Guru das fakenews de Trump no momento da detenção pelo FBI

Steve Bannon, o ex-conselheiro sênior e guru das fake news de Donald Trump, se entregou ao FBI na segunda-feira (15), após indiciado por um grande júri federal por desacato à Câmara federal, que o intimara a depor sobre sua participação na invasão do Capitólio em 6 de janeiro e tentativa de impedir a certificação do presidente eleito Joe Biden.

O juiz federal Robin Meriweather o libertou sem fiança, mas exigiu que ele fizesse uma verificação semanal com funcionários do tribunal e ordenou a entrega do passaporte.

Segundo a Associated Press, ele deve voltar ao tribunal na quinta-feira para a próxima fase do que pode ser o primeiro julgamento de alto nível relacionado ao ataque de janeiro ao Capitólio.

Do lado de fora do tribunal, um grande rato inflável com a cara de Trump aguardava a saída de Bannon e uma multidão hostilizou Bannon. Um homem exibia uma placa que dizia: “Palhaços não estão acima da lei”.

Se for julgado culpado, Bannon estará sujeito a pena de até dois anos – um ano pelo desacato à intimação e outro por se recusar a entregar documentos. A pena mínima, para cada uma das acusações, é de 30 dias.

Bannon, que em seu podcast na véspera do 6 de janeiro alardeara que “o inferno iria explodir” no Capitólio, também era um dos operativos principais no comando paralelo trumpista instalado em um hotel na capital dos EUA, o Williard, segundo o que já apurou o ‘comitê seleto’ da Câmara dos Deputados norte-americana, formado para investigar os fatos do dia 6 de janeiro.

No ano passado, Bannon chegara a passar algum tempo na prisão por fraude na internet, por tirar dinheiro de incautos – US$ 1 milhão -, sob a fachada de “construir o muro de Trump”; acabou indultado pelo presidente republicano.

Bannon também correu mundo a estimular a formalização de uma máfia global da extrema direita, almoçou com o presidente Bolsonaro e tirou fotos com o filho ‘O3’, assim como andou a tiracolo de um bilionário gângster foragido da China e do xenófobo-mor italiano, Matteo Salvini.

Em janeiro de 2019, Eduardo Bolsonaro se gabou em uma rede social de ter sido o escolhido para liderar o movimento no Brasil. “Satisfação em ser o líder do The Movement para América Latina ao lado de Steve Bannon”, escreveu Eduardo na legenda de uma imagem em que aparece abraçado a Bannon.

Antes de ser por algum tempo conselheiro da Casa Branca, Bannon fez nome nos círculos neofascistas norte-americanos com o site Breitbart News, pelas ‘inovações’ e falta de escrúpulos na arte de mentir, agora mais conhecida como ‘fake news’.

É bastante notório seu papel na agressiva e manipuladora campanha que em 2016 elegeu Trump. O que incluiu a perversão cometida pela Cambridge Analytica via plataformas digitais Google, Twitter, Facebook e Youtube.

PRIMEIRA VEZ DESDE 1983

É a primeira acusação desse tipo a sair da investigação do comitê sobre a insurreição do Capitólio – e a primeira vez que o Departamento de Justiça [o equivalente ao nosso Ministério da Justiça] acusa alguém por desacato ao Congresso “desde 1983”. Em 21 de outubro, o desacato de Bannon foi votado na Câmara por 229 a 202, com nove republicanos a favor da resolução.

O ex-chefe de gabinete da Casa Branca de Trump, Mark Meadows, que também desrespeitou uma intimação do comitê, poderá se tornar o próximo.

“O Sr. Meadows, o Sr. Bannon e outros que seguem este caminho não prevalecerão em impedir o esforço do Comitê Seleto de obter respostas para o povo americano em 6 de janeiro, fazendo recomendações legislativas para ajudar a proteger nossa democracia e ajudando a garantir que nada como aquele dia acontecerá novamente “, disseram os líderes do comitê, o democrata Bennie Thompson e a republicana Liz Cheney, em comunicado.

Relatório do comitê de investigação evidenciara, com base em declarações públicas do próprio Bannon, que ele “tinha conhecimento prévio sobre eventos extremos” que ocorreriam no dia 6.

No dia em que o Colégio Eleitoral se reuniu para formalizar a certificação de Joe Biden como presidente eleito, um violento assalto ao Capitólio chocou o mundo, ao manter o Congresso dos EUA por horas sob ocupação de uma turba trumpista e chegar a suspender a certificação do eleito.

A marcha fora convocada e insuflada em pessoa por Trump, depois de semanas de campanha contra o “roubo nas eleições” de que se dizia vítima e exortações a deter a certificação.

Senadores, deputados e até o próprio vice-presidente Mike Pence tiveram de ser retirados às pressas e levados para locais secretos no Capitólio, enquanto o esquema trumpista retardou por horas o envio da Guarda Nacional para liberar o Congresso, apesar de insistentes pedidos nesse sentido. Até “enforquem Pence” – o vice que se negou a pavimentar o caminho para o golpe de Trump – se ouviu naquele dia no Capitólio.

O ‘cidadão privado’ Bannon 

No mês passado, a defesa de Bannon alegara, como pretexto para a não-cooperação do cliente, que ele estaria protegido por afirmação de privilégio executivo feita pelo ex-presidente. Argumentação que segundo juristas e parlamentares não se sustenta, já que Bannon era um ‘cidadão privado’ em 6 de janeiro de 2021, tendo sido demitido do cargo que ocupou no governo em 2017, por ato do próprio Trump, depois de falar demais.

Ao chegar para se entregar ao escritório do FBI em Washington, diante de um enxame de repórteres, o fraudador, ex-marqueteiro e ex-guru, tentou manter a pose: “isso é tudo barulho. Quero que vocês mantenham o foco na mensagem. […] Estamos derrubando o regime de Biden”. Já Trump assinalou o cutucão recebido com a prisão do comparsa, ao dizer que “talvez ninguém nos Estados Unidos tenha sido tão perseguido quanto Bannon”.