A produção industrial caiu 0,7% em agosto na comparação a julho, na série com ajuste sazonal – ou seja, já descontado as variações típicas para o período. Segundo os dados do IBGE, nesta terça-feira (5), este é o terceiro mês seguido de queda da indústria, “acumulando nesse período perda de 2,3%”.

Com o resultado de agosto, a indústria brasileira opera 19,1% abaixo do pico alcançado em maio de 2011. “O recuo de 0,7% da atividade industrial, frente ao mês anterior, teve perfil disseminado de taxas negativas, alcançando três das quatro das grandes categorias econômicas e 15 dos 26 ramos pesquisados”, escreveu o IBGE em nota.

“O setor não escapou do vermelho nem mesmo na comparação com o mesmo mês do ano passado, como vinha ocorrendo, e isso a despeito de um efeito calendário positivo, já que ago/21 teve um dia útil a mais do que ago/20. A queda neste caso também foi de -0,7%”, observou o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

“Com esta trajetória decepcionante, o nível de produção da indústria em ago/21 encontrava-se 2,9% abaixo de fev/20, isto é, antes do choque da Covid-19 e o desempenho do bimestre jul-ago/21 frente ao mesmo período do ano passado foi de mero +0,3%, apontando para um quadro de estagnação na entrada da segunda metade do ano, à medida em que as bases de comparação vão deixando de ser tão baixas”, destacou o Iedi.

Das 3 das 4 grandes categorias econômicas que ficaram no negativo, bens de consumo duráveis recuou 3,4% na passagem de julho a agosto, oitavo mês seguido de queda, acumulando tombo de 25,5%; bens de capital caiu -0,8%; e bens intermediários, menos 0,6%. O setor de bens de consumo semi e não-duráveis foi a única categoria com variação positiva de 0,7%.

Entre as atividades, os destaques negativos mais importantes estão: produtos químicos, com -6,4%, que já vinha de queda em julho (-1,8%) e junho (-1,0%); coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis, recuo de -2,6%; veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,1%), acumulando o quarto mês seguido de queda (-9,5%); e produtos farmoquímicos e farmacêuticos, perda de -9,3%.

Também contribuíram para o declínio industrial de agosto, equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos, -4,2%; equipamentos máquinas, aparelhos e materiais elétricos, -2,0%; equipamentos produtos de borracha e de material plástico, -1,1%; equipamentos de confecção de artigos do vestuário e acessórios, -1,6%; e equipamentos de celulose, papel e produtos de papel, -0,8%.

O IBGE registrou crescimento na produção de produtos alimentícios (2,1%), bebidas (7,6%) e indústrias extrativas (1,3%).

Como observou o Iedi, na comparação com o mesmo período (agosto de 2021 em relação a agosto de 2020), a queda de 0,7% interrompe os onze meses de taxas positivas consecutivas nessa comparação. A maior queda foi registrada em bens de consumo duráveis, -17,3%. Os setores produtores de bens intermediários (-2,1%) e de bens de consumo semi e não-duráveis (-0,8%) também mostraram resultados negativos. Pontuou positivamente nesta análise, o segmento de bens de capital, com avanço de 29,9%.

No ano, a indústria registra alta de 9,2% e de 7,2% no acumulado em 12 meses. Com isso, ainda sofrendo com os impactos da pandemia do coronavírus, escassez de insumos mundial, situação que se agravam pela falta de estímulos por parte do governo federal e o aumento da taxa básica de juros (Selic), a indústria está 2,9% abaixo do patamar de fevereiro do ano passado – cenário pré-pandemia – e 19,1% abaixo do pico recorde alcançado em maio de 2011.

Para o Iedi, “os obstáculos são de diferentes ordens: do lado da oferta, ainda há gargalos na obtenção de insumos e pressão de custos; do lado da demanda, a inflação corrói poder de compra da população em um quadro de elevado desemprego. Além disso, o ambiente de incerteza se mantém, renovando suas causas sob os riscos da crise hídrica e da tensão política”.