O presidente do Irã, Hassan Rouhani, rechaçou a conclamação do primeiro-ministro inglês, Boris Johnson, para que o acordo nuclear com o Irã (JCPOA, na sigla em inglês) fosse “substituído por um ‘acordo de Trump’”.
“Eu me pergunto o que o primeiro-ministro britânico pensa quando diz que vamos abandonar o JCPOA e colocar o plano de Trump em ação”, disse Rouhani. “Trump não fez nada além de violar o acordo e violar as regras e regulamentos internacionais”, advertiu.
O louro Boris, que parece querer ocupar no coração de Trump o papel que coube a Tony Blair em relação a W. Bush, o de poodle, disse sobre o acordo nuclear que “se vamos nos livrar dele, precisamos de uma substituição”.
Sem se conter, proclamou que “o presidente Trump é um grande negociador, por sua própria conta. Vamos trabalhar juntos para substituir o JCPOA e conseguir o acordo de Trump”.
Ao repelir a estranha oferta, Rouhani admoestou o primeiro-ministro inglês para “não dar o passo errado, ou será em seu prejuízo”. “Escolha o caminho certo, que é voltar ao acordo nuclear”, assinalou.
O acordo nuclear, em vigor desde 2015, vinha
O acordo nuclear, em vigor desde 2015, vinha sendo estritamente cumprido pelo Irã, como atestou a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), até ser rasgado por Trump em maio de 2018, por ser um “acordo péssimo de Obama”, o que foi acompanhado pela reimposição de sanções drásticas, equivalentes a um cerco medieval, e violação da resolução do Conselho de Segurança da ONU, que o consagrou.
Também o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, rejeitou a mais recente asnice de lavra de Johnson. “Não assinamos um “acordo de Obama” para assinar um “acordo de Trump” agora. Mesmo se fosse o caso, quem dirá que não precisaremos de acordos de Biden, Sanders ou Warren no próximo ano?”, tuitou Zarif, referindo-se aos pré-candidatos que disputam com Trump na corrida presidencial de 2020.
Ele acrescentou que o Irã acreditava na diplomacia “mas não na renegociação de uma resolução do CS da ONU que concordamos com 6 governos e a UE”.
Ao participar de uma reunião em Nova Delhi, na Índia, Zarif lembrou que “Tínhamos um acordo nos EUA e os EUA o quebraram. Se tivermos um acordo com Trump, quanto tempo vai durar, mais 10 meses?”.
Em Moscou, o vice-ministro das Relações Exteriores, Sergei Ryabkov, afirmou que a Rússia não vê a necessidade de incluir o programa de mísseis no acordo nuclear iraniano.
“Em nenhum caso”, assinalou o diplomata, apontando que “o Irã tem todo o direito de desenvolver um programa de mísseis para garantir sua própria segurança, é um direito incontestável da República Islâmica”. .
O vice-chanceler enfatizou que “não podemos sequer falar sobre a possibilidade de introduzir alguns elementos adicionais no pacto nuclear ainda existente”.
O diplomata russo também advertiu que a declaração europeia do acionamento do chamado mecanismo de disputas colocava o acordo nuclear “simplesmente sob ameaça de colapso definitivo” .
A chancelaria russa alertou sobre as “medidas irracionais” dos signatários europeus, a quem pediu que “não aumentem a tensão e desistam de tomar medidas que ponham em dúvida as perspectivas do acordo nuclear, que continua relevante”.
Conforme o Washington Post, o que explica tais medidas foi a chantagem de Trump para que os europeus acionassem o mecanismo, para encurralar o Irã, ou os EUA imporiam sobretaxa de 25% nos carros europeus importados, levando as montadoras europeias à crise aberta.
Por sua vez a China também questionou a ativação do mecanismo de solução de controvérsias. “Acreditamos que essa medida não favorecerá a solução do problema ou a diminuição da tensão”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang. “A origem do problema”, enfatizou, foi que o Irã foi forçado a cortar seus compromissos devido à saída unilateral dos Estados Unidos do acordo em maio de 2018, impedindo que outros países signatários cumprissem o acordo.
O novo chefe da diplomacia europeia, o espanhol Josep Borrell, reiterou a importância de preservar o acordo nuclear com o Irã, ainda mais à luz da crise em curso no Oriente Médio. O acordo, salientou, “é uma conquista significativa da diplomacia multilateral sustentada após anos de negociações. À luz das contínuas e perigosas escaladas de tensão no Oriente Médio, preservá-lo é agora mais importante do que nunca”.