Proibir gás russo geraria “ataque cardíaco” na indústria alemã
A proibição total das importações do gás russo, no sétimo pacote de sanções da União Europeia – o próximo – pode provocar “um ataque cardíaco” na economia alemã, alertou Christian Kullmann, presidente da Associação da Indústria Química da Alemanha.
Em entrevista ao jornal Suddeutsche Zeitung, publicada nesta segunda-feira (11), Kullmann, que também é CEO da empresa química Evonik, alertou que “este país para sem a química, pois os produtos químicos são necessários para 90% de todos os processos de produção”. “No caso de um embargo total de gás, tenho medo de um ataque cardíaco à economia alemã, também à nossa indústria”, sintetizou.
A situação seria evidentemente preocupante nas indústrias química e farmacêutica, esclareceu o líder empresarial, onde o gás é utilizado como fonte de energia e matéria-prima. Conforme a Associação da Indústria Química, este setor utiliza 15% do gás importado, sendo ele o maior consumidor do país.
A pressão por sanções russófobas já afeta a principal importadora de gás natural russo: as ações da Uniper caíram “significativamente abaixo” após as restrições ao volume de gás fornecido à Alemanha pela empresa estatal russa Gazprom. “A Uniper tem sido a [empresa] mais atingida pelo corte de gás russo e, como resultado, está sob extrema pressão financeira. Desde meados de junho, a Uniper recebeu apenas 40% dos volumes contratados da Rússia e teve que comprar quantidades de reposição no mercado a preços consideravelmente mais altos”, comunicou a empresa.
No final de junho, a Alemanha ativou o segundo nível de seu plano nacional de emergência de gás, passando para a fase de alerta, depois que a Rússia reduziu suas entregas através do gasoduto Nord Stream I (Corrente do Norte).
Autoridades de várias cidades da Alemanha já implementaram medidas para economizar, como em Augsburgo, onde anunciaram que deixarão de iluminar seus edifícios históricos à noite, reduzirão a iluminação das ruas e diminuirão a temperatura da água nas piscinas ao ar livre.
Imprescindível
A União Europeia (EU) continuará sendo dependente do gás russo, cuja importação é imprescindível para o desenvolvimento regional por um longo tempo, avaliou o especialista em investimento acionário norte-amerciano, Jim Rogers, em entrevista ao portal Sputnik.
Sendo assim, fechar a torneira às importações poderá vir até fazer algum tipo de pressão a curto prazo, ponderou Rogers, “mas tenho dúvidas se falarmos em longo prazo”. Porque a questão mais de fundo, explicou, é que tentar substituir o gás russo por entregas de combustível do Oriente Médio ou dos Estados Unidos será algo extremamente complicado, já que se trata de garantir o fornecimento de imensos volumes de gás durante um extenso período de tempo. Ou seja, “as decisões a curto prazo não vão resolver o problema”. “A Europa é demasiado grande, sua economia é enorme, por isso as decisões a curto prazo não chegam a resolver a questão”, frisou.
Segundo dados da Agência Internacional de Energia (AIE), em 2021 a UE importou da Rússia 155 bilhões de metros cúbicos de gás natural, o que constitui 45% das importações do bloco e 40% de seu consumo geral.
De acordo com Rogers, a decisão da União Europeia de limitar as importações de gás russo até o fim do ano agravará ainda mais os problemas nos meses mais frios e no próximo ano, caso o bloco persista em manter a política de sanções e
sem conseguir uma alternativa viável. Além disso e como se não bastasse, alertou, as economias dos países da UE já estão sofrendo com as sanções que eles mesmos impuseram.
Para o estadunidense, os países europeus poderiam voltar a abrir usinas nucleares e de carvão para obter uma fonte de energia alternativa, mas, para isso, precisariam agir de forma rápida, uma vez que abriram mão de uma de suas fontes de energia principais sem qualquer planejamento.