Sérgio Camargo, colocado por Bolsonaro na presidência da Fundação Cultural Palmares (FCP), voltou a desqualificar o movimento negro no Brasil. Em uma reunião no final de abril, ele classificou o movimento como “escória maldita”, que abriga “vagabundos”. O áudio da reunião foi divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo.
Camargo se reuniu com servidores da fundação para tratar sobre desaparecimento do seu celular corporativo. Uma dessas pessoas chegou questionar o chefe da autarquia sobre quem poderia ter pego o aparelho, que respondeu: “Qualquer um. Eu exonerei três diretores nossos assim que voltei. Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadindo esse prédio aqui pra me espancar. Quem poderia ter feito isso? Invadindo com a ajuda de funcionários daqui. O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”.
Entre palavrões, o discípulo de Olavo de Carvalho, o astrólogo guru de Bolsonaro, aproveitou para promover a perseguição daqueles que divergem de seus posicionamentos dentro da Fundação Palmares.
“Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”, afirmou.
O presidente da Fundação Palmares ainda disse que o processo para tirá-lo do comando da autarquia “não vai dar em nada” porque teria havido “usurpação” do poder do presidente Jair Bolsonaro.
No mês passado, o Ministério Público Federal (MPF) encaminhou representação à Procuradoria-Geral da República no Distrito Federal, pedindo que o presidente da Fundação Palmares responda na Justiça por improbidade administrativa, o que o tiraria do cargo.
A ação do MP foi motivada pela decisão de Camargo de determinar, no 13 de Maio – dia que a Abolição da Escravatura completou 132 anos –, a publicação de uma série de artigos difamando Zumbi dos Palmares, símbolo do movimento negro no Brasil, que dá nome à instituição, no site oficial da FCP e nas redes sociais.
No áudio, usando a “liberdade de expressão” como argumento para sustentar suas declarações, Camargo mais uma vez atacou Zumbi dos Palmares. “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda da consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra. Quando cheguei aqui, tinham eventos até no Amapá, tinha show de pagode no dia da consciência negra”, esbravejou.
O protegido de Bolsonaro e de Roberto Alvim (aquele secretário de Cultura que saiu porque imitou o propagandista do nazismo Joseph Goebbels) também não poupou xingamentos e comentários preconceituosos sobre religiões de matrizes africanas.
Em determinado momento da reunião, Camargo afirmou que não iria ceder verba para terreiros. “Tem gente vazando informação aqui para a mídia, vazando para uma mãe de santo, uma filha da puta de uma macumbeira, uma tal de Mãe Baiana, que ficava aqui infernizando a vida de todo mundo”, disse ele se referindo a Adna dos Santos uma das lideranças mais atuantes do candomblé no Distrito Federal. Ele ainda declarou que não irá aceitar emendas para “promover capoeira”.
A gravação foi encaminhada à Procuradoria-Geral da República no Distrito Federal.
Na segunda-feira (1º), no Twitter, ele menosprezou os movimentos que tomam conta do País, na esteira dos Estados Unidos, contra o racismo.
“Nosso inútil movimento negro tenta importar para o Brasil os atos anarquistas e criminosos do Black Lives Matter, a antifa negra dos EUA. Ao divulgar post que incita negros a promover um “levante”, a jornalista torna-se responsável por eventuais depredações, mortos e feridos”, afirmou Sergio Camargo, referindo-se a um post da jornalista e colunista de O Globo, Flávia Oliveira (ver abaixo).
Ainda desqualificando as manifestações antirracistas nos EUA, Sérgio Camargo criou uma teoria da conspiração. “A vida de ninguém importa em razão da taxa de melanina. “Black Lives Matter” é instrumento da esquerda para bestializar negros. Todos que militam por esta “causa” são bucha de canhão para atos anarquistas e criminosos, como vemos nos EUA. É a antifa dos pretos vitimistas”.
Em nota divulgada na terça-feira (2), Camargo disse que a gravação da reunião de 30 de abril foi “ilegal”. Afirmou, também, que a Fundação Palmares está em “sintonia” com o governo Bolsonaro, sob novo modelo de comando, voltado para a população (…) “e não apenas para determinados grupos que, ao se autointitularem, representantes de toda população negra, histórica e deliberadamente se beneficiaram do dinheiro público”.