Refém de seu ataque machista, Bolsonaro encerra antes sua participação
Tudo ia bem no debate da TV Bandeirantes, para o mundo de fantasia repetido sem escrúpulos por Jair Bolsonaro (PL). Até que houve o confronto com a imprensa e o presidente não resistiu a um de seus ataques grosseiros contra as mulheres, em especial jornalistas. Ao sugerir desejo sexual por parte de Vera Magalhães, de O Globo e TV Cultura, simbólica e concretamente, ele encerrou sua participação no debate.
Até a candidata Soraya Thronicke (União Brasil), que é declaradamente antifeminista e foi eleita com apoio de Bolsonaro, foi ao ataque, dizendo a frase mais engraçada e definidora do que ocorreu: “Tem candidato que é tchutchuca com os homens e tigrão com as mulheres”, citou ela. O debate serviu para carimbar que o presidente é o candidato dos machistas.
No terceiro bloco do debate, Bolsonaro continuou preso ao tema que vem tentando neutralizar na campanha. A rejeição feminina a sua candidatura é notória nas pesquisas e sua esposa Michelle Bolsonaro é a arma secreta para tentar reconquistar, ao menos, o voto feminino evangélico. No entanto, o ataque grosseiro à jornalista e a primeira e direta pergunta de Simone Tebet, acabou reforçando o nocaute. “Por que tanta raiva das mulheres?”, disse ela citando a defesa que Bolsonaro faz de agressores de mulheres.
Apesar do sentimento generalizado de machismo e misoginia de Bolsonaro, que se reflete nas intenções de voto, ele volta a se defender simplesmente negando que seja agressivo com mulheres. Suas respostas são um corolário de fantasias sobre o que supostamente defende, e não sobre o que fez.
Em sua oportunidade de pergunta, Bolsonaro podia se dirigir às candidatas, mas preferiu dialogar com Ciro, para não dar oportunidade a mais verdades contra ele. Citou para Ciro seus programas sociais para atender mulheres, que poucos conhecem porque existem para constar no papel, mas atendem muito poucas pessoas.
Ciro, por sua vez, voltou à carga sobre o assunto ao defender a jornalista do ataque machista e lembrou outros episódios de desqualificação da mulher por Bolsonaro. Disse até que ele corrompeu suas ex-mulheres, envolvendo-as em escândalos. Restou a Bolsonaro pedir desculpas por suas declarações machistas.
Fabíola Cidral ainda dirigiu-se a Bolsonaro perguntando sobre aumento de feminicídio, estupros e queda no investimento de políticas públicas para mulheres. O presidente praticamente negou o cenário apresentado pela jornalista, dizendo que o número de vítimas de feminicídio e violência caiu em seu governo. Também disse que não precisa inventar políticas novas voltadas para as mulheres e citou o voluntariado da primeira-dama, “conversando, de fato, com as mulheres”.
Bolsonaro frequentemente cita números aleatórios de fácil verificação da imprecisão. Falou em 60 leis de proteção à mulher, errando por 20, sendo que 26 delas nada têm a ver com o assunto. Ainda citou leis que ele mesmo vetou e o Congresso sancionou. Foi o caso da distribuição de absorventes para estudantes carentes.
Em suas considerações finais, Lula prestou sua solidariedade “à jornalista que foi agredida” e lembrou que indicou a primeira mulher à Presidência da República em seu partido. Ele mencionou os ataques machistas sofridos pela presidenta Dilma Rousseff, quando de seu impeachment.
Por Cezar Xavier