Procurador-geral dos EUA desmente Trump: “não há provas de fraude”
O Procurador-Geral [ministro da Justiça] do governo Trump, William Barr, reconheceu na terça-feira (1º) em entrevista à agência de notícias Associated Press que não há provas de fraude eleitoral numa escala que pudesse inverter o resultado das eleições, puxando a escada dos pés do presidente bilionário que, pelo Twitter, vem insistindo em dizer que ‘ganhou grande’ nos ‘votos legais’ e é vítima da ‘imensa fraude’.
“Até à data, não vimos fraude numa escala que pudesse ter produzido um resultado diferente nas eleições”, disse Barr à AP.
Todos os seis estados cujos resultados eleitorais vinham sendo contestados pela campanha de Trump já certificaram sua derrota e declararam Joe Biden vencedor, depois de seguidos insucessos do atual presidente nos tribunais estaduais.
Não há provas, apesar de o próprio Barr ter há semanas, revertido a norma de só investigar depois de encerrada a apuração em vigor há décadas, e emitido memorando ordenando a promotores e FBI que investigassem as suposições.
O chefe do setor de proteção cibernética do Departamento de Segurança Interna (Homeland), Christopher Krebs, foi demitido por Trump depois de ter atestado, junto com outras autoridades eleitorais, que a eleição de 2020 havia sido “a mais segura” da história.
Segundo Barr, “a maioria das alegações de fraude é muito particularizada a um conjunto particular de circunstâncias ou atores ou conduta. Não são acusações sistêmicas. E estas têm sido rejeitadas; elas estão a ser rejeitadas. Algumas têm sido amplas, potencialmente abrangendo alguns milhares de votos”.
Os comentários são ainda mais significativos, visto que Barr era tido, até aqui, como um dos trumpistas mais fervorosos e antes da eleição havia chegado a dizer que o voto pelo correio poderia ser especialmente vulnerável à fraude. Os comentários são especialmente diretos vindos de Barr, que tem sido um dos aliados mais leais ao presidente.
Trump ainda não deu mostras de que irá sustar sua campanha de deslegitimação das eleições e segue se recusando, como é o hábito nos EUA, a reconhecer sua derrota e cumprimentar o oponente Biden. Segundo a mídia, Trump já angariou pelas redes sociais US$ 170 milhões para supostamente para ‘despesas judiciais contra a fraude’, mas que nas letras miúdas permitem que ele use o dinheiro como bem entender.
Só recentemente o órgão federal encarregado de apoiar a transição parou de boicotar Biden e sua equipe.
A coisa foi tão longe que advogados de Trump chegaram ao rap do trumpista doido de que o falecido (há sete anos) presidente venezuelano Hugo Chávez estaria envolvido, na falsificação da eleição, junto com George Soros, Cuba, a China Comunista e a empresa de software eleitoral Dominion, possivelmente com a participação da CIA, para transferir votos de Trump para Biden.
Possivelmente em referência a isso, Barr disse que houve uma afirmação de fraude sistêmica com máquinas programadas para distorcer os resultados eleitorais, mas que o Departamento de Justiça e o Homeland haviam investigado e “até agora, não vimos nada que o consubstanciasse”.
Barr acrescentou que as pessoas confundiam o uso do sistema de justiça penal federal com alegações que só são cabíveis em processos civis. Ele disse que a solução para essas queixas seria uma auditoria de cima para baixo conduzida por funcionários estatais ou locais, e não pelo Departamento de Justiça dos EUA.
“Há uma tendência crescente para utilizar o sistema de justiça criminal como uma espécie de solução por defeito, e as pessoas que não gostam de algo querem que o Departamento de Justiça entre e ‘investigue’”, sublinhou.
Barr destacou que, antes de mais, deve haver uma base para acreditar que exista um crime a investigar. “A maioria das alegações de fraude são muito particulares a um determinado conjunto de circunstâncias ou atores ou conduta. Não são acusações sistêmicas”.
Numa entrevista à Fox News no domingo, Trump passou a sugerir que o FBI poderia estar envolvido na conspiração imaginária para roubar dele a eleição. Seu advogado Rudy Giuliani, segue asseverando, sem mostrar qualquer prova, que existiria uma conspiração generalizada de parte dos democratas para despejar milhões de votos ilegais no sistema. No Wisconsin, aonde Trump pagou US$ 3 milhões pela recontagem nos dois condados mais populosos, a margem da vitória de Baden, que era de mais de 20 mil votos, ao invés de diminuir aumentou em 87 votos.