"Há forte risco de retorno de doenças eliminadas ou aumento na transmissão daquelas que vinham sendo controladas", diz Alice. Foto: reprodução

Dados de 2019 do Programa Nacional de Imunizações (PNI) apontaram que o Brasil não atingiu a meta para nenhuma das principais vacinas indicadas para crianças até um ano de idade. É a primeira vez que isso acontece em 20 anos. Os dados, analisados pela Folha de S.Paulo, indicam ainda que a pandemia pode ainda agravar a queda dos índices.

Para a deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), a queda também reflete a política negacionista de Jair Bolsonaro (sem partido).

“A cobertura vacinal de bebês e crianças registra queda de até 27% para alguns imunizantes. Há forte risco de retorno de doenças eliminadas ou aumento na transmissão daquelas que vinham sendo controladas. Isso é muito preocupante e é reflexo da política negacionista de Bolsonaro”, alertou.

Em julho, a Organização Mundial de Saúde (OMS) já havia alertado para a queda da vacinação no país e no mundo. No levantamento da OMS, o Brasil aparecia como um dos países que mais regrediu nos últimos cinco anos, com índice hoje de pouco mais de 70% de cobertura para difteria, tétano e coqueluche. A queda na cobertura universal de vacinas para crianças foi de 23 pontos percentuais entre 2015 e 2019, a mesma taxa de redução registrada na Venezuela, país em crise humanitária. Apenas a Líbia, país em guerra, e Samoa, registraram uma queda superior aos índices do Brasil.

Os dados analisados pela Folha reforçam o alerta da OMS. De acordo com a análise do PNI, em 2019, nenhuma vacina atingiu a meta entre o grupo de bebês e crianças até um ano completo — em 2018, mesmo em queda, 3 das 9 principais indicadas a esse grupo atingiram o patamar ideal.

Em outros momentos, o Brasil também chegou a ter até sete vacinas com cobertura dentro do ideal, com as demais próximas desse cenário.

Os números de 2019, assim, trazem um novo alerta a um país reconhecido por ter um dos maiores e mais bem-sucedidos programas de imunização do mundo.

Governo negacionista

Declarações recentes do presidente Jair Bolsonaro de que ninguém é obrigado a se vacinar contra a Covid-19 podem reforçar o movimento antivacina no país.

Nesta segunda-feira (7), uma mostra disso foi encampada por um grupo de bolsonaristas, que se autodenomina como “Curitiba Patriota”. Num ato na capital paranaense para marcar o Dia da Independência do Brasil, o grupo promoveu uma verdadeira campanha contra a vacinação e defenderam o uso de hidroxicloroquina, invermectina e zinco para tratamento da Covid-19 – assim como Bolsonaro tem pregado.

“Não queremos a vacina, nós temos a cloroquina!”, dizia um dos cartazes erguidos pelo grupo.

Para Alice Portugal, a campanha contra vacinação disseminada por Bolsonaro pode trazer graves prejuízos ao combate à pandemia e a outras doenças. “Ao desestimular a vacinação, Bolsonaro atenta contra a Constituição, que determina que saúde é um direito de todos e um dever do Estado”, disse.

A líder da bancada do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC), também criticou o ato antivacina. Em tom de revolta, a parlamentar utilizou suas redes para questionar seus seguidores sobre o que gostariam de dizer ao grupo bolsonarista.

Incrédula, a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) também utilizou suas redes para questionar o ato.

 

 

(PL)