Jerusa Lava Jato

Ao pedir desculpas nesta terça-feira (27) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a procuradora Jerusa Viecili, da Operação Lava Jato em Curitiba, confirmou a autenticidade de mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil. Em diálogos publicados pelo UOL, os integrantes da força-tarefa ironizaram a morte da esposa de Lula, Marisa Letícia, e os pedidos do ex-presidente para ir aos enterros de familiares.

“Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula”, tuitou a procuradora. Até então, ao comentar as publicações decorrentes dos vazamentos de mensagens, os procuradores citados afirmavam que não reconheciam a autenticidades das mensagens e levantavam suspeitas quanto a eventuais adulterações nos conteúdos publicados. Não há evidências de que os textos tenham sido manipulados.

Pouco mais de uma hora depois de se desculpar, Jerusa sentiu a pressão e recuou. Em outro tuíte, ela escreveu que o reconhecimento da autenticidade de trecho publicado pelo UOL não significa que ela endosse todas as outras publicações em que é mencionada. “Lembrar de uma mensagem não autentica todo o conjunto. A existência de mensagens verdadeiras não afasta o fato de que as mensagens são fruto de crime e têm sido descontextualizadas ou deturpadas para fazer falsas acusações”, disse.

Na sequência, ela também disse: “Os procuradores da Lava Jato nunca negaram que há mensagens verdadeiras, exatamente porque foram efetivamente hackeados. Contudo, não é possível saber exatamente o quanto está correto, porque é impossível recordar de detalhes de 1 milhão de mensagens em 5 anos intensos”. Já a Lava Jato, procurada para comentar a matéria publicada no UOL, disse que não se manifestaria sem ter acesso integral às conversas.

Não foi a primeira vez que uma autoridade que teve mensagens reveladas ratificou a veracidade do conteúdo. Em junho, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, pediu desculpas ao MBL (Movimento Brasil Livre) em um áudio, depois de a Folha de S.Paulo ter revelado que, em conversa realizada no ano de 2016, Moro se referiu aos seus integrantes como “tontos”.

“Consta ali um termo que não sei se usei mesmo, acredito que não, pode ter sido adulterado. Mas queria pedir desculpas se eu eventualmente utilizei, porque sempre respeitei o MBL e sempre agradeci o apoio que esse movimento deu”, disse Moro que, em 2016, era juiz federal e atuava na Lava Jato.

A reportagem publicada pelo UOL, em parceria com o The Intercept Brasil, mostra comentários jocosos dos membros da Lava Jato sobre a morte da ex-primeira-dama e sobre os pedidos do ex-presidente para deixar a cadeia e ir aos enterros do irmão Vavá e do neto Arthur, de 7 anos. Em uma das conversas, de 3 de de fevereiro de 2017, Jerusa escreveu “Querem que eu fique pro enterro?” e colocou um emoji sorrindo logo depois de outro procurador, Julio Noronha, publicar notícia sobre a morte de Marisa.

Em outra conversa, de 1º de março deste ano, a procuradora compartilha com os colegas matéria sobre a morte de Arthur e escreve: “preparem para nova novela ida ao velório”. Em resposta, Lula afirmou que recebeu com “extrema indignação” e “repulsa” as mensagens jocosas divulgas nesta manhã. O ex-presidente disse que os procuradores “referem-se de forma debochada e até desumana” às mortes de seus entes queridos. Ele afirma ter recebido as revelações da reportagem com “extrema indignação”.

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Da redação, com informações
Edição: André Cintra