Instalação do reator de fusão nuclear, também conhecido como “Sol Artificial” chinês

A China se aproxima do domínio da fusão nuclear para a produção sustentável de energia limpa em larga escala.

O “Sol Artificial”, como é conhecido o reator de fusão nuclear chinês Tokamak Superconductor Experimental Avançado (EAST, na sigla em inglês), atingiu no dia 31 de dezembro último um novo recorde no que diz respeito à energia renovável, mantendo uma alta temperatura de plasma por 1.056 segundos, a mais longa duração já obtida em reator experimental para este tipo de energia, informou a agência de notícias Xinhua.

“Alcançamos uma temperatura plasmática de 120 milhões de graus Celsius por 101 segundos em um experimento no primeiro semestre de 2021. Desta vez, a operação de plasma de estado estável foi sustentada por 1.056 segundos a uma temperatura próxima a 70 milhões de graus Celsius, estabelecendo uma sólida base científica e experimental para a execução de um reator de fusão”, assinalou Gong Xianzu, pesquisador do Instituto de Física do Plasma da Academia Chinesa de Ciências, que liderou a última experiência.

O “sol artificial” foi assim batizado porque seu objetivo é recriar a fusão nuclear, que é um processo semelhante ao que acontece nas estrelas, inclusive no Sol, algo que poderia se tornar uma fonte quase inesgotável de energia limpa e renovável por longos períodos de tempo, reduzindo custos e apontando para a sustentabilidade energética.

“Ao contrário dos combustíveis fósseis como o carvão, petróleo e gás natural, que correm o risco de se esgotar e representam uma ameaça ao meio ambiente, as matérias-primas necessárias para o “sol artificial” são quase ilimitadas na Terra. Portanto, a energia de fusão é considerada a ‘energia final’ ideal para o futuro da humanidade”, disse Gong.

“No caso do sol, a fusão entre dois átomos de hidrogênio forma um átomo de hélio. Uma vez que o hélio é mais leve, o restante da massa é liberada na forma de energia térmica. A ideia dos cientistas chineses é replicar o mesmo processo no Tokamak usando o deutério, um isótopo do hidrogênio, mais pesado pela presença de nêutron em seu núcleo. O deutério é encontrado em abundância no oceano e o sucesso do experimento pode significar a descoberta de uma fonte de energia inesgotável e limpa”, explicou a revista Galileu.

O EAST está localizado na cidade de Hefei, que fica cerca de 500 km a oeste de Xangai, na China. O aparelho possui em torno de 11 metros de altura, oito metros de diâmetro, com um peso aproximado de mais de 400 toneladas.

Cientistas chineses começaram a trabalhar no projeto já em 2006, com o desenvolvimento de variantes menores do reator de fusão nuclear, investindo no aperfeiçoamento desse reator – ou sol artificial chinês – com o objetivo de obter a fonte de energia renovável quase inesgotável. Por essa razão, a China segue aperfeiçoando e reavaliando as possibilidades de melhorias, para que seja possível a sua utilização o mais breve possível.

Outros dois reatores fazem parte do projeto do Instituto Hefei de Ciências Físicas da Academia de Ciências da China. Os reatores ficam próximos ao EAST, porém são menores que ele. Um dos reatores foi instalado no sudoeste da China, na cidade de Chengdu, e o outro reator foi construído em Wuhan.

O país planeja construir outro reator experimental já neste ano, criar um protótipo industrial até 2035 e estabelecer seu uso comercial em larga escala até 2050.

Pequim lançou em novembro de 2021 um plano nacional de desenvolvimento de tecnologia comprometendo-se a alcançar avanços em tecnologias essenciais, incluindo inteligência artificial, ciência aeroespacial e exploração profunda da Terra e do oceano.

A equipe de cientistas da China também vai oferecer suporte técnico para outro megaprojeto de reator de fusão nuclear atualmente em construção em Marselha, França: o ‘International Thermonuclear Experimental Reactor’ (ITER).