Jair Bolsonaro (sem partido)

Fosse uma eleição normal, entre direita X esquerda, dentro da “série clássica” que norteou as eleições brasileiras desde o fim da ditadura (Collor x Lula, FHC x Lula, Alckmin, Serra e Aécio x Lula e Dilma), uma aliança bem mais ampla do que as clássicas “Frentes de Esquerda” até faria sentido para 2022. Mas não estamos numa situação rotineira e quem não enxerga isso precisa abrir os olhos rápido!

Por Altair Freitas*

O fenômeno do neofascismo não é exclusivo do Brasil, sendo algo bastante disseminado pelo mundo. Resultado da crise capitalista (como foi nos anos 20 e 30, também em escala global), atinge quem está no poder, seja a direita civilizada, neoliberal mas comprometida com certos pilares da civilidade, seja a esquerda, com suas múltiplas vertentes.

Ora, no Brasil, o neofascismo ocupa o poder executivo central e vários outros espaços institucionais da federação. Já deu provas de que é defendido por uma parcela da população, minoritária sim mas altamente mobilizável, potencialmente armada e disposta à carnificina.

A ele alinham-se setores políticos que sempre navegam em águas obscuras faturando alto, como a turma do Centrão, setores empresariais atrasados e predatórios, “rebanhos” conduzidos por “religiosos” da pior espécie, parcelas militares, etc.

Quem olha para o atual presidente e o considera derrotado comete um erro de avaliação monstruoso.

Ao que tudo indica, não vamos remover o insano presidente antes da disputa eleitoral, algo que precisa ser tentado até aonde for possível mas, parece, cada vez mais distante.

Logo, além dos evidentes movimentos do neofascismo em aplicar um golpe de destruição do pouco de democracia que nos resta, a possibilidade de termos uma polarização entre Esquerda X Extrema Direita num segundo turno tende a repetir o que todas as forças de centro-direita fizeram em 2018, compondo uma frentona anti-esquerda. Preferem ter o atual governo recomposto, do que ver uma frente de esquerda “purinha” no poder.

Por isso é que se torna fundamental haver uma articulação mais ampla, da esquerda para o centro, para fazer esse enfrentamento, rompendo o isolamento da esquerda, que segue intenso, a despeito do que possam indicar pesquisas eleitorais um ano antes da eleição, como acontece hoje.

O atual governo e seus aliados estão movendo mundos para reacumular parte da força perdida em 20/21.

Política é filme e não foto.

Viabilizar alianças políticas mais amplas e articular um programa emergencial de recuperação nacional é fundamental, sem ilusões sobre “avançar para o socialismo” (o que só se daria mesmo com uma ampla alteração na correlação de forças em uma situação de explosão revolucionária, o que não me parece viável no curto prazo), mas que possibilite recompor elementos básicos de desenvolvimento econômico e combate à miséria, de fortalecimento do Estado Nacional e retomada de políticas públicas essências.

Trazer para este campo forças, partidos e movimentos que não são de esquerda é fundamental.

O oposto, significa caminhar  cantando e seguindo a canção para mais uma tragédia.

__

*Historiador, professor aposentado, diretor da Escola Nacional João Amazonas, secretário de organização do PCdoB da cidade de São Paulo.

 

As opiniões aqui expostas não refletem necessariamente a opinião do Portal PCdoB