Brasília - Combustíveis têm primeira variação de preço em 2018 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

A prévia da inflação de setembro calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15) bateu novo recorde com variação de 1,14, uma aceleração em relação a agosto quando registrou 0,89%. O resultado de setembro é o maior desde 1994, quando o Brasil executava o Plano Real, além de a maior da série histórica do indicador desde fevereiro de 2016. Com esse dado de setembro, a inflação acumulada em 12 meses chegou a 10,05% – superando os dois dígitos e atingindo o dobro do teto da meta estipulada pelo governo para o ano (de 5,25%). Em 2021, a alta acumulada é de 7,02%.

O índice calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) considera a variação de preços do dia 16 do mês anterior ao 15 do mês de referência, por isso é considerado uma “prévia” da inflação oficial.

Enquanto a sombra do descontrole inflacionário e da crise econômica volta ao país, o governo federal cruza os braços diante do aumento dos preços de produtos e serviços que deveriam ser administrados. Para o ministro da economia, Paulo Guedes, a inflação está fora da meta, mas “dentro do jogo”.

De acordo com o IBGE, dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados, oito apresentaram alta em setembro. A gasolina e a energia elétrica foram os produtos que exerceram maior pressão para o aumento do IPCA-15 de setembro.

No grupo transportes, o preço da gasolina subiu 2,85% entre agosto e setembro e acumula alta de 33,37% no ano e de 39,05% nos últimos 12 meses. Os demais combustíveis também apresentaram altas: etanol (4,55%), gás veicular (2,04%) e óleo diesel (1,63%).

No grupo Habitação, o preço médio da energia elétrica teve alta de 3,61% em setembro. No ano, a alta acumulada foi de 20,27%, enquanto nos últimos 12 meses o aumento acumulado foi de 25,26%. O IBGE destacou que em agosto vigorou a bandeira tarifária vermelha patamar 2, com acréscimo de R$ 9,492 a cada 100 kWh consumidos. A partir de 1º de setembro, passou a valer a nova bandeira tarifária batizada de “Escassez Hídrica”, que acrescenta R$ 14,20 para os mesmos 100 kWh.

Culpando a escassez de chuvas e ignorando o problema de investimentos do setor elétrico, Bolsonaro chegou a sugerir que a população tome banho frio para diminuir o consumo de energia. Em vigor desde junho, a adição de tarifas extras à conta de luz já obriga as famílias a um racionamento forçado.

Penalizando ainda mais os brasileiros que sofrem com o desemprego e o achatamento das rendas, a inflação do grupo de Alimentos acelerou 1,27% em setembro e está desde março sem dar trégua.

A principal influência do aumento em setembro partiu da alimentação no domicílio, que acelerou de 1,29% em agosto para 1,51% em setembro. O preço da carne, já absurdo há meses, cresceu no mês 1,10% – sendo o principal responsável pelo encarecimento da cesta.

Os alimentos que registraram os maiores aumentos de preços no mês de setembro foram a batata-inglesa (`10,41%), o café moído (7,80%), o frango em pedaços (4,70%), as frutas (2,81%) e o leite longa vida (2,01%).

No acumulado de 12 meses, os óleos vegetais tiveram alta de 38,31%. as carnes de 28,36%, e aves e ovos aumentaram 24,02%

Uma pesquisa do Datafolha realizada no início do mês aponta que 85% dos brasileiros reduziram ou cortaram o consumo de alimentos desde o início do ano por conta dos preços. A carne de boi, por exemplo, foi reduzida ou cortada por 67% das famílias.