Presidente Díaz-Canel: “Cuba é todos e nunca será uma terra de ódio”
“Cuba nunca será uma terra de ódio”, afirmou o presidente Miguel Díaz-Canel, no ato em Havana com 100 mil pessoas contra o que alguém já chamou de “baía [dos Porcos] dos tuítes” do último dia 11. “Ratificamos que Cuba é de todos!”, enfatizou o presidente, após destacar que “o ódio foi instigado por aqueles que apertaram o pescoço da nação cubana por 60 anos para fazê-la explodir e agora querem se apresentar como nossos salvadores”.
“Só o amor transforma o barro em milagre/ Só o amor ilumina o que dura”, cantamos mil vezes com o artista de Martí, Silvio [Rodríguez]”, acrescentou. “Viva Cuba soberana, independente e socialista!”
O presidente chamou a buscar “as raízes da violência que se esforça para emergir diante das carências, e que cumpramos o trabalho pendente para fazer o gene dos bravos, dos honestos, dos justos, dos ilustres, das crianças felizes desta terra cubana predominar como herança”, sob aplausos e gritos de “Abaixo o bloqueio!” e “Abaixo a agressão imperialista!”.
“Cessem as mentiras, a infâmia e o ódio”, destacou, conclamando a uma “Cuba de amor, de paz, de unidade e solidariedade!”, “Cuba de todos os cubanos que, onde quer que estejam, trabalham para vê-la avançar com as próprias pernas e os próprios braços para um destino possível de prosperidade!”
No domingo, outros atos em diversos pontos da Ilha reiteraram o compromisso com a revolução, o socialismo e a soberania. Nesse período, países amigos – como México, Rússia, China, Vietnã, Irã e Argentina – condenaram as tentativas de ingerência externa em Cuba.
Um momento chave nos acontecimentos de 11 de julho foi quando o presidente Díaz-Canel foi até San Antonio de los Baños dialogar com a população por volta das 14 horas, na pequena cidade que era palco de protestos desde 11 horas da manhã, num quadro de agravamento da pandemia, desabastecimento e apagões, sob as sanções agravadas dos EUA.
O presidente escutou as reclamações, deu explicações e chamou à concórdia entre cubanos.
Retificação
Como ele disse depois em Havana, “nada do que hoje denunciamos [sobre a provocação desde Miami] nos afasta da necessária autocrítica, da retificação pendente, da revisão profunda de nossos métodos e estilos de trabalho que emperram a vontade de servir ao povo, pela burocracia, pelos obstáculos e a insensibilidade de alguns que tanto doem”.
“Hoje venho reiterar o compromisso de trabalhar e exigir o cumprimento do programa que nos demos como Governo e como povo, revisto à luz dos possíveis erros destes anos de intensa pressão, em particular dos dois últimos”.
Díaz-Canel chamou, ainda, a “articular os diálogos pendentes, resgatando o trabalho social, promovendo maior atenção aos setores vulneráveis, aos bairros, amparados pela experiência de trabalho que o Comandante em Chefe nos deixou, em anos tão desafiadores quanto estes”.
Outro aspecto notável da ação da liderança cubana diante do embate foi que não se viu nada nem de perto parecido com o que ocorreu durante meses no Chile, na Colômbia ou no Haiti, violenta repressão, com um grande número de feridos ou mortos. Ou mesmo num país como a França, em que o governo mandou bater sem dó nem piedade nos ‘coletes amarelos’ durante um ano inteiro.
Como Díaz-Canel explicou, vão ser contadas “muitas histórias pessoais sobre a reação popular ao ataque e assédio, de quanto as forças da ordem tiveram que se conter por causa do cuidado que delas é exigido para evitar excessos”.
Mesmo com toda essa contenção, foi preciso prender os black blocks: 44 lojas depredadas e saqueadas. Carros de polícia virados e arrebentados. “Quem não ficou chocado ao saber que vândalos da pior espécie apedrejarem a enfermaria infantil do hospital Cárdenas, obrigando crianças e mães a se refugiarem nos banheiros ou sob as camas da instituição?”, indagou o presidente cubano.
Díaz-Canel alertou os provocadores a “não se iludirem”: “a maioria das pessoas, as mesmas pessoas oprimidas e irritadas pelas deficiências que uma melhor gestão governamental nos exige, pedem também que acabemos com a violência”.
Cestas básicas para autônomos
Nesse sentido, o governo cubano anunciou mais 200 mil cestas básicas mensalmente, que serão concedidas em razão da Covid, que têm como alvo ajudar principalmente trabalhadores autônomos que ficaram em situação difícil diante da paralisia do turismo por causa da pandemia.
Outra medida emergencial foi a liberação da importação sem taxas aduaneiras de medicamentos, artigos de higiene e alimentos industrializados trazidos por quem desembarcar em Cuba, até o final do ano.
Em relação aos apagões, causados essencialmente pelo agravamento do bloqueio, que dificultou a chegada do petróleo para as termoelétricas, algumas medidas avançaram, como a interligação da unidade de Santa Clara com a grade nacional, realizada em tempo recorde.
A solidariedade a quem presta tanta solidariedade, quanto Cuba – perguntem aos italianos -, também comparece com a sua parte. O governo do México anunciou o envio de 800 mil seringas para o programa de vacinação cubano, com a Abdala e a Soberana. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) irá enviar 12 milhões de itens para o enfrentamento da Covid, entre máscaras faciais, testes e outros quesitos.
Ditadura dos algoritimos
“Nada de bom se constrói com o ódio. O ódio nos rouba tempo para amar e até mesmo amar a si mesmo, se o permitirmos como uma reação ao ódio que nos afeta negativamente”, afirmou Díaz-Canel, após se referir aos “dias que temos vivido de ódio transbordante nas redes sociais”.
“Os donos dessas redes, os ditadores de seus algoritmos, como bem denuncia um documentário recente, abriram ao ódio, sem o menor controle ético, as comportas de suas poderosas plataformas”.
“É um ódio que fratura família, amigos, sociedade e ameaça levar muitos de nossos valores para o canto dos inúteis. O bombardeio de imagens carregadas de violência, sangue, protestos, gritos, vandalismo, ameaças, assédio e repressão não teve pausa nos últimos seis dias”, denunciou.
Díaz-Canel denunciou, ainda, as imagens falsas usadas em profusão e a glorificação dos ataques e do assédio ameaçador aos cidadãos e famílias, buscando impor a mentira de ‘todo um povo que se levanta contra o governo e a de um governo que reprime seu povo’.
Não é incomum – apontou – que “alguns duvidem e se expressem supondo uma separação [povo-governo] que não existe. Eu não julgo, eu não condeno. Eu entendo que as armas do adversário são avassaladoras, mas ao lado do povo, com o povo e para o povo, a Revolução continua!” [Brados de ‘Abaixo os ianques!’].
Flórida
“Nas semanas anteriores, uma intensa operação de comunicação política foi desenvolvida por uma grande plataforma de intoxicação da mídia, financiada pelo governo dos Estados Unidos e pela máquina política da Flórida”, sublinhou o presidente cubano.
“Seu objetivo era estimular a inquietação e a instabilidade no país, aproveitando as difíceis condições causadas pela pandemia, a intensificação do bloqueio e as 243 medidas do governo Trump”.
Foram “atos de guerra não convencional, que incluíam convocações para rebeliões sociais, violência, agressão contra policiais, vandalismo e sabotagem. Utilizaram sistemas de inteligência artificial e Big Data, robôs e atos de ciberterrorismo para promover a fabricação artesanal e o uso de armas ou elementos incendiários, ações integradas de assédio, chantagem ou financiamento de líderes digitais ou influenciadores internacionais”, acrescentou.
Em entrevista à Telesur, o presidente esmiuçou como os “anexionistas” manipularam setores confusos e/ou descontentes, e como atraíram delinquentes comuns para suas ações.
Díaz-Canel assinalou o “caminho da infâmia” contra Cuba. “Primeiro foram convocados os protestos, depois foi construído um falso relato dos acontecimentos para gerar reações emocionais de solidariedade com os manifestantes, seguidos pelas ações de vandalismo que ocorreram horas antes de nossa improvisada aparição na televisão quando voltávamos de San Antonio de los Baños”.
Até às 16h30, horário aproximado do discurso de Díaz-Canel chamando os patriotas às ruas em defesa da constituição socialista de Cuba, já haviam ocorrido 30 depredações e/ou pilhagens de lojas estatais, em que foram roubados desde aparelhos de ar condicionado até latinhas de cerveja. Depois desse horário, houve 19 outros ataques desse tipo.
Presidente em interlocução com o povo em San Antonio de los Baños (Alexandre Meneghini-Reuters)
Como assinalou Díaz-Canel, “podemos com as chamadas notícias falsas mostrar como toda a falsa realidade de Cuba foi fabricada em cenários virtuais”, o que considerou “um dano incomensurável à alma nacional, que tem entre seus valores mais sagrados tranquilidade cidadã, convivência, solidariedade e unidade”.
“Estamos sob o fogo sofisticado de uma guerra cibernética que inclui terrorismo cibernético e terrorismo de mídia em suas ferramentas agressivas”.
Sobre essa questão, o presidente acrescentou que as denúncias do chanceler cubano na terça-feira passada não foram respondidas. “Não houve tentativa de resposta por parte das autoridades do governo republicano da Flórida quanto aos recursos destinados a esses projetos, com os quais pretendem atacar o país e, ao mesmo tempo, desarmá-lo de seus possíveis meios de defesa”.
Mesmo sob as declarações inamistosas do presidente norte-americano Joe Biden sobre Cuba, o presidente Díaz-Canel não se afastou um milímetro do esforço para isolar e acelerar a revogação das 243 sanções de Trump, que agravaram enormemente a situação do povo cubano, ao dificultar ao máximo a entrada de divisas, suprimentos e petróleo em plena pandemia. Asfixia que Biden vem continuando há seis meses.
“Aí está, à espreita, a ala dura do Congresso norte-americano afiando seus dentes e exigindo que seus adversários políticos do atual governo ajam agora contra Cuba, convoquem o Conselho de Segurança e considerem isso um ato hostil e uma ameaça para a sacrossanta Segurança nacional do império qualquer tentativa de emigração maciça para a sua costa”.
Emigração que, não resta dúvida, tentam desencadear. Como enfatizou o líder cubano, “nada disso é novo. Eles tentaram outras vezes. É a sua maneira de colocar a administração adversária nas cordas, e tentar fazê-la cumprir o propósito nunca alcançado de apagar do mapa o mau exemplo desta pequena Ilha, determinada a permanecer soberana e independente quando tantos se curvam às suas ordens”.
Recentemente, Díaz-Canel disse que se houvesse vontade de “ajudar humanitariamente” ao povo cubano, bastaria Biden revogar as 243 sanções impostas por Trump. A revogação das “sanções da era Trump” também foi pedida por deputados democratas progressistas e pelo senador Bernie Sanders.
“Nenhuma mentira foi levantada por acaso ou engano. Tudo é calculado friamente de acordo com o manual da guerra não convencional. Não estamos especulando. Alguns falam para outros falarem mais tarde. O imprestável da OEA já falou, o ministério das colônias ao qual temos a honra de não pertencer”.
Vacina Abdalla
Em meio a tudo isso, veio a calhar a notícia de que teste da vacina cubana Abdalla de fase III, com 153 pacientes, apresentou 100% de eficácia na prevenção de sintomas graves ou morte pelo coronavírus.
Ao mesmo tempo, há uma situação sanitária tensa, já que as novas variantes conseguiram suplantar o controle mantido por Cuba no ano passado – mas nem de perto lembra o que atingiu Manaus, ou o Equador. Cuba, com 11,3 milhões de habitantes, tem 1.996 mortos pela Covid-19 desde o início da pandemia.
Nos últimos dez dias, o quadro se agravou, com mais de seis mil casos de infecção e cerca de 60 mortos diariamente, complicado pelos apagões e crise aberta nos leitos hospitalares da província de Matanzas.
Ainda assim, como registrou a presidente da Comissão de Relações Exteriores da Assembleia Nacional de Cuba, Yolanda Ferrer, em seu pior momento na pandemia Cuba está em 19º lugar em casos de infecção nas Américas. Sua taxa de mortalidade é uma das mais baixas do planeta: 0,66% ante 2,15% de média global e 2,61% nas Américas.
Até à data, segundo dados oficiais, foram administradas 8,1 milhões de doses dos imunizantes anti-Covid-19 e mais de dois milhões de pessoas receberam as três injeções do esquema de vacinação adotado.
Jogando pesado para afetar a alta estima cubana sobre seu sistema de saúde e criar um pretexto para a intervenção, a máfia de Miami alardeou, sob o slogan de ‘SOSCuba’, a imposição a Cuba de uma ‘intervenção humanitária’, um ‘corredor humanitário’, aliás, repetindo Guaidó.
Unidade
Díaz-Canel manifestou sua convicção pelo futuro de Cuba. “Só podemos ter mais se criarmos mais. Alcançaremos o que nos propusemos ao impulsionar o trabalho juntos. À frente temos o imenso exemplo da ciência cubana, que propôs e alcançou em tempo recorde e quase sem recursos duas vacinas e outras vacinas candidatas que nos permitem enfrentar o futuro com esperanças que outros povos não têm”.
“Se temos sido capazes de fazer algo tão colossal e difícil, o que não seremos capazes em outras áreas?”
“E, sobretudo, quanto mais poderemos se articularmos os diálogos pendentes, resgatando o trabalho social, promovendo maior atenção aos setores vulneráveis, aos bairros, amparados pela experiência de trabalho que o Comandante em Chefe nos deixou, em anos tão desafiadores quanto estes”, vislumbrou Díaz-Canel.