Putin debate com partidos sobre o papel do Estado frente às sanções
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, se reuniu com representantes da Duma (Câmara de Deputados da Rússia) e líderes de cinco partidos para debater medidas econômicas na contenção dos danos das sanções e no enfrentamento da Guerra Fria agora reeditada por Washington.
Segundo Putin, a Duma aprovou – neste período de tensões – “muitas resoluções e leis” que garantiram assistência às famílias e à economia russa depois que os Estados Unidos e a União Europeia impuseram as sanções.
Esses pacotes “antissanções” fizeram com que o resultado delas fosse minimizado. As sanções “estão claramente criando dificuldades para nós, mas não tão grandes quanto os iniciadores dessa blitzkrieg econômica contra a Rússia estavam contando”, afirmou o presidente.
Transição para um mundo multipolar
Putin também defendeu que os avanços da Rússia na guerra na Ucrânia significam “o início de um colapso radical da ordem mundial ao estilo dos EUA. Este é o início da transição do egocentrismo liberal-globalista americano para um mundo verdadeiramente multipolar”.
O mundo multipolar deverá ser baseado no “direito internacional e na soberania genuína das nações e civilizações”, prosseguiu.
Participaram do encontro, realizado no começo de julho, o presidente da Duma, Vyacheslav Volodin, os presidentes do Partido Comunista da Federação Russa, Gennady Zyuganov, do Partido Liberal-Democrata, Leonid Slutsky, do Rússia Justa – Pela Verdade, Sergei Mironov, e do Gente Nova, Alexei Nechayev, além do líder parlamentar do Rússia Unida, Vladimir Vasilyev.
O presidente russo observou que os países da União Europeia seguiram as sanções impostas pelos EUA contra a Rússia sem entender suas consequências.
Agora, com o preço dos combustíveis e dos alimentos subindo desenfreadamente, parcelas da sociedade já manifestam que “estão cansadas de se ajoelhar, de se humilhar perante aqueles que se consideram excepcionais e de servir os seus interesses mesmo em detrimento próprio”.
“Há um entendimento crescente de que a obediência cega de suas elites dominantes ao seu senhor, via de regra, não necessariamente coincide com seus interesses nacionais e, na maioria das vezes, simplesmente e mesmo os contradiz radicalmente”, continuou.
Putin afirmou que a guerra na Ucrânia “foi desencadeada pelo Ocidente coletivo, que organizou e apoiou o golpe armado inconstitucional na Ucrânia em 2014 e depois encorajou e justificou o genocídio contra o povo de Donbass. O Ocidente coletivo é o instigador direto e o culpado do que está acontecendo hoje”.
“O chamado Ocidente coletivo, liderado pelos Estados Unidos, tem sido extremamente agressivo com a Rússia por décadas”, disse. Putin citou tentativas da Rússia de garantir cooperação e segurança igualitária na Europa que foram sabotadas pela Otan e pelos EUA.
Além disso, “os avisos sobre a inaceitabilidade da expansão da OTAN, especialmente à custa das ex-repúblicas da União Soviética, foram ignorados”.
“Não estamos rejeitando as negociações de paz, mas aqueles que as estão rejeitando devem saber que quanto mais eles as repelirem, mais difícil será para eles negociarem conosco” devido aos avanços no campo de batalha, completou.
Zyuganov, presidente do Partido Comunista, disse que a guerra na Ucrânia faz parte do enfrentamento às tentativas dos EUA de “ditar seus termos para o resto do mundo”.
Ao mesmo tempo, integra o combate ao nazismo em tempos atuais. “Da última vez que o fascismo e o nazismo engoliram toda a Europa, a humanidade pagou o custo de 71 milhões de vidas, 27 milhões das quais foram as vidas dos melhores filhos e filhas da grande pátria soviética”.
Ele também celebrou aliança com a China e a Índia, países com os quais a Rússia fortaleceu seus laços comerciais e políticos desde o começo da guerra. Zyuganov disse que apoia os “esforços” de Putin para expandir o BRICS. “Esse contrapeso muito poderoso à ideia anglo-saxônica de nos esmagar e depois lidar com a China está ganhando cada vez mais apoio”, discursou.
O presidente do Partido Liberal-Democrata da Rússia, Leonid Slutsky, reforçou a necessidade da construção de um mundo multipolar. Slutsky disse que a Rússia conseguirá isso com a ajuda de países aliados. “Isso inclui o BRICS, que já responde por um terço do PIB mundial. Eles são contra um mundo unipolar onde Washington pretende ser o único pólo de poder”, avaliou.
Zyuganov: planejamento e maior participação do estado
Vladimir Putin destacou que, com ajuda da Duma de Estado, foram aprovadas medidas “para dar apoio aos setores da espinha dorsal da economia russa”, como “pequenos e médios negócios e indústria da Tecnologia da Informação”.
Zyuganov, afirmou que a Rússia deve buscar o desenvolvimento econômico e tecnológico de forma autônoma, ponto com o qual “está na mesma página” que o governo de Putin.
O líder comunista falou que é de “especial importância” o desenvolvimento de “nossa própria tecnologia de ponta” e da “aviação doméstica” a partir de investimento público.
Ele ainda defendeu criação de empresas públicas voltadas para a produção de máquinas e equipamentos agrícolas que impulsionem a produção de alimentos.
Zyuganov disse que a Rússia deve adotar medidas “socialistas” para a economia, ao que Putin disse que “não há nada de ruim” nesta proposta, “especialmente na esfera econômica”.
“Isto está relacionado com formas de regulação do mercado, etc. Esta ideia está funcionando de forma bastante eficaz em outros países. Precisamos olhar para isso”, declarou o presidente russo.
Para Putin, o debate central está na “extensão” da intervenção do Estado na economia. “Devemos ver como o Estado deve regular suas atividades econômicas. Certamente abordaremos isso durante nossas discussões e debates. Presumo que encontraremos essas soluções, sabendo que estão em jogo os interesses do povo e do país”.