Presidenta da Ubes condena menor e mais branco Enem da história
A presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Rozana Barroso, deixou sem reação o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Danilo Dupas, em audiência na Comissão de Educação da Câmara dos Deputados nesta quarta-feira (10).
Elogiada por sua intervenção, Rozana Barroso deixou às claras a política de destruição da educação brasileira pelo governo Bolsonaro, que acha que o ensino superior é o local apenas de quem nasce no berço da elite.
Numa fala direta para Danilo Dupas, que não soube explicar as 37 demissões no Inep que colocam em risco a realização do Enem este mês, a secundarista chamou o dirigente e o ministro da Educação, Milton Ribeiro, de irresponsáveis pela condução da política educacional e por ignorarem um pedido de audiência para tratar do assunto há mais de 300 dias.
Reclamou do baixo número de inscritos e da ausência dos indígenas e jovens negros da periferia. São pouco mais de 4 milhões de inscritos para um exame que já teve, em 2014, 8,7 milhões de participantes.
Não fosse a decisão unânime do Supremo Tribunal Federal (STF), em setembro passado, a situação seria ainda pior. Eram 3 milhões de inscritos, mas a Corte determinou a reabertura do prazo para o pedido de isenção da taxa de inscrição para estudantes de baixa renda.
“Não tem como seu presidente do Inep ter tranquilidade quando nós temos um Enem com o menor números de inscritos em 13 anos. Não tem como ter tranquilidade quando esse Enem é chamado de o mais branco da história, exatamente os jovens estudantes negros da periferia e indígenas não se inscreveram para esse exame (…) Não tem como ter tranquilidade com uma demissão em massa que pode colocar em xeque a nossa ingressão no ensino superior”, disse a estudante.
Além disso, falou sobre o pedido de audiência para tratar de assuntos importantes como a educação na pandemia e a realização do Enem. Afinal, na presidência da Ubes, entidade de 73 anos, representa mais de 40 milhões de estudantes da educação básica.
Rozana afirmou que a irresponsabilidade deixa uma cicatriz histórica no Brasil, pois vai demorar muito tempo para voltar atrás e buscar esses jovens que ficarão de fora do Enem. E também acusou o MEC de não garantir acesso à educação de qualidade em tempos de pandemia.
“Os estudantes clamam para que sejam ouvidos. Nós não aguentamos mais. Nossa hashtag no momento é defenda o Enem. Chega de desmonte por que nós queremos ingressar no ensino superior, mas infelizmente a falta de diálogo e irresponsabilidade têm colocado em xeque o presente e o futuro de muitos jovens brasileiros. Escutem os estudantes”, cobrou.
“A educação salvou a minha vida, senhor presidente do Inep. E quantas milhões de vidas de jovens da periferia e negros, como eu, nós vamos deixar de salvar nesse momento?”, indagou.
Repercussão
A fala da presidente da Ubes e a falta de objetividade do presidente do Inpe foram assuntos que repercutiram no parlamento. “ATENÇÃO!!! Vejam o sabão que a querida @RozanaBarroso, presidenta da @ubesoficial, passou no presidente do Inep. Esse deveria aproveitar a debandada e pedir o boné. Orgulho da nossa juventude politizada e mobilizada por seus direitos! #DefendaOEnem”, escreveu no Twitter o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).
Assim como a presidente da Ubes, a deputada federal Professora Marcivânia (PCdoB-AP) cobrou esclarecimentos do presidente do Inep sobre as demissões, mas não obteve respostas. “Mais uma evidência do desmonte e descaso com a educação. Esse cenário ilustra o descaso e uma ingerência que pode custar caro para a educação de forma geral e ainda mais neste contexto às vésperas do Enem, que poderá ser grandemente afetado e trazer consequências a todo o processo seletivo que é responsável pelo ingresso de grande parte dos acadêmicos no ensino superior. Desrespeito, descaso e o desmonte orquestrado de instituições importantes como o Inep ilustram um cenário preocupante para o futuro do ensino público no Brasil”, criticou a deputada.
A deputada federal Alice Portugal (PCdoB-BA), diz que o ministro da Educação precisa prestar os devidos esclarecimentos sobre a crise instalada em sua pasta e sobre os riscos que pairam sobre a realização do Enem, devido a saída dos servidores do Inep, orgão responsável pelo exame.
“Principal porta de entrada nas universidades, o Enem segue ameaçado pela falta de comando do MEC. É o governo do desmonte, da falta de investimento e de responsabilidade com a educação brasileira”, protestou o deputado federal Daniel Almeida (PCdoB-BA).