O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, disse que fechar aeroportos a africanos é discriminação

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, exortou ao levantamento “imediato e urgente” das recém instauradas restrições a viajantes vindos do sul do continente africano decretadas por vários países após a descoberta da variante ômicron da Covid-19.

“Estas restrições são injustificadas e discriminam injustamente o nosso país e os nossos países irmãos da África Austral”, afirmou Ramaphosa, denunciando-as como sem base científica [não determinada pela OMS] e ineficazes na prevenção da disseminação da nova cepa.

“Apelamos a todos os países que impuseram proibições de viagens ao nosso país e aos nossos países irmãos da África Austral para reverter urgentemente as suas decisões e suspender a proibição que impuseram antes que qualquer dano adicional seja causado às nossas economias e aos meios de subsistência do nosso povo”.

O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, afirmou que “o povo africano não pode ser responsabilizado pelo nível imoralmente baixo das vacinas disponíveis na África, e não deve ser penalizado por ter identificado e partilhado as informações científicas e sanitárias essenciais com o mundo”, segundo a agência AFP.

“Com a variante ômicron agora detectada em várias regiões do mundo, adotar proibições de viagem mirando a África afronta a solidariedade global”, disse a diretora regional da Organização Mundial da Saúde (OMS) Matshidiso Moeti.

O Malawi repudiou o fechamento de vários países à chegada de pessoas vindas do sul do continente africano como “afrofobia”. Conforme Ramaphosa, já foram detectados casos em Hong Kong e países como Austrália, Bélgica, Itália, Reino Unido, Alemanha, Áustria, Dinamarca e Israel.

Para viajar da África do Sul, é exigido um certificado de vacinação e um teste PCR negativo feito até 72 horas antes da viagem, e que sejam usadas máscaras durante a viagem.

O virologista sul-africano Shabir Madhi disse à Al Jazeera que é “ingênuo” que líderes mundiais “acreditem que podem impedir a propagação desta variante com uma proibição geral aos países da África Austral”.

“O vírus já encontrou o seu caminho para estas sociedades a partir de indivíduos que nem sequer viajaram para ou entraram em contato com alguém da África Austral”, disse ele. “Na África do Sul, temos uma das melhores capacidades de sequenciação de Covid do mundo, baseada na nossa experiência no tratamento do HIV e da tuberculose. Já há algum tempo que estamos à frente do jogo e somos assim uma vítima do nosso sucesso”.

“Desigualdade vacinal”

“Não há justificativa científica para manter essas restrições em vigor. Sabemos que esse vírus, como todos os vírus, sofre mutação e forma novas variantes. Também sabemos que a probabilidade de surgimento de formas mais graves de variantes aumenta significativamente quando as pessoas não são vacinadas”, afirmou o presidente Ramaphosa.

“É por isso que nos juntamos a muitos países, organizações e pessoas ao redor do mundo que têm lutado por igualdade de acesso às vacinas para todos. Dissemos que a desigualdade da vacina não só custa vidas e meios de subsistência nos países cujo acesso é negado, mas também ameaça os esforços globais para superar a pandemia”.

“O surgimento da variante ômicron deve ser um alerta para o mundo de que a desigualdade da vacina não pode continuar”, ressaltou Ramaphosa.

Ele advertiu que “até que todos sejam vacinados, todos estarão em risco”. “Até que todos sejam vacinados, devemos esperar que mais variantes surjam”.

“Em vez de proibir viagens, os países ricos do mundo precisam apoiar os esforços das economias em desenvolvimento para acessar e fabricar sem demora doses de vacina suficientes para seu povo”, concluiu.

Entre os países citados por Ramaphosa por fecharem as portas, estão Reino Unido, Estados Unidos, membros da União Europeia, Canadá, Turquia, Omã, Emirados Árabes Unidos, Austrália, Japão e Tailândia.

Decisão que ele classificou de “um afastamento claro e totalmente injustificado do compromisso que muitos desses países assumiram na reunião dos países do G20 em Roma no mês passado”, entre eles o de reiniciar de maneira segura e ordenada as viagens internacionais.

Ramaphosa também assinalou que a identificação precoce desta variante “é o resultado do excelente trabalho feito por nossos cientistas na África do Sul” – a quem parabenizou – e “do investimento que nossos Departamentos de Ciência e Inovação e Saúde fizeram em nossas capacidades de vigilância genômica”.

41% dos adultos com ao menos de uma dose

Ramaphosa revelou que 41% da população adulta recebeu pelo menos uma dose de vacina e 35,6% dos sul-africanos adultos estão totalmente vacinados contra COVID-19. Significativamente, 57% das pessoas com 60 anos ou mais estão totalmente vacinadas e 53% das pessoas com idade entre 50 e 60 anos estão totalmente vacinadas.

Dirigindo-se a seu povo, Ramaphosa conclamou a acelerar a vacinação. “Esta noite, gostaria de pedir a todas as pessoas que não foram vacinadas que se dirijam sem demora ao posto de vacinação mais próximo. Se houver alguém em sua família ou entre seus amigos que não foi vacinado, eu convido você para incentivá-lo a se vacinar”.

A vacinação – destacou – é, de longe, “a forma mais importante de proteger você e as pessoas ao seu redor contra a variante ômicron, para reduzir o impacto da quarta onda e ajudar a restaurar as liberdades sociais que todos ansiamos”.

Vacina já!

“A vacinação também é vital para o retorno de nossa economia ao pleno funcionamento, para a retomada das viagens e para a recuperação de setores vulneráveis como o turismo e a hotelaria. Ao sermos vacinados, não estamos apenas nos protegendo, mas também reduzindo a pressão sobre nosso sistema de saúde e nossos profissionais de saúde”, disse Ramaphosa.

“As vacinas funcionam. As vacinas estão salvando vidas. Cada um de nós precisa ser vacinado.

Cada um de nós precisa praticar os protocolos básicos de saúde, como usar máscaras, lavar ou higienizar as mãos regularmente e evitar espaços lotados e fechados”, enfatizou.

Para encerrar, ele afirmou: “Cada um de nós precisa assumir a responsabilidade por nossa própria saúde e pela saúde das pessoas ao nosso redor. Não seremos derrotados por esta pandemia. Vamos perseverar, vamos vencer e vamos prosperar. Deus abençoe a África do Sul e proteja seu povo”.