos os membros dos domicílios”, esclarece o estudo.

O documento, coordenado pelo economista Marcelo Neri, considera a renda efetivamente recebida do trabalho dividida por todos os integrantes da família, a partir de microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Em suma, a perda de ocupação (desemprego e participação trabalhista) foi o principal responsável pela queda de poder de compra médio dos brasileiros”, resumiu Neri, no estudo. O pesquisador ressaltou o agravamento da desigualdade no mercado de trabalho desde a recessão de 2015/2016 e que piorou com a pandemia.

“A situação piorou agora. A pandemia veio em um momento de fragilidade trabalhista”, ressalto Neri. “O resultado é pior do que uma década perdida. Andamos para trás”, acrescentou.

Como medição de índice de bem-estar social, o estudo combina medidas de desigualdade com a renda da população. Este cálculo aponta para um tombo de 19,4% em relação ao patamar de um ano antes.

Renda dos mais pobres cai mais de 20%

Usando como média as rendas individuais do trabalho na população em idade de trabalhar, incluindo os

sem trabalho, o economista afirma que a média geral de queda na renda foi 10,89% neste ínterim.

“Separando a metade mais pobre, a queda de renda deste grupo foi 20,81%, queda quase duas vezes maior que a da média”, completa Neri.

Para efeitos de medição da desigualdade, o estudo usa o índice de Gini: nesta escala, zero significa igualdade de renda. Quanto mais próximo de um, maior é a desigualdade.

No primeiro trimestre do ano, o indicador alcançou a marca de 0,674 – a maior da série com dados a partir de 2012. No primeiro trimestre de 2020, fase inicial da pandemia, o índice estava em 0,642.

“A pandemia adiciona mais três centésimos ao índice de Gini trabalhista levando até 0.674 em 2021 (primeiro trimestre), nosso recorde nas series histórica. A literatura considera este movimento um grande salto de desigualdade”, afirma o coordenador do estudo.

Por fim, o estudo também traz indicadores subjetivos de bem-estar da população, que foram comparados com dados internacionais.

“Todos indicadores subjetivos de bem-estar considerados pioraram mais no Brasil na pandemia que a média dos 40 demais países. Em geral, indicadores objetivos e subjetivos mostram na pandemia piora das desigualdades dentro do Brasil e uma perda maior gerada para o país do que para o conjunto de 40 nações”, diz o estudo.