Pressão por vacinas pode levar à demissão de Ernesto Araújo
A pressão pela demissão do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, aumenta a cada dia. Se a cabeça do ministro já estava a prêmio pela sua política de ataque aos países parceiros, resultando numa morosidade ainda maior para a aquisição de vacinas contra a Covid-19, depois da maratona no Congresso, nesta quarta-feira (24), onde se negou a responder perguntas de deputados e senadores dos mais diversos partidos, seu comando está por um fio.
Em sua desastrosa política internacional, Araújo já atacou alguns produtores de vacina, como a China e a Rússia. Além do episódio da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2020, em que ficou contra a Índia na defesa da quebra de patentes, mudando, inclusive, o entendimento do país sobre o assunto.
Na reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara, a vice-líder do PCdoB, deputada Perpétua Almeida (AC), condenou a postura do Itamaraty e responsabilizou o governo Bolsonaro pelas mais de 300 mil mortes por Covid-19 no Brasil.
“Fico impressionada com a desfaçatez e o cinismo com que seu governo tentar simplificar ações graves contra a vida dos brasileiros. São 300 mil vidas perdidas, muitas delas poderiam ter sido evitadas. Se o senhor tivesse votado, por exemplo, a favor da quebra das patentes e ficado ao lado da Índia, seria mais fácil termos vacinas hoje no Brasil. Mas se colocou contra a Índia na OMC. O senhor poderia não ter recusado 70 milhões das vacinas da Pfizer no ano passado, mas o senhor e Bolsonaro recusaram. O presidente Bolsonaro poderia não ter declarado que não compraria a Coronavac, mas ele disse várias vezes que não compraria a “vacina chinesa” por uma disputa política. O seu Ministério também criou muitos problemas com a China a partir daí. Agora vocês correm atrás de vacina porque viram que Bolsonaro está caindo nas pesquisas. E estão dando prejuízo ao país porque estão comprando a vacina mais cara”, declarou.
Lira sobe o tom
Depois de se reunir com Bolsonaro para discutir a criação de um comitê de gestão do combate à Covid-19 entre os Poderes, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), subiu o tom contra o governo, nesta quarta-feira (24), no Plenário da Câmara. Lira afirmou que se não houver correção de rumo, “a crise pode resultar em remédios políticos amargos” a serem usados pelo Congresso, “alguns deles fatais”.
Nome de Bolsonaro na disputa à presidência da Câmara, foi a primeira que Lira, mesmo que indiretamente, insinuou que pode dar andamento aos pedidos de CPI e de impeachment contra o governo.
Nesta quinta-feira (25), numa tentativa de apaziguar os ânimos com o presidente da Câmara, Araújo foi à residência oficial de Lira para tentar se manter no cargo.
No Senado o clima não está melhor
Além de se esquivar das perguntas dos senadores, o episódio envolvendo o assessor para assuntos internacionais da Presidência Filipe Martins, pôs ainda mais fogo na lenha. Martins está sendo investigado pela Polícia Legislativa da Câmara por ter feito um gesto usado por movimentos supremacistas brancos de extrema direita durante fala do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
A sessão que já estava em polvorosa ficou ainda mais agitada e resultou no pedido de investigação do assessor. Araújo, por sua vez, não fez qualquer reprimenda ao gesto na sessão. Nos bastidores, Pacheco também aumentou a pressão no Planalto pela demissão de Araújo e, agora, de Martins.
O silêncio de Araújo no Senado foi considerado uma afronta à Casa e os senadores prometem barrar as sabatinas de embaixadores nomeados para postos no exterior.
Assim como fez na Câmara, Araújo pretende buscar Pacheco na tentativa de se manter no cargo prestar contas do que foi feito até o momento pelo Itamaraty no combate à Covid-19.
Por Christiane Peres
(PL)