Regime Zelensky mantém presos jovens comunistas que são contra Otan
O regime de Kiev deu início ao julgamento-farsa dos irmãos Kononovich – Mikhail e Aleksandr -, dirigentes da União da Juventude Comunista Leninista da Ucrânia, mais conhecida como ‘Komsomol’, ligada ao proscrito Partido Comunista da Ucrânia, presos desde março, sob pretexto de serem ‘espiões e propagandistas russos’, na quinta e na sexta-feira passada.
Eles foram proibidos de participar da audiência, aparecendo em vez disso por videoconferência, segundo o jornal inglês Morning Star. A audiência da semana passada foi aberta sem a presença de um advogado, a quem foi dito que não haveria julgamento. O juiz designado abriu o processo e ouviu o caso sem a presença dos arguidos ou do seu advogado.
Em mensagem dirigida ao Parlamento europeu, os dois irmãos instaram deputados europeus a irem a Kiev para presenciar como funciona o regime de Zelensky. “Não há democracia na Ucrânia e não pode haver dúvidas. Isto é evidenciado pela nossa detenção, pelo nosso julgamento”, afirmaram.
No dia 16 de fevereiro, os dois, como representantes da Komsomol no Comitê Antifascista da Ucrânia, participaram do protesto em frente à embaixada dos Estados Unidos em Kiev, condenando a expansão da Otan e a submissão do regime encabeçado por Volodymyr Zelensky a Washington.
Mikhail e Aleksandr também são conhecidos por sua participação em outras lutas contra o regime saído do golpe Maidan de 2014 – como contra a lei, em 2019, em que o governo Zelensky buscava abrir caminho para a privatização da terra no país, o que levaria em geral ao seu controle pelo agronegócio europeu ou americano e destituição dos agricultores ucranianos, que haviam recebido sua parcela de terra após o fim do socialismo, cuja venda ficava proibida. A Ucrânia tem mais terras agriculturáveis do que a França e a Alemanha juntas, e de qualidade superior.
O PC ucraniano foi banido sob a “lei de descomunização”, imposta após o golpe de 2014, depois de ter obtido na última eleição em que participou quase 3 milhões de votos, enquanto partidos fascistas eram legalizados abertamente e suas tropas de choque, tão úteis na praça Maidan, eram integradas oficialmente ao exército ucraniano, como ocorreu com o Batalhão Azov.
Na época, em entrevista ao jornal do PC norte-americano People’s World, Mikhail disse que a proibição ao PCU visava “limpar o campo político dos partidos de esquerda para que não interferissem na redução dos padrões sociais e na venda de terras”.
Comparando a luta com a resistência contra os invasores nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, ele acrescentara que “a venda de terras [públicas] é nossa Stalingrado – nem um passo atrás! Nenhuma venda de terra!” Na manifestação, realizada junto ao palácio de Zelensky, os manifestantes exigiram “não à venda das terras” e um “referendo sobre a terra”.
Em 2016, ao deixar flores em um monumento aos soldados do Exército Vermelho que lutaram contra Hitler, Mikhail e outros membros do Komsomol foram vítimas de um ataque de neonazistas. Ele sofreu sérios golpes na cabeça e outro integrante quase perdeu a visão.
As lideranças comunistas também vinham sendo perseguidas por pleitearem uma saída negociada para a crise no leste ucraniano, que se levantou contra o golpe de 2014, que passasse pela federalização do Donbass e preservação da unidade do país, nos moldes do que acabou acordado em Minsk, mas não foi cumprido pelo regime de Kiev. O conflito no leste ucraniano causou a perda de 15 mil vidas.
Um forte movimento internacional de solidariedade aos irmãos Kononovich basicamente preservou suas vidas, em um estádio da vida na Ucrânia em que dirigentes neonazis apregoavam abertamente a “morte aos pró-russos” e até mesmo um integrante da delegação de Kiev às negociações com a Rússia foi assassinado em plena rua e luz do dia.
De acordo com as informações obtidas pela Federação Mundial da Juventude Democrática (FMJD), da qual a agremiação dos jovens ucranianos é parte, o Serviço de Segurança da Ucrânia acusou os dois de serem “propagandistas” com o objetivo de “desestabilizar” a situação interna na Ucrânia – em suma, de atuar como “agentes da Rússia e da Bielorrússia”.
Em sua mensagem ao Parlamento Europeu, Mikhail e Aleksandr relataram que “ontem e hoje não fomos levados a tribunal”, acrescentaram que o regime “tem medo da verdade que dizemos, mas a verdade prevalecerá”.
“Queremos nos dirigir à esquerda europeia. Camaradas, nós apelamos aos deputados do Parlamento Europeu para que visitem a Ucrânia e atendam à nossa próxima sessão no tribunal. De modo que possam ver por si mesmos e contarem ao mundo inteiro como as pessoas são levadas a julgamento na Ucrânia”.
O caso contra os dois – repetiram – é “completamente forjado, do princípio ao fim”. Os Kononovich denunciaram outra mazela bem típica do regime neonazista no poder na Ucrânia, o racismo explícito, com a prisão também tendo como pretexto o fato de serem “bielorrussos étnicos”. “Sasha [Aleksandr] é o deputado da comunidade bielorrussa”, assinalou Mikhail. Os neonazis ucranianos se consideram eslavos de um tipo ‘superior’.
Os dois irmãos pediram, ainda, a presença de jornalistas europeus no julgamento “para que o mundo inteiro possa ver a verdadeira face do regime Zelensky”.