Levante chileno chega a Concepción, Valparaíso, Viña del Mar e Iquique - Publimetro

A revogação do aumento das tarifas do metrô da capital do Chile, Santiago, não parou a revolta popular contra o arrocho imposto pelo governo Piñera, mostrando que a medida foi apenas o estopim que provocou a conflagração na capital Santiago.

Manifestantes desafiaram o toque de recolher imposto no sábado, 19, após o governo já ter decretado estado de emergência, e continuaram nas ruas.

A cidade amanheceu neste domingo (20) praticamente ocupada pelas Forças Armadas, na frustrada tentativa do governo de Sebastián Piñera de conter a maior onda de protestos em décadas na capital. Três pessoas morreram durante um incêndio em um supermercado na madrugada deste domingo; 9.500 integrantes das Forças Armadas foram mobilizados para atuar contra os protestos.

“Escutei com humildade a voz de meus compatriotas e não terei medo de seguir escutando esta voz. Vamos suspender o aumento nas passagens do metrô”, disse em uma transmissão Piñera, anunciando no sábado a suspensão do aumento de 30 pesos (uns 20 centavos dos 4,8 reais em que estava) na passagem de metrô na capital Santiago. Mas  ameaçou: “os responsáveis, os violentos vão pagar por suas culpas”.

Apesar desse recuo, os chilenos não acreditam nas intenções do governo de resolver os problemas causados pelo arrocho imposto à população.

As mobilizações continuaram na capital  e se estenderam a mais cidades como Concepción, Valparaíso, Viña del Mar, Iquique, Antofagasta e Coquimbo, entre outras.

Sob a consigna #EvassãoemMassaTodooDia, repudiando o aumento do bilhete do Metrô, milhares de pessoas – em sua maioria estudantes – se manifestaram, reunindo-se desde a segunda-feira, 14, para derrubar as grades de acesso e saltar as catracas das estações.

Aos gritos de “basta de abusos”, e com a consigna “Chile Acordou”, a revolta contra o aumento das tarifas foi o estopim que radicalizou  o protesto contra o modelo econômico herdado da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990), em  que o acesso à saúde e à educação é praticamente privado, com grande desigualdade social, baixos salários, valores de pensões reduzidos e alta do preço dos serviços básicos. A força dos protestos surpreendeu o governo. Poucos dias antes, Piñera tinha afirmado que o Chile era uma espécie de “oásis” na região.

Em abril e maio, uma multidão tomou as ruas de Santiago e das principais cidades do Chile para exigir o aumento imediato de 20% nas aposentadorias e um “novo modelo previdenciário digno, com redistribuição solidária”. Os manifestantes disseram um não à reforma que o presidente quer implementar na Previdência, mantendo o figurino neoliberal ditado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pelo Banco Mundial. “Piñera pretende continuar incorporando medidas que não fazem nada além de manter o respirador artificial deste sistema que está em colapso, o que parece ser uma provocação”, declarou Luis Mesina, porta-voz do movimento No+AFP, organizador da mobilização, para quem “é hora de vincular, pouco a pouco, passo a passo as lutas dos movimentos sociais”. E estão se vinculando.

No contexto do ‘estado de emergência’, no sábado, 19, o general Javier Iturriaga decretou toque de recolher na capital das 10 da noite até as 7 da manhã de domingo. A medida, anunciada com apenas duas horas de antecipação, não intimidou centenas de pessoas que durante toda a madrugada marcharam pelas ruas e continuaram instalando barricadas, muitas com fogo.

Na Praça Itália, cenário de alguns dos maiores protestos, desde a sexta-feira, 18, se espalharam dezenas de militares, turbinando a indignação dos manifestantes, muitos dos quais os enfrentaram diretamente ou lhes jogaram fotografias de desaparecidos durante a sangrenta ditadura pinochetista.

Apesar dos protestos acontecerem desde a segunda, 14, o caos se aprofundou na sexta por todo Santiago, com enfrentamentos em vários pontos, saques e incêndios. Além dos três mortos de domingo, pelo menos 167 feridos, 308 pessoas detidas e 78 das 136 estações do metrô quebradas foi o saldo preliminar do levante na capital chilena, segundo informações do dia 19.

O Metrô permanecerá fechado no domingo e as autoridades não informaram quando voltará a operar.

No confronto com a polícia, mais de 20 ônibus de transporte público foram queimados perto da Praça Itália, o que levou à empresa Transantiago à suspensão temporária de todo o serviço, deixando a capital praticamente sem transporte público.

Com uma extensão de 140 quilômetros, o Metrô de Santiago é o mais extenso da América do Sul. Na América Latina, é superado apenas pelo da Cidade do México. É o eixo principal do transporte público de Santiago, com 3 milhões de passageiros diários.