Queda no rendimento do brasileiro reflete desemprego e carestia
A queda de 6,9% no rendimento médio mensal real domiciliar por pessoa em 2021, anunciada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (10), reflete o alto índice de pessoas desempregadas no país associado ao efeito da carestia no bolso dos trabalhadores e aposentados. “Temos 11 milhões de desempregados no país, é um número recorde. E a renda média caiu também porque houve uma redução na massa salarial real, de 3,1%, ou seja, as pessoas que estão empregadas estão ganhando menos. É uma catástrofe”, afirmou ao Portal Vermelho o professor do Instituto de Economia da UFRJ André Modenesi.
O rendimento médio mensal real domiciliar per capita em 2021 foi de R$ 1.353, o menor valor da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. O percentual de pessoas com rendimento na população do país caiu de 61,0% em 2020 para 59,8% em 2021, o mais baixo da série. No mesmo período, apesar de um ligeiro aumento da população ocupada, a massa do rendimento mensal real de todos os trabalhos caiu de R$ 223,6 bilhões para R$ 216,7 bi.
Além da queda no rendimento médio real de R$ 1.454 em 2020 para R$ 1.353 em 2022, os dados do IBGE evidenciam também o aumento da desigualdade medida pelo Índice de Gini, considerando toda a população, que aumentou de 0,524 em 2020 para 0,544 em 2021. No caso deste indicador, o patamar zero representaria uma situação de igualdade na renda de toda a população. Ou seja, quanto mais alto, mais o país está se distanciando da situação de menor concentração da riqueza.
Pobres cada vez mais pobres
Em 2021, o rendimento médio do 1% da população que ganha mais era 38,4 vezes maior que o rendimento médio dos 50% que ganham menos. Ao todo, 106,35 milhões de brasileiros subsistiram com R$ 415 por mês por pessoa, que correspondem a R$ 13,83 por dia, valor 7,4% inferior ao apurado em 2012.
Para Modenesi, o aumento da distância entre ricos e pobres no país está diretamente relacionado à inflação de alimentos no país. “A perversidade do nosso tipo atual de inflação, de alimentos, explica a piora da desigualdade de renda. As classes mais baixas gastam uma parcela maior com alimentação. São processos que estão associados”, considerou.
De 2020 para 2021, enquanto o rendimento dos 5% mais pobres caiu de R$ 59 para R$ 39 por mês (uma queda de quase 34%), o 1% mais rico da população sofreu um achatamento de 6,4%, que corresponde a uma redução de R$ 17 mil para R$ 15,9 mil.
De acordo com o IBGE, o aumento das desigualdades relaciona-se também à queda no percentual de domicílios com alguém recebendo recursos de programas sociais, como o auxílio emergencial, que caiu de 23,7% para 15,4%. “Foi um benefício apenas emergencial. Agora que a gente está tirando ele, a gente está vendo que ele cumpriu o papel ali de não deixar a renda cair tanto em 2020, mas em 2021 essa queda veio e a desigualdade voltou para o padrão que estava. As rendas estão menores e tivemos a questão inflacionária. Então, estamos em situação pior em 2021 em termos de renda”, disse a analista da pesquisa, Alessandra Scalioni Brito.
Pelo critério do rendimento médio real a pesquisa aponta também desigualdades regionais entre as regiões do Brasil. Na região Sudeste o rendimento passou de R$ 1.742 para R$ 1.645 no período; na região Sul, de R$ 1.738 para R$ 1.656; na região Norte, de R$ 966 para R$ 871; e na região Nordeste, de R$ 963 para R$ 843; na região Centro-Oeste, a variação foi de R$ 1.626 para R$ 1.534.
“O mercado de trabalho é mais informalizado no Norte e no Nordeste, então, a renda do trabalho ali tende a ter uma distribuição mais desigual. As regiões Norte e Nordeste tendem a receber mais benefícios de programas sociais e como houve essa mudança no auxílio emergencial, elas foram mais afetadas entre 2020 e 2021. Por isso tiveram esse aumento de desigualdade maior que em outras regiões”, analisou Alessandra.
Com informações do portal do IBGE