Em sua primeira declaração, após indiciado por fraude, suborno e quebra de confiança pela Procuradoria Geral de Israel, nesta quinta-feira, dia 20, Bibi Netanyahu, demonstra – ao contrário de seus juramentos de que só pensa em defender Israel – que só tem uma única preocupação: ele próprio. Seus objetivos são: como pode se manter no poder e como escapar da cadeia.

Para isso, babando de raiva, disse na TV, logo após a formalização do indiciamento, que a conclusão do procurador-geral Avichai Mandelblit “é uma tentativa de golpe” e que “os procuradores e a polícia é que devem ser investigados”.

SEMELHANÇAS

Só para trazer estas questões mais para perto de nós, diríamos que, guardadas as devidas proporções, qualquer semelhança com o comportamento e ideologia de um ex-presidente do nosso país, não é mera coincidência.

Mas, voltemos ao caso do maior amigo, “namorado, quase noivo, em vias de casamento” de Jair Bolsonaro, que foi como se referiu a Netanyahu quando o recebeu, logo após eleito, em Brasília. A iminente queda do premiê israelense segue-se a outras de sua diletas amizades, entre elas, o xenófobo italiano, Salvini, afastado de seu posto de vice-premiê e o neoliberal serviçal do FMI, o ex-presidente argentino Macri, aplastado nas urnas e

LIDERANÇAS EXIGEM QUE NETANYAHU RENUNCIE

Em resposta às diatribes de Netanyahu, o principal líder da oposição e candidato a substituí-lo no posto de premiê, Benny Gantz, recorreu às palavras do próprio acusado:

“Um primeiro-ministro afundado até o pescoço em investigações não tem mandato moral ou público para tomar as decisões que implicam em questões de destino com relação a Israel”.

E ainda: “Existe um real e não infundado medo de que ele tomará decisões com base em seus próprios interesses de sobrevivência política do que nos interesses nacionais”.

As declarações de Netanyahu, são de pouco mais de dez anos atrás, 2008, e foram direcionadas ao então primeiro-ministro Ehud Olert, então embrulhado em investigações por corrupção as quais o levariam a cumprir pena na cadeia. Aquele Netanyahu, que se travestia em vestal da luta anticorrupção, torna-se, de acordo com as conclusões da polícia e da Procuradoria Geral (após extensos exames de provas e testemunhos ouvidos mais de 20 especialistas em crimes do colarinho branco), no mais corrompido dos chefes de Estado da história de Israel.

Agora, Netanyahu, ao invés de apontar as falhas da acusação, em sua defesa, se volta contra o sistema judicial do país o qual diz liderar por mais de dez anos. O processo contra ele estaria “contaminado”, “é parcial” e “manchado por considerações externas”.

Deixando claro que as denúncias de corrupção, que já estavam colocadas pela polícia israelense, sofreram um forte agravante com o indiciamento formal – cuja sequência será o julgamento pela Corte Suprema de Israel – as principais lideranças da oposição israelense se manifestaram exigindo que Netanyahu deixe o cargo de primeiro-ministro imediatamente.

O bloco Azul e Branco (Kahol Lavan), dirigido por Benny Gantz, vencedor nas mais recentes eleições israelenses, dirigiu-se ao procurador-geral de Israel peticionando o afastamento de Netanyahu: “De acordo com a Suprema Corte de Justiça, um ministro contra o qual é expedido um indiciamento não está em condições de continuar no seu posto e, portanto, Netanyahu está obrigado a imediatamente deixar suas várias posições governamentais”.

O líder da União Democrática, deputado Nitzan Horowitz, declarou, na quinta-feira, que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu não deve servir nem menos por um momento a mais”.

“Em seu despenhadeiro político, Netanyahu vai pôr fogo em quaisquer laivos de honestidade e comportamento de líder de Estado”.

Nitzan alertou que aqueles que ajudarão ao primeiro-ministro serão lembrados por “prejudicar diretamente ao país”.

Já Amir Peretz, dirigente do bloco Trabalhista-Ponte, e ex-presidente da Central Sindical (Histadrut) informou que seu bloco entrou com uma petição junto à Suprema Corte de Justiça, pedindo que o tribunal declare Netanyahu incapacitado e exigindo que ele peça afastamento de seu cargo. “O bloco Trabalhista-Ponte argumenta que, dado o fato de que o primeiro-ministro dirige um governo de transição, uma vez que o parlamento (Knesset) não lhe deu o voto de confiança para governar, o declare incapacitado como requer a lei em relação aos ministros de governo”.

“É com o coração pesado, mas com o sentimento de integridade”, foi com estas palavras que o procurador-geral, Avichai Mandelblit, iniciou as considerações acerca da oficialização do indiciamento de Netanyahu.

Ele respondeu às acusações de Netanyahu de que a Procuradoria estaria dando “golpe”, agindo com ‘parcialidade” e de acordo com “estranhos interesses”.

“Estando na condução de um processo profissional de interrogação, fomos testemunhas de repetidas tentativas de deslegitimação das pessoas envolvidas nos trabalhos de investigação. Meus colegas agiram sem nenhuma motivação pessoal”, declarou o procurador Mandelblit.

Para ele os discursos de deslegitimação “tinham por objetivo criar a impressão de que qualquer de nossas decisões estaria errada. As investigações são amplamente baseadas em evidência e testemunho, que são profissionalmente revisadas”.

“Não deixamos nenhuma pedra que não fosse revirada”, acrescentou Mandelblit.

OS PROCESSOS

Após a introdução acima, Mandelblit passou a relatar as circunstâncias do indiciamento. O denominado Caso 4000 é o que contém as mais graves das acusações referem-se às relações de Netanyahu enquanto ministro das Comunicações e o empresário Shaul Elovitch, dono da Bezeq Telecomunications.  Netanyahu teria comandado a aprovação de normas regulatórias que beneficiariam o monopólio de Elovitch e renderam ao empresário 2 bilhões de reais. Em troca Netanyahu ganhou ampla divulgação favorável no portal Walla de propriedade de Elovitch, entre outras vantagens.

De acordo com a Procuradoria, isso “criou um conflito de interesses à luz das posições públicas de Netanyahu e suas questões pessoais”.

“Como parte de suas relações de toma lá dá cá, o acusado Netanyahu tirou vantagens de suas posições e autoridade como servidor público para promover questões nas quais Shaul Elovitch tinha interesse”, afirmou Mandelblit em seu relatório. Neste caso, Netanyahu é acusado de subornar o empresário.

No Caso 2000, as provas apontam na direção de uma série de encontros entre Netanyahu e o editor do jornal israelense de maior circulação, Yediot Ahronot, Arnon Mozes. De acordo com a acusação, o acordo indicava que Netanyahu buscaria limitar a circulação do jornal rival Israel Hayom e, como recompensa, Mozes asseguraria a Netanyahu cobertura favorável. Neste caso ele é enquadrado nos crimes de fraude (por investir em noticiário parcial ou falso) e quebra de confiança (pela utilização do posto para negociações escusas clandestinas) e suborno (por oferecer ao empresário da comunicação a possibilidade de infligir dano ao concorrente).

Ao se referir ao Caso 2000, Mandelblit declara: “O acusado usou o seu poder de primeiro-ministro para obter favores pessoais enquanto prejudicava fundamentalmente a integridade do serviço público”.

O Caso 1000

Neste caso, Netanyahu e acusado de pedir e receber do “magnata de Holliwood”, Arnon Milchan, e do bilionário, James Packer, presentes, incluindo champanhe e charutos, por anos a fio. Isto o implica em se colocar em conflito de interesses entre sua porca satisfação pessoal de receber presentes e seu posto e em seu papel público.