Bolsonaro reagiu com baixarias as críticas de Macron a política ambiental de seu governo. Preferia que Le Pen fortalecesse a rede de apoio ultraconservador a seu governo.

Especialista em política internacional diz que problemas que impedem assinatura de acordo comercial entre Mercosul e União Européia, que incluíram discordâncias entre Jair Bolsonaro e o presidente francês reeleito, devem continuar.

O presidente da França, Emmanuel Macron, foi reeleito no último domingo (24) ao superar sua rival, Marine Le Pen, no segundo turno das eleições presidenciais. Com cem por cento das urnas apuradas, Macron atingiu 58,5% contra 41,5% dos votos de Le Pen.

Em suas palavras iniciais, o presidente reeleito disse duas vezes que seu projeto é transformar a França em uma nação ecológica. Essa tem sido uma pauta das relações exteriores que dificultam o diálogo do Brasil com governos europeus.

Fernanda Mello Sant’Anna, especialista em relações internacionais da Unesp em Franca (SP) e coordenadora do Grupo de Estudos em Política e Direito Ambiental Internacional da Unesp, explica que a vitória do presidente da França, Emmanuel Macron sinaliza que os desafios para a implementação de acordos entre União Europeia e Mercosul vão continuar.

Ela ressalta o momento difícil em que Macron reassume com líder europeu. “Embora sua vitória represente uma derrota para a extrema-direita, a ascensão desse campo político tem sido crescente em vários países do mundo”, diz ela, sobre a principal adversária de Macron e da esquerda francesa, nesta eleição, a candidata racista e xenófoba Marine Le Pen.

“Além disso, os desafios da União Europeia e as dificuldades da integração do continente se agravam desde que sofreu um choque com o Brexit”, explica Fernanda, referindo-se aos conflitos de unificar a macroeconomia do continente em meio à recessão pós-pandemia e ao desastroso desligamento do Reino Unido do bloco.

Ela também observa o desafio de lidar com uma guerra que se prolonga no continente com consequências graves para a economia e a inflação de produtos e serviços. “A guerra da Ucrânia tem impactado os países europeus, principalmente estes com mais liderança que têm papel de negociador, como a França e a Alemanha”.

Para o Brasil, ela considera que essa reeleição sinaliza que os desafios em relação à implementação e aprovação do acordo Mercosul – União Europeia vão persistir. “O presidente Bolsonaro e Macron tiveram vários atritos registrados internacionalmente, inclusive com ofensas pessoais a Macron”, lembrou ela. “Ainda que o Brasil tenha, historicamente, boas relações externas com a França, esses atritos influenciaram o relacionamento”.

Por isso que ela avalia que as eleições presidenciais no Brasil, em outubro, serão muito importantes para definir como serão encaminhadas as negociações e como vão ficar a política externa do país em relação à França.

“O futuro das relações diplomáticas entre o Brasil e o país europeu deve depender também dos resultados da eleição presidencial brasileira deste ano”, afirma.

Ela explica que o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia precisa ser aprovado no Parlamento Europeu e ratificado pelos países. “Os parlamentares europeus têm um peso importante, e têm colocado críticas contundentes ambientais e trabalhistas em relação ao acordo”, relata a especialista.

De acordo com Fernanda, o desmonte da política ambiental brasileira tem sido a principal crítica, por contribuir muito para o desmatamento sobretudo da Amazônia. “Os parlamentares desconfiam que o governo brasileiro vá realmente cumprir as cláusulas sociais e ambientais previstas no tratado”, diz a professora.

Edição de entrevista ao Podcast Unesp por Cezar Xavier