Pressão econômica faz XP cancelar divulgação de pesquisa boa para Lula e campanha reage com indignação. Ataques cresceram depois de resultado que mostrou honestidade como um atributo do petista.

Coordenadores da pré-campanha de Lula e Alckmin, assim como outros políticos, reagiram com indignação e ironia à pressão do bolsonarismo sobre a XP Investimentos, que cancelou a divulgação da pesquisa do Instituto Ipespe. A pesquisa estava sendo divulgada semanalmente e vinha mostrando o ex-presidente Lula na frente de Jair Bolsonaro, com grande vantagem, assim como levantamentos de outros institutos.

A coluna de Mônica Bérgamo, na Folha de S. Paulo, apurou que a pressão aumentou quando o instituto mostrou que 35% dos eleitores consideram que a honestidade é um atributo de Lula, contra 30% que dizem o mesmo sobre Bolsonaro.

Bolsonaristas passaram a atacar a corretora nas redes sociais –um dos mais notórios dele foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). Ministros teriam telefonado para a XP, assim como clientes, em especial os ligados ao agronegócio, que teriam retirado investimentos da corretora. Com isso, diretores e acionistas minoritários passaram a fazer questionamentos internos sobre o movimento.

A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos considerou a pressão sobre a XP uma agressão autoritária. Para ela, a censura à pesquisa XP é sintomática. “Parece que bateu mesmo o desespero. Mais uma vez, os bolsonaristas tentam negar a realidade, mas não tem como tapar o sol com a peneira. A gente sente nas ruas que o povo não quer mais esse governo da miséria, da fome, do desemprego e da morte. O Brasil quer eleger Lula e trazer de volta o tempo bom”, declarou ela ao portal.

Mas ela disse também que a campanha estará preparada para reagir ao jogo sujo. “Estamos tendo uma mostra da campanha que eles querem fazer, antidemocrática. Mas vamos enfrentar, com a garra dos que estão do lado certo”.

O prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva (PT), é um dos coordenadores de comunicação da pré-campanha do Movimento Vamos Juntos pelo Brasil, e considerou a pressão contra divulgação de pesquisas desfavoráveis a Bolsonaro uma agressão contra a democracia e a livre opinião. O movimento reúne PT, PSB, PCdoB, PSol, PV, Solidariedade e Rede, além de movimentos sociais e centrais sindicais

“Hoje chegamos ao exemplo mais explícito de como será esse processo eleitoral. A democracia e o livre direito de opinar sendo brutalmente agredidos”, lamentou Edinho, em declaração à reportagem. Para ele, “mais do que nunca”, as forças democráticas precisam se unir para que o fascismo seja derrotado.

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) considerou que o gesto dos Bolsonaros revela desespero com a derrota para Lula. “Flávio Rachadinha resolveu rasgar as vestes em praça pública. Se a mensagem é ruim, matam o mensageiro. É, amigos, o desespero é grande! Vai ser no primeiro turno!”, disse, fazendo referência as pesquisas que apontam intenção de voto que não levaria a disputa sequer para o segundo turno.

Até a deputada de direita Joice Hasselmann (PSDB-SP) considerou “lamentável” a XP ceder aos bolsonaristas. Para ela, pesquisas custam e clientes tem direito à informação, e ainda ironizou a contradição da família Bolsonaro em relação à pesquisas. “Flavinho que diz não acreditar em pesquisas teria colocado uma “mordaça”na empresa. Que desespero!”

Joice ainda disse que a emenda sai pior que o soneto, ao expor os medos do presidente. Esconder a pesquisa, na opinião dela, dá dupla derrota a Jair Bolsonaro ao expor a pressão/coerção da família contra a empresa “e ainda faz imaginar o quanto foi ruim o resultado”. “Ficou muito pior do que já está”, resumiu.

A pesquisa

Na sondagem divulgada na semana passada, Lula aparecia com 45%, contra 34% do atual presidente da República. Agora a pesquisa pode deixar de ser semanal para se tornar mensal. Outros levantamentos já apontam para a possibilidade de vitória de Lula no primeiro turno, com intenção superior aos 50% de votos válidos.

A pesquisa que seria divulgada na próxima sexta chegou a ser registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no sábado (4), sob o número BR-06295/2022. Nesta quarta (8), após ter sido registrada em nome de outra empresa do grupo (Infomoney), a decisão radical foi pela retirada do site por determinação da própria corretora.

(por Cezar Xavier)