Preso de Guantánamo relata torturas que sofreu a júri militar
Acusado de cooperar com a Al-Qaeda, um prisioneiro de Guantánamo – enclave militar ilegalmente mantido pelos Estados Unidos em território cubano -, falou pela primeira vez a um tribunal sobre as técnicas utilizadas pela Agência Central de Inteligência (CIA) durante os interrogatórios.
Conforme a Associated Press (AP), durante um vídeo da audiência, o paquistanês Majid Khan, de 41 anos, informou ao júri militar que foi torturado por investigadores em instalações clandestinas da CIA, sendo dependurado nu em uma viga do teto, encharcado com água gelada e quase afogado nela, impedido de adormecer, privado de alimentação por vários dias, espancado e vítima de abusos sexuais.
“Pensei que morreria. Eu implorava que parassem e jurava que não sabia de nada. Se eu tivesse informações para dar, já as teria dado, mas não tinha nada para dar”, ressaltou Khan, que admitiu ser um mensageiro da Al-Qaeda e ter participado do planejamento de várias conspirações que não foram executadas. Em 2012 ele se declarou culpado das acusações de conspiração e assistência material à Al Kaeda, concordando em cooperar com a investigação, incluindo contra cinco presos de Guantánamo que foram acusados de fornecer apoio logístico para o ataque de 11 de setembro de 2001.
Um grupo de militares condenou Khan a uma pena de 25 a 40 anos de prisão, de acordo com a agência. No entanto, por ter o acordo com a investigação, o prazo será reduzido para 11 anos e ele receberá crédito por seu tempo sob custódia desde 2012.
Segundo a AP, esta foi a primeira vez que um “prisioneiro particularmente importante” de Guantánamo teve a oportunidade de falar perante o tribunal sobre o sistema do chamado “interrogatório reforçado”.
Representantes de inúmeras entidades internacionais, incluindo especialistas da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa e da Organização das Nações Unidas, apelaram à nova administração dos EUA para fecharem imediatamente Guantánamo devido ao fato de muitos presos serem mantidos sem julgamento e torturados.
Oficialmente, existem neste momento 39 prisioneiros em Guantánamo: 11 deles acusados de crimes de guerra e 28 “privados de liberdade por tempo indeterminado”.
Diante dos crimes praticados no local contra os direitos humanos, a Organização das Nações Unidas (ONU) solicitou já em 2006 o fechamento do local.
Na contramão da indicação, caminharam os governos estadunidenses desde então, e agora o de Joe Biden, que pensa em ampliar as instalações. Uma reportagem da NBC News do final de setembro informou que o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos publicou uma solicitação de contrato para “pelo menos 50” guardas, 10% dos quais deveriam ser fluentes em “espanhol e creole haitiano”, para estarem disponíveis para trabalhar na prisão da ilha caribenha.