Carlos Siqueira,presidente nacional do PSB (foto: PSB)

O PSB denunciou no sábado (30), durante conferência nacional do partido, o ataque de Bolsonaro à imprensa. Em nota de repúdio ao “ato arbitrário” contra a Folha de S.Paulo, o PSB afirmou que “a fala de Bolsonaro sobre a Folha é ataque a liberdade de expressão”.
“A decisão do presidente de retirar o jornal Folha de S. Paulo da licitação do governo federal e a incitação a boicotes aos seus anunciantes são uma grave tentativa de sufocar financeiramente uma voz quase secular da imprensa de nosso país”, afirma o partido em nota.
“O atual presidente é incapaz de enxergar a linha que separa a esfera pública da esfera privada. Desde que tomou posse, tem reiteradamente destilado seu autoritarismo e dado vazão aos seus anseios antirrepublicanos, à revelia dos fatos, da ordem pública e do bem comum”, explica o partido.
Alessandro Molon (PSB-RJ), líder da oposição na Câmara, classificou a atitude do presidente como “inaceitável”. “O presidente continua investindo contra o jogo democrático, agora ao atacar a Folha de S. Paulo e propor um boicote gravíssimo, sentidos não apenas por um veículo, mas por toda a imprensa livre”, apontou o deputado.
O partido discutiu também as alianças políticas e fez críticas ao ex-presidente Lula. Em seu discurso de abertura da Conferência Nacional da Autorreforma, o presidente do PSB, Carlos Siqueira, disse que o partido tem que assumir responsabilidade pelo trágico cenário que levou à eleição do presidente Jair Bolsonaro.
“Os governos de esquerda não foram capazes de taxar os lucros e dividendos dos banqueiros. “A esquerda no poder não realizou as reformas necessárias nem modernizou a prática política. A esquerda no poder também não apresentou um projeto nacional de desenvolvimento”, destacou.
“Por outro lado”, acrescentou Siqueira, “o atual governo já taxou os trabalhadores desempregados. Isso não é normal, isso é fruto das nossas falhas”, discursou. Siqueira disse ainda que o partido não vai alimentar a estéril polarização entre PT e o governo Bolsonaro.
“Se o PT acha que não precisa fazer autocrítica, essa já é nossa maior diferenciação”, disse o ex-governador do Distrito Federal Rodrigo Rollemberg.
O ex-governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, afirmou que “as falas de Lula após sua soltura isolam o PT”. Ele acrescentou que esse não era o papel que se esperava de Lula, que foi solto em 8 de novembro, após 580 dias de prisão.
“Lula se portou muito mais como chefe de partido. O papel dele deveria ser de um líder com estatura para aglutinar mundialmente setores afinados com a democracia. Não entendi essa expressão mais localizada”, criticou Coutinho.
Dirigentes do PSB insistiram na ideia de descolamento do PT para construção de uma nova alternativa. “Não dá para o PT buscar permanentemente hegemonia no campo político”, afirmou o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.
Pré-candidato do PSB à Prefeitura do Rio, Alessandro Molon afirmou que “o PT não está em posição de jogar sozinho”.
Para Beto Albuquerque, vice-presidente do PSB, não só o PT, mas também seu partido tem que avaliar os erros cometidos que culminaram na eleição de Bolsonaro. Uma das falhas do PSB, destaca, foi não ter se rebelado contra ações das quais discordava quando participava do governo petista.
“Não somos nem Lula livre nem Lula preso. Isto é questão da justiça. Nossa luta é pela democracia e contra a brutal desigualdade”, diz Albuquerque.
O deputado Júlio Delgado (MG) lembrou que o PSB já vem se dissociando do PT, por exemplo, ao discordar do governo Nicolás Maduro, da Venezuela, ou sair do Foro de São Paulo, organização de partidos de esquerda no continente.
Delgado afirma que outra demonstração desse afastamento será o encaminhamento favorável à aprovação de projeto que permitiria a prisão após condenação em segunda instância, o que poderia afetar diretamente Lula. Segundo Delgado, ainda existe no PSB um grupo de defensores de Lula e do alinhamento com o PT, mas hoje esse grupo reúne pouco mais de um terço do partido.