Queimada Pantanal | Foto: José Cruz/Agência Brasil

A destruição no Pantanal e na Amazônia provocada pelo fogo registrou recorde histórico neste mês de setembro, segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), nesta quinta-feira (1°/10)

O Pantanal registrou 8.106 focos de queimadas em setembro, maior número para um único mês desde que o balanço começou a ser realizado, em junho de 1998. O antigo recorde em um mês era de 5.993, em agosto de 2005. Já o pior setembro, até aqui, havia sido o de 2007 com 5.498 focos.

Em setembro, houve um aumento de 180% nos incêndios no Pantanal em relação ao mesmo mês do ano passado.

Além do recorde mensal, os incêndios no bioma também bateram o recorde anual. De janeiro a setembro, o Pantanal sofreu com 18.259 focos. Ainda faltando 3 meses para acabar o ano, a marca já é maior que os 12.486 focos registrados em 2002 – ano do antigo recorde.

Em relação ao mesmo período do ano passado, os focos cresceram 201,7%.

Os dados do Inpe confirmam que o Pantanal enfrenta os piores incêndios das últimas décadas. Segundo uma análise da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), 23% do bioma, que abriga a maior população de onças-pintadas do mundo, já foi queimado.

O Inpe registrou também crescimento dos focos de incêndio na Amazônia em setembro. Foram 32.017, um aumento de 61% em comparação com o mesmo período do ano anterior (19.925). O bioma teve o segundo pior setembro de queimadas dos últimos dez anos, cujo recorde ficou com 2017, quando foram registrados 36.569 focos.

O número, porém, é menor do que o recorde histórico para o mês, registrado em setembro de 2007, quando houve 73.141 focos de incêndio na região.

Em comparação com os nove primeiros meses do ano passado, quando a Amazônia registrou 66.749 focos de incêndio, as queimadas em 2020, no mesmo período, tiveram um aumento de 14%, chegando a 76.030 focos.

Na Amazônia, grande parte das queimadas e dos incêndios florestais estão relacionados ao processo do desmatamento ilegal na região, assim como no Pantanal, onde o Centro Integrado Multiagências de Coordenação Operacional (Ciman-MT) realizou perícias e constatou que a origem dos incêndios é criminosa e pontencializada pela pior seca das últimas décadas na área.

Os dados divulgados nesta quinta-feira estão na contramão do discurso feito na véspera por Jair Bolsonaro, na Cúpula da Biodiversidade das Nações Unidas. O presidente insistiu em minimizar o número de incêndios no país e destacou ações do governo para combater o desmatamento.

“Na Amazônia, lançamos a Operação Verde Brasil 2, que logrou reverter, até agora, a tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores. Vamos dar continuidade a essa operação para intensificar ainda mais o combate a esses problemas que favorecem as organizações que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior”, disse Bolsonaro, mais uma vez acusando organizações não governamentais sem apresentar qualquer prova.

Bolsonaro, além de criticar a divulgação de dados sobre queimadas e acusar – sem provas – entidades que atuam na região, associa ao seu discurso uma falaciosa defesa da soberania usando dados gerais de conservação do país, na tentativa de rebater os fatos e desconsiderando os dados do seu próprio governo.

“Rechaço de forma veemente a cobiça internacional sobre a nossa Amazônia. E vamos defendê-la de ações e narrativas que agridam a interesses nacionais”, disse no pronunciamento.

Ambientalistas, no entanto, garantem que o aumento da devastação, tanto na Amazônia quanto no Pantanal, é fruto do abandono de políticas de preservação por Bolsonaro e seus ministros.

O incômodo com a exposição da realidade feita pelo Inpe e outros órgãos também incomodou Hamilton Mourão, vice-presidente e chefe do Conselho da Amazônia.

Recentemente, sem citar nomes ou apresentar provas, Mourão disse a jornalistas que “é alguém lá de dentro que faz oposição ao governo. Eu estou deixando muito claro isso aqui. Quando o dado é negativo, o ‘cara’ vai lá e divulga. Quando é positivo, não divulga”. Quando questionado sobre quem seria esse opositor, o vice-presidente desconversou: “Não sei, não sou diretor do Inpe”.

O pesquisador do instituto, Gilvan Sampaio, responsável justamente pelo monitoramento das queimadas, refutou as declarações do vice-presidente e ressaltou: “jamais faria manipulação de dados”.

De acordo com o cientista do Inpe, o instituto enviou um esclarecimento ao gabinete do vice-presidente após ele negar incêndios na Amazônia. “Sou servidor de carreira do Inpe e jamais faria manipulação de dados. O Inpe enviou na sexta um esclarecimento ao gabinete do vice-presidente. Como ele falou isso hoje, acredito que ainda não tenha chegado até ele”, disse Gilvan, que ao assumir o cargo deixou claro que não aceitaria manipular dados.

Semana passada, a Secretaria de Comunicação (Secom) publicou em redes sociais uma informação falsa sobre queimadas. O órgão, vinculado à Presidência da República, afirmou com um infográfico que a “área queimada em todo o território nacional é a menor dos últimos 18 anos”. Para tal afirmação, a publicação comparou os dados de incêndios de oito meses de 2020 com dados de anos inteiros anteriores, o que induz a uma leitura errada do assunto.

A publicação da Secom foi reproduzida pelos ministros do Meio Ambiente, Ricardo Salles, e das Comunicações, Fábio Faria, e pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho mais velho de Bolsonaro que viraram chacota nas redes sociais.