Invasão em estúdio de rádio está sendo investigada pela delegacia do município

Um grupo de apoiadores de Jair Bolsonaro invadiu uma rádio na cidade de Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco, para intimidar um apresentador que fez críticas à gestão do governo no enfrentamento da pandemia de Covid-19.

A agressão ocorreu na noite da última terça-feira (6), quando quatro homens invadiram o estúdio da rádio e ameaçaram o radialista Júnior Albuquerque, que tem um programa que faz análises sobre questões políticas.

O comentário que não agradou os bolsonaristas ocorreu no dia 30 de março. O assunto era a gravidade da crise sanitária do novo coronavírus no Brasil. Na ocasião, o comunicador alertou os eleitores do presidente para as responsabilidades que eles também têm sobre os rumos do governo e pediu que cobrassem de Bolsonaro uma mudança de postura.

“Eu fiz uma alusão a Hitler, falando que ele não podia ser culpado, sozinho, por todo o genocídio da Alemanha na década de 1930 e 1940, com a Segunda Guerra Mundial, que ele só havia conseguido chegar ao poder e fazer o que fez porque teve gente dando cobertura, apoiando, fazendo fake news, já naquela época. E eu disse: ‘Vocês, eleitores de Bolsonaro, se não mudarem de postura, passando a cobrar do presidente que mude a política sanitária genocida que o Pazuello (na época o Ministro da Saúde) está fazendo, vocês também serão culpados e a história vai dizer isso”, disse Albuquerque.

O jornalista revelou que alguns defensores de Bolsonaro ficaram incomodados com o comentário e, através do WhatsApp, começaram a dizer que invadiriam a rádio na semana seguinte.

“Tentaram me intimidar”, disse. Ele continuou o relato: “Aí, na terça-feira, concretizaram. Falaram que me esperariam fora da rádio para me agredir. Mas foram embora após a gente acionar a Guarda Municipal”.

Júnior Albuquerque registrou um boletim de ocorrência na mesma noite do ocorrido e disse que também vai prestar uma queixa no Ministério Público nesta sexta-feira (9). A Polícia Civil de Pernambuco informou que o caso está sendo investigado pela delegacia do município.

Os momentos de tensão dentro do estúdio foram registrados por celular. As imagens já circulam nas redes sociais. No vídeo, é possível ver um homem, que não foi identificado, sendo contido por outros profissionais. Ele chegou a ameaçar agredir fisicamente o radialista e dizer que o esperaria do lado de fora da rádio ao final do programa.

Em nota, a Associação das Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) repudiou o episódio. Segundo a entidade, a invasão da rádio e as ameaças ao jornalista refletem a existência de um clima de ameaça à liberdade de imprensa no país.

O ex-governador Ciro Gomes (PDT) também se manifestou Twitter repudiando a ação e prestou sua solidariedade ao radialista. “Não podemos tolerar a invasão de uma rádio e tentativa de agressão pelo simples fato de criticarem Bolsonaro. Que a Polícia e o MP investiguem e punam os marginais! Minha solidariedade ao radialista Júnior Albuquerque e a todos da Rádio Comunidade de Santa Cruz do Capibaribe(PE)”, escreveu.

A vice-governadora de Pernambuco e presidente do PCdoB, Luciana Santos, condenou a ação miliciana. “Absurda a invasão à rádio Comunidade FM de Santa Cruz do Capibaribe e as ameaças ao radialista Junior Albuquerque. Esse tipo de comportamento é um ataque emblemático à liberdade de expressão e não pode, de modo algum, ser tolerado. Minha solidariedade a Junior e a todos da rádio”, disse.