A Comissão Política Nacional do PCdoB se reuniu nesta sexta-feira para discutir o cenário político após a vitória da chapa Lula-Alckmin. O encontro é preparatório para a reunião do Comitê Central que acontecerá nos dias 3 e 4 de dezembro.

A presidenta nacional do Partido, Luciana Santos analisou o quadro político que se conforma “após a extraordinária vitória que obtivemos no último dia 30 de outubro”.

Luciana considera a vitória contra o fascismo especialmente importante porque a eleição teve o uso abusivo da máquina pública, com uso extensivo de fakenews, além de coação religiosa e trabalhista. “O comando bolsonarista não mediu esforços para conseguir reverter o quadro da disputa eleitoral. Foram feitas até mudanças na Constituição para a máquina operar até o dia da eleição”, lembra.

Destaca que a eleição foi resultado da força e da liderança do presidente Lula em um amplo movimento político, talvez a maior frente política já constituída no Brasil. E que sem estes dois quesitos seria impossível vencer esta dura batalha.

A presidenta nacional do PCdoB destaca a forte mobilização popular para garantir a vitória da chapa Lula-Alckmin. “Foram comícios e caminhadas gigantescas, como há muito não víamos, e mesmo assim, com tudo isto, mesmo Lula obtendo 60 milhões de votos, a maior votação para Presidente que já existiu, nós vencemos esta eleição por apenas 2 milhões”, afirma.

Esta polarização faz com que o ambiente político após as eleições mereça atenção. “Derrotar eleitoralmente Bolsonaro não significa que derrotamos o fascismo de vez. A extrema direita é uma força real, com capacidade financeira e de mobilização. Estamos quase a um mês das eleições e eles mantem gente nas ruas, nas portas dos quarteis, bloqueios”, analisa.

Luciana chama atenção para o isolamento político do bolsonarismo, consequência da ampla frente construída em torno de Lula e também do papel que o Tribunal Superior Eleitoral jogou e ainda joga para garantir a democracia.

O PL, segundo ela, aparenta estar seguindo um determinado acordo com o presidente Bolsonaro. “Aparenta fazer parte disto o factoide que buscaram criar apresentando uma denúncia da coligação que apoiou Bolsonaro questionando os resultados do segundo turno. “Parece ser mais algo para manter mobilizada a militância em frente aos quarteis do que qualquer outra coisa”, disse.

Lucina Santos analisa que a “rápida e dura decisão do Ministro Alexandre de Moraes contra a ação do PL, congelando recursos do fundo eleitoral até que seja paga uma multa de 22 milhões, fez com que o PP e o Republicanos buscassem se diferenciar, afirmando que reconhecem os resultados das urnas e que não haviam sido consultados. Bolsonaro também foi desaconselhado a questionar a decisão do Ministro Alexandre de Moraes, pelos comandantes das forças armadas”.

O país está acéfalo

Desde que saiu o resultado eleitoral o Brasil está acéfalo. O governo Bolsonaro parou. A postura de Bolsonaro de desaparecer do cenário político por um período tão longo, mesmo exercendo as funções presidenciais, reforça a desmobilização dos ministérios. “Para além de algumas operações de sabotagem econômica, os ministérios têm paralisado suas atividades e agendas. Uma parte das equipes está mais interessada em demonstrar cooperação com a equipe de transição para ver se consegue ficar em algum posto no novo governo”, afirma.

Luciana também critica o chamado mercado, que se cala diante da ausência do presidente, e cobra do eleito que ainda não tomou posse, anúncio de medidas, escolha de nomes, tudo com vistas a influenciar nos rumos da política econômica.

Desafios políticos do novo governo

Os desafios políticos do novo governo não são pequenos. A presidenta do PCdoB informou que “tivemos nesta semana uma excelente conversa com o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin”. E que, nela, “buscamos apresentar nossas preocupações com o processo político de negociação da PEC, e da própria formação da base de apoio ao governo eleito. Ele demonstrou confiança no sucesso do governo, destacou que o importante é fazermos com que a economia esteja ativa. Destacou que existe grande liquidez financeira no mundo e os dois grandes países que podem atrair estes recursos são a Índia e o Brasil”.

Luciana acredita que uma das principais tarefas políticas do momento é articular uma maioria parlamentar no Congresso, fortemente conservador, que permita conduzir o governo sem sobressaltos e com estabilidade na agenda legislativa. “Fazer isto neste ambiente partidário tensionado e cindido é um desafio de grandeza. É necessário construir uma engenharia que permita dar lastro ao governo e que não nos deixe refém de alguns destes atores”.

A equipe de transição e a formação do novo governo

A presidente do PCdoB avalia que o presidente Lula tem acertado ao dar o perfil de Frente Ampla à formação do governo, “o que se expressa na escolha acertada do coordenador da transição, o vice-presidente Geraldo Alckmin, no esforço de atrair para o conselho político da transição partidos como o MDB e o PSD”.

Para ela, o espírito de Frente ampla é o que deve orientar a complexa engenharia da formação do novo governo. “É este espírito que orienta a conformação das equipes de transição, pluralidade de visões, mas com muita convergência sobre como enfrentarmos os problemas do Brasil”.