Imagens divulgadas nesta quarta-feira (22) chocaram o país: corpos são enterrados em valas comuns em Manaus

É grande o sofrimento da população do Amazonas e, especialmente de Manaus e cidades da região metropolitana, onde já aconteceu o temido colapso do sistema de saúde devido à rápida disseminação do novo covonavírus.

As imagens de corpos esperando remoção nos hospitais, ao lado de pacientes internados; os enterros em valas comuns e o acondicionamento de vítimas fatais em containers à espera de um rápido velório, ou nem isso, tem chocado pessoas em todo o país. O presidente do PCdoB no Amazonas, Eron Bezerra, falou ao Portal PCdoB sobre a situação na capital do estado e alertou que há lições a serem aprendidas.

“O quadro é gravíssimo. A taxa de letalidade no estado subiu de 1,5 para 8,5% no mês de abril. E as pessoas estão morrendo em casa ou nas UPAs porque não tem UTI, ou seja, estão morrendo porque não há atendimento adequado”, lamentou o dirigente.

“Manaus é uma cidade-estado e 80% dos casos estão aqui. As medidas são paliativas e ficam subsumidas diante da tragédia”, pontuou.

O balanço divulgado pelo Ministério da Saúde nesta quinta-feira (23) confirma 2888 casos da covid-19 no Amazonas, sendo 234 mortos.

Conforme dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) divulgados pelo portal G1, entre os casos confirmados até esta quinta-feira, 2.286 estão em Manaus (79,1%) e 602 do interior do estado (20,8%). Manacapuru, na região metropolitana, soma 238 doentes. É a cidade com maior número de infectados por milhão de habitantes no país.

Responsabilidades

Na avaliação de Eron, três questões explicam o que ele chamou de “tragédia anunciada” em Manaus.  São problemas que podem ser reconhecidos muitos lugares no Brasil: “Aqui vivemos a privatização disfarçada do setor da Saúde. Desde a década de 1990 o sistema foi entregue às cooperativas. E no atual governo, alegam que não recebem e, por isso, muita gente abandonou o posto”, afirmou.

O segundo ponto, na opinião de Eron, está relacionado com a falta de compromisso com o isolamento social. “Este descompromisso é motivado pela elevada taxa de eleitores bolsonaristas em Manaus. Aqui ele teve 70% de votos. E também há implícita simpatia do governo local a tais descalabros. Só recentemente o prefeito tem tentado tomar alguma providência contra o ‘liberou geral’”, denunciou.

“Por fim, temos a incompetência gerencial escancarada, que ao invés de providências, tenta explicar o caos pelos escândalos de corrupção no setor durante o governo José Melo (cassado em 2017)”, enumerou o dirigente.

Solidariedade

“A prefeitura de Manaus estima que próximo de 40% dos óbitos estão ocorrendo nas residências, sem qualquer apoio médico. Diante dessa calamidade, nossa atitude, via os movimentos sociais, é de criar uma rede de solidariedade, mobilizando alimento básico e até apoio psicológico aos casos mais críticos”, destacou.

Além disso, contudo, é preciso pensar na ação do estado. “A primeira lição é que quando a estupidez do estado mínimo se soma à corrupção e a incompetência gerencial, o caos é certo. O governador foi eleito com a bandeira da anti-política e do bolsonarismo. Não tinha como dar certo”, aponta.

Eron defende que sejam tomadas medidas como colocar todo o sistema de saúde, público e privado, sob controle do estado; escolher gestores eficientes; equipar o sistema e ampliar a rede de proteção social. “O estado tem boa saúde financeira e Manaus tem a Zona Franca de Manaus”, assinala.

Além disso, em consonância com as autoridades mundiais de saúde, o dirigente defende a urgência de manter as pessoas em casa.

“É preciso ampliar a reclusão social e para evitar o caos econômico a solução é linha de crédito através da agência de fomento, uma bolsa para quem não pode trabalhar. Fonte? Além do caixa público, da eventual antecipação de receita, é imperioso que se questione: o que fez, até agora, o polo industrial da zona franca de Manaus e suas centenas de indústrias?”, defendeu.

“A lição que fica é que é preciso mais estado, mais competência, mais compromisso com o povo e menos “estado mínimo” e antipolítica”, afirmou.