Estímulos contra a crise e a pandemia alcançaram mais de £ 400 bilhões, a dívida foi a £ 2 trilhões.

Reino Unido anunciou na quarta-feira (3) a extensão até setembro da ajuda emergencial, cujos principais componentes são o sistema de subsídio de 80% dos salários para que não haja demissões e o apoio aos trabalhadores autônomos, com ampliação para mais 600.000 que não tinham direito anteriormente.

Em discussão sobre o orçamento no parlamento, o ministro das Finanças, Rishi Sunak, prometeu “proteger os salários e os meios de subsistência dos britânicos” diante da crise.

Para o esquema do subsídio de salários, foram alocados £ 53 bilhões. Também foi estendido por seis meses o crédito universal de £ 20 por semana – uma espécie de ‘Bolsa Família’ temporária. O salário mínimo foi elevado para £ 1500. Para apoio às empresas, na forma de empréstimos e garantias, foram destinados £ 65 bilhões.

Com o Reino Unido batendo recorde de vacinação no continente europeu – 30% da população já imunizada -, Sunak previu que a recuperação será mais forte do que pensado antes, estimando em 4% o crescimento este ano e, se o bom tempo ajudar, 7,3% em 2022.

O que significará, só este ano, que 1,8 milhão de trabalhadores não serão demitidos, já que, ao invés de 11,9% de desemprego prevista, a taxa deverá ficar em 6,5%.

O ministro também enunciou medidas para criar empregos e evitar falência de empresas à medida que o apoio de emergência seja retirado nos próximos meses. Entre elas, a manutenção da redução do imposto sobre valor agregado (IVA) de 20% para 5% por seis meses para o setor de hotelaria e a alocação de £ 408 milhões para a reabertura de museus, galerias e teatros.

Devido à política negacionista que norteou o governo Boris Johnson nos primeiros tempos da pandemia no Reino Unido – a chamada busca da ‘imunidade de rebanho’ -, o país acabou recordista em mortes na Europa, com 120 mil, e teve a maior queda do PIB entre os países do G7, de -10%.

Analistas também apontam que os 10 anos de arrocho fiscal no país sob sucessivos governos, o sucateamento do Serviço Nacional da Saúde (NHS) e o número recorde de pobres e de pessoas com trabalho precário também contribuíram para que a crise sanitária tivesse ido tão fundo.

A falta de uma política de apoio ao Sistema Nacional de Saúde (NHS), peça-chave para deter a pandemia, na proposta do governo de Johnson foi prontamente condenada pelos sindicatos e oposição, que também deploraram a manutenção do arrocho sobre os servidores públicos.

Keir Starmer, líder dos trabalhistas, disse que o orçamento não fez nada para “consertar o NHS e a assistência social” e que a escala do que Sunak anunciou está “longe de ser ambiciosa o suficiente”. Ele acusou o ministro de estar “ansioso para voltar aos seus princípios de livre mercado e retirar o apoio o mais rápido possível” e disse que o orçamento apresentado “mal tapava as rachaduras”.

“Depois das decisões do ano passado e da década de abandono, precisávamos de um orçamento para consertar as bases de nossa economia, para recompensar nossos trabalhadores-chave, para proteger o NHS e para construir uma economia mais segura e próspera para o futuro. O problema central da nossa economia é uma profunda insegurança e desigualdade e este Orçamento não é a resposta para isso. O chanceler mal mencionou a desigualdade – muito menos tentou resolvê-la”, enfatizou Starmer.

Por sua vez, a presidente da central sindical TUC, Frances O’Grady, denunciou que depois de “um ano de trabalhadores-chave indo ao limite, é um insulto que o ministro não tenha anunciado nenhum novo apoio para nosso NHS pressionado ou serviços públicos e nenhuma garantia de um aumento salarial decente para todos os nossos trabalhadores-chave do setor público”. Ela advertiu sobre a “aposta perigosa” do governo conservador na “recuperação da economia por conta própria”.

Quanto ao novo orçamento, a líder do Sindicato Unison, Chrstina McAnea, alertou que não tem “dinheiro extra para um sistema de assistência social de joelhos”, nem “nenhuma menção a conceder o aumento salarial aos trabalhadores exaustos do NHS que eles mais do que fizeram por merecer”. “O governo tem uma maneira estranha de dizer obrigado,” acrescentou.

No dia seguinte, o governo Johnson precificou – como dizem os neoliberais – o tamanho de seu apreço pelos heróis de branco, que inclusive salvaram a vida do primeiro-ministro: aumento de 1%.

“O governo disse que as escolas são uma ‘prioridade nacional’, mas este orçamento não forneceu às escolas novos recursos para gerenciar o coronavírus”, assinalou Kevin Courtney, secretário-geral adjunto da União Nacional de Educação.

Para o jornal progressista inglês Morning Star, a “única oferta genuína de longo prazo de Sunkar foi o maior corte de impostos sobre empresas na história moderna do Reino Unido”, através de uma superdedução de 130% do imposto sobre empresas caso invistam”.

A superdedução seria trocada, dois anos mais tarde, por um aumento do imposto de renda de 19% – patamar atual – para 25%. O que ainda manteria o Reino Unido como o país de mais baixa tributação no grupo de países mais ricos, o G7. Pequenas empresas estariam isentas, segundo o ministro de Johnson.

Outros setores da oposição, com os nacionalistas escoceses do SNP, cobraram que o esquema de subsídio da folha de salários seja mantido “enquanto as empresas e os governos regionais precisarem”.

A porta-voz dos Liberal-Democratas, Christine Jardine, advertiu que o complemento do crédito universal terminará ao mesmo tempo em que a licença [o subsídio da folha salarial], o que significa que as pessoas podem perder seus empregos e não receber a ajuda extra de que precisam.

Para o partido Plaid Cymru, sem um crédito universal permanente ” 26.000 famílias no País de Gales não serão capazes de arcar com o necessário em seis meses”.