Presidente do Cofecon alerta que juros altos prejudicam a indústria
A elevação dos juros pode agravar ainda mais o cenário de recessão e de desemprego. A opinião é do presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, para o qual a taxa irá impactar negativamente na indústria, que é o motor do crescimento, da geração de emprego e renda e da arrecadação de impostos.
“A elevação de juros em um momento em que há uma economia em estagnação traz o risco de uma recessão. E a estagnação da indústria no Brasil já é bastante longa. Não é um problema novo, mas a situação se agrava muito com a alta dos juros”, alertou o presidente do Cofecon, em entrevista ao JP News. “Uma coisa é a taxa de juros básica, que já está elevada. Mas outra, é que há uma distância enorme entre uma e outra, é a taxa ao tomador final – o custo do capital de giro que as empresas, inclusive pequenas e médias, utilizam para suas atividades, para fazer a folha de pagamento, quitar dívidas com fornecedores ou comprar matéria-prima”, acrescentou.
Para o presidente do Cofecon, a centralização da gestão das políticas industriais em uma única Pasta também dificulta o desenvolvimento industrial do país. “Não temos política industrial no Brasil. Sob o argumento de uma pretensa simplificação e redução de custos, extinguiu-se o Ministério da Indústria e Comércio, assim como o do Planejamento, colocando tudo no Ministério da Economia. Mas ele tem sido insuficiente para operar todas as questões envolvendo indústria”, criticou o economista. “A indústria passa por problemas estruturais muito sérios. Há uma grande transformação mundial nessa área, com a nanotecnologia, o 5G, a chamada indústria 4.0, uma transformação para a economia digital e para a economia verde. Num cenário de mudanças, com tantos problemas domésticos, é uma grande contradição não ter no Poder Executivo órgãos e profissionais que se dediquem a este assunto”, lamentou.
O economista também fez ressalvas à sinalização pelo governo de adotar em ano eleitoral uma redução entre 15% e 30% no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), medida que teria efeito somente no curto-prazo. A proposta trata-se de se fazer um corte linear, atingindo todas as áreas, exceto cigarros e bebidas alcoólicas – e que tem a oposição de governadores, já que metade da arrecadação do IPI vai para os estados. Ele destacou a importância de que seja feita também a discussão acerca da tributação sobre lucros e dividendos, herança, renda e patrimônio.
“O problema é que nos tornamos reféns de medidas paliativas, que são tomadas nas horas de emergência para socorrer A ou B, mas que fogem do tema central que é a reforma tributária”, explicou. “Precisamos enfrentar o desafio da reforma tributária, ampla e geral. Não é fácil, envolve uma questão de economia política, porque vai mexer com interesses de vários segmentos. Sem resolver este nó, não daremos fôlego ao setor produtivo, à geração de emprego e renda e à própria arrecadação tributária – lembrando que é via arrecadação que o Estado pode implementar seus programas sociais, de emprego e de investimentos, e hoje o investimento público está no menor nível da nossa história”, ressaltou.
Com informações do Portal do Cofecon